19° capítulo.

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Coloquei o mesmo vestidinho verde e as mesmas gladiadoras que ganhei de Lena, mas, mudando, eu havia feito um coque bagunçado e fui direto para a escadaria do castelo. 
 Ao chegar, as meninas já estavam lá, já estava escurecendo, me posicionei ao lado delas e vimos surgindo, junto com uma multidão, os "novos heróis de Tróia". Os meninos chegaram, fizeram uma reverência, ao qual retribuímos. Aquiles abraçou e beijou sua amada Briseis e Pat deu um abraço nela, depois um por um beijaram nossas mãos. Entramos todos e nos sentamos na sala, no mesmo lugar de antes.
 -E como foi a batalha? -Andrômaca se mostrou preocupada.
 -Foi até que tranquila, no primeiro avanço dos troianos os gregos já quiseram correr! -Ulisses contava animado.- É que vocês não viram os meninos, Pat melhorou muito, está com a defesa BEM melhor -ele deu um gole no vinho.
 -Obrigada amigo, -Pat agradeceu, olhou para mim, deu um sorrisinho falso e voltou a olhar para Ulisses.- Tem gente que acha que é boa em tudo, mas nunca nem sentiu na pele como é lutar sobre pressão, mas tudo bem, não as culpo por estarem se achando -olhei para ele e ele me olhou com deboche. 
 -E não é… -me levantei, também com um sorriso falso.- obrigada pelas doces palavras Pátroclo, só não precisava ser indireto, pode falar francamente comigo -ele tentou falar algo, mas continuei.- Embora você não acredite, estou feliz que você tenha voltado, que todos vocês tenham voltado, eu não queria que nada de ruim os acontecesse -lhes sorri, Pat pareceu refletir com isso.- Bem gente, eu vou dar uma voltinha por aí para pensar um pouquinho, com licença… 
 Quando passei perto de Pat não sei o que aconteceu, senti uma dor forte no pescoço, senti vontade de chorar de tão ruim que era, levei as mãos até o local e me senti tonta, por fim, apoiei-me no corrimão da escada e escutei alguém:
 -O que foi Safira? -Todos se levantaram rapidamente e foram em minha direção, Aquiles foi o primeiro que chegou.
 -Na… não se… sei -minha voz falhava.
 -Ah não! -Andrômaca deixou escapar.- Coloquem ela aqui no sofá, depressa! -Ordenou.
 Aquiles me pegou no colo, nem me passou pela cabeça revidar, estava me sentindo muito fraca. Fui colocada no sofá e colocaram duas almofadas em meu pescoço, para apoiar. Andrômaca chegou com o "meu" livro em mãos e o folheou rapidamente, minha visão começou a embaçar e passei a ver só Andrômaca e Aquiles que estavam mais pertos de mim. 
 -Eu já sei o que é isso… Pátroclo, vá até a cozinha e traga água -acho que Pat estava perto de mim, porém não conseguia o ver.
 Ouvi passos apressados em direção á cozinha e, a medida que os passos se distanciaram, ia me sentindo melhor. Quando minha visão melhorou, sentei-me com cuidado.
 -O que foi isso? -Perguntei, minha voz já estava melhor e todos estavam ao meu redor.
 -Não tenho certeza, mas parece que foi Pátroclo… -Andrômaca se sentou ao meu lado.
 -Por quê, Pátroclo? -Passei a mão outra vez no meu pescoço, senti uma leve dor.
 -Você sentiu dor no pescoço, na garganta, certo? -Ela nem precisou falar mais nada, eu já havia entendido tudo.
 -Ele levou um golpe no pescoço e, isso, é mais um truque do livro, não é?
 -Sim, -Andrômaca sabia do quê falava.- vocês não poderão ficar muito perto, pelo menos, por hoje.
 -Duvido que ele queira ficar perto de mim, -ri ironicamente.- nem hoje e nem nunca. 
 -Ele é assim Safira, mas no fundo, gosta de você, é porque ele não te conhece direito, ainda -Aquiles se manifestou, foi aí que notei que ele acariciava meus cabelos, me levantei de vez o forçando a parar.

 -Eu sei que não é bem assim Aquiles, sei que ele me detesta e mais, quer saber?-comecei a andar de um lado para o outro.- Eu não o julgo, desde que eu cheguei aqui, só tenho o tratado mal, eu confesso, mas ele também não tem sido muito gentil comigo… ele nem olha para mim e, quando o faz, é só para debochar ou me xingar -olhei para Aquiles como se fosse um amigo com o qual eu desabafava.- Você está me entendendo? 
 -Sim Safira, mas ele não te odeia, pelo menos, é o que eu acho -ele me olhou meio confuso.
 -Viu! -O olhei meio triste.- Eu vou descansar um pouco… -abaixei a cabeça e saí.
 Fui apoiando no corrimão da escada e nas paredes até que, enfim, cheguei ao meu quarto. Nem sei o que aconteceu em seguida, só lembro que deitei na cama e apaguei. 
 Tive um sonho tão bom nos meus vinte minutos de descanso… Eu já era adulta, estava em minha casa, tinha meu emprego como jornalista e eu tinha até um programa na televisão. Que sonho...
Quando eu acordei, percebi que estava sorrindo, parecia até uma boba, então fui tomar banho. Meu cabelo continuava loiro toda vez que eu o molhava, meu pescoço agora estava vermelho e, acho que ia ficar assim o resto do dia.
 Coloquei meu vestidinho azul florido, meu chinelão mesmo (risos) e, enrolei meu cabelo na toalha até secar, não demorou muito e logo mais desci. 
 Eu ia andando pelo corredor, naquele ambiente de terror, e ele não parecia acabar, por fim, cheguei às escadas e passei correndo até a sala de jantar (já mencionei que sou muito medrosa?).
 Ao chegar, cansada de tanto correr, a δείπνο (deípno/ janta) já estava servida e todos já estavam postos á mesa, ninguém conversava, tudo naquele mesmo silêncio. A minha cadeira ficava em frente a de Pat então, para evitar a fadiga, peguei umas batatas assadas, coloquei num prato rapidamente e fiquei escorada na parede, todos me olharam, acho que minhas bochechas até ficaram rosa.
 -Pode se sentar Safira, eu saio… -Pat começou a se levantar e me deu um sorriso forçado. 
 -Não, não se incomode, -fiz sinal para ele parar.- eu vou comer na biblioteca, quero pesquisar umas coisas -ele voltou a se sentar e, me custou um pouco mas, falei:- obrigada Pátroclo.
 Saí com minhas batatas meio tensa de lá, não sei o por quê, mas fiquei nervosa. Fui direito para a biblioteca, fechei a porta (não com chave) e me sentei no sofá. Fiquei comendo e observando o movimento de Tróia da janela, era até bonito de ver as pessoas passando, nenhum farol de carro, nenhuma fumacinha de poluição nem buzinas furiosas de carros. Quando acabei minhas batatinhas, retornei à sala de jantar, agora todos já estavam conversando mais e eu ouvia até alguns risinhos.
 -Que bom que aquele gelo, de algum tempo atrás, já não existe mais por aqui -brinquei com o pessoal e deixei os pratos sobre a mesa.
 -Safira, que tal você cantar um pouco para nós? -sugeriu Lena.
 -É mesmo Safira! Só para nos alegrar um pouco… -Briseis insistiu com os olhinhos brilhando.
 -Ah não sei não, acho que vocês não gostariam de ouvir, a minha voz não está tão boa como era antes e…
 -Nada haver Safira, -Andrômaca me interrompeu rindo.- aquilo já foi, já passou, é só vocês manterem distância, por hoje -ela apontou para Pat e para mim.
 -Eu nem sabia que você cantava Safira, isso é novo -Ulisses se surpreendeu.
 -É, já cantei na escola algumas vezes, mas tá bom vai… -acabei cedendo.- O que vocês querem que eu cante?
 -Uma em outro idioma -Lena logo foi falando animada.
 -Tá bom, deixe-me ver… -me lembrei de uma que eu amo, "Havana".

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