54° Capítulo.

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Na hora do μεσημεριανό (mesimerianó/ almoço), Pátroclo trouxe comida, comida de verdade -frango, um pouco de carne e batata- nós comemos tanto que não aguentamos mais. O loiro ficou a todo o tempo lá, mas ficou calado, não disse nada a ninguém, acho que ficou com vergonha pelo o quê fez. 
 Briseis a todo momento vomitava no balde que ele havia trago e o "coitado" tinha que ir sempre o lavando (risos).  
 Pátroclo passou a tarde mais tempo trancado com a gente do que do lado de fora. De vez enquanto ele ria de nossas palhaçadas, ou melhor, das palhaçadas de Páris. 
 Eu estava sentada num canto conversando coisas MUITO aleatórias com Lena, uma das coisas era um plano do que iríamos fazer para escapar -sem Pátroclo ouvir, é claro. Quando estávamos rindo de algumas piadas que Asti contou, alguém abriu a porta com violência. 
 -Astíanax, -a pessoa disse com uma voz bem autoritária e de forma meio grosseira.- o rei Agamenon quer te ver -Neoptólemo começou a desamarrar uma corda. 
 Astíanax foi até o soldado, ele amarrou as mãos do garoto que o encarava e empurrou ele para fora. 
 -Neoptólemo! -Pátroclo correu e segurou Asti o impedindo de cair.- Não o trate assim! Você está pensando que é quem, aqui? -ele se aproximou bem do soldado que o encarou. 
 -Sou muito mais que você… -ele deu um risinho de canto de boca.- Eu estou sendo até que bem gentil com ele, você sabe como vão o tratar, não se finja de bom menino, porque você não é -Neoptólemo saiu com Asti deixando Pátroclo, praticamente, falando sozinho. 
 Pátroclo entrou furioso e esqueceu de trancar a cela, Andrômaca, num impulso desesperado, saiu correndo atrás do filho. Heitor correu e a segurou, a trazendo novamente para dentro. 
 -Eles vão machucar o Asti… eu não posso deixar -ela começou a chorar e se encaixou nos braços de Heitor.
 Pátroclo parecia aflito, ele foi até Heitor e colocou a mão em seu ombro: 
 -Ninguém vai fazer nada contra seu filho, eu não vou deixar… -ele lhe sorriu e saiu trancando a cela. 
                                   ***
 Escureceu. A nossa aflição e nossa preocupação com Asti só aumentava. Eles poderiam fazer o que quiser com ele, mesmo com o que Pátroclo tinha dito a Heitor, ninguém tinha mais tanta confiança nele.
 Heitor andava de um lado para o outro e, de vez enquanto, espiava pelo pequeno vão. 
 De repente, alguém abriu uma porta e jogou Asti dentro da cela (não vimos quem foi). Pátroclo entrou em seguida e trouxe com ele uma bacia com água e alguns panos. 
 Andrômaca e Heitor correram para ver o filho só que, ao tentarem levantá-lo, ele soltou um "ai". Corri para vê-lo porém, preferia não ter feito isso. Ele estava todo cheio de sangue nas mãos, haviam cortes em suas pernas e braços e, aparentemente, ele havia levado alguns socos no rosto. 
 Heitor o deitou com cuidado apoiando a cabeça do mesmo no colo da mãe.
 -O quê eles fizeram com você? -perguntei chegando perto dele e me sentando ao seu lado.
 -Eles… -ele gemeu de dor, segurei sua mão.- Eles queriam me obrigar a entregar o trono, eu não pude fazer isso en… então eles me bateram. 
 -Não foi só isso, Asti! -Pátroclo veio para perto dele e começou a limpar seus ferimentos.- Eles queriam que Asti matasse você, Safira -Pátroclo me olhou.- ele, é claro, não quis fazer isso. 
 -Ah Astíanax! -o olhei e depois tornei a minha atenção para Pátroclo.- Quem fez isso com ele? 
 -O filhinho querido de Aquiles, Neoptólemo. Ele queria matar Asti, mas eu intervi. 
 -Obrigado -Heitor falou. 
 Depois que eles terminaram de limpar as feridas de Asti, Pátroclo me chamou em um canto mais reservado. 
 -Safira, quando aquele idiota estava trazendo ele para cá, no meio de seus delírios, Asti falava seu nome e também que te ama.
 Ferrou! Como Asti tem coragem de dizer isso na frente dos meus "primos"? Ele é doido, e como eu gosto disso…
 -Como você mesmo disse, ele estava delirando, não deve ser nada demais -falei dando de ombros e fazendo uma carinha um tanto convincente.
 -Mesmo? -ele levantou uma sobrancelha. 
 -Sim mas, e você? -cruzei os braços.- Não deveria estar lá servindo seu reizinho? -ele revirou os olhos e deu um risinho. 
 -É, eu TENHO que estar lá, você tem razão, Safira -ele piscou e, após sair, trancou a cela. 
 Fui até onde Asti estava deitado e me deparei com ele já mais limpo, ele dormia docemente. Me ajoelhei perto dele e comecei a acariciar seus cabelos, ele estava um pouco frio e pálido. 
 Heitor, que antes conversava com Ulisses, veio até mim e se sentou ao meu lado.
 -Ele falou de você… -disse ele mirando o filho com um doce olhar. 
 -De mim? -fiz uma de que não sabia.
 -Ele te ama, Safira -o encarei e ele fez o mesmo.- Ele estava repetindo isso o tempo todo, acho até que seu primo ouviu. 
 -É… -que vergonha.- ele comentou mas eu lhe disse que Asti estava delirando -ele riu. 
 -Minha norinha… -Páris o chamou e, depois de dizer isso, se levantou e foi até o irmão.
 Como era estranho ouvir Heitor me chamando daquele jeito. Ele cuidou de mim durante toda a minha primeira viagem a Tróia, eu o tinha como um tio. Ah mas, quando se ama, todo o mais é só um dele. 
 Uma coisa que me chamou a atenção: por quê de Agamenon querer me matar? Eu nunca fiz nada de mal à ele. 
 Despertei desses pensamentos depois que ouvi Briseis vomitando. Dei uma última olhada em Asti, lhe beijei a testa e fui até onde Briseis estava. Helena segurava seu cabelo enquanto ela estava abaixada num canto do navio.
 Ela levantou meio mareada, Lena e eu a ajudamos a ir para o lado contrário e se sentar um pouco. 
 -É… isso não é fácil -ela falou depois que nos sentamos ao seu lado. 
 Passamos a observar o brilho da lua que passava pelo pequeno buraco e refletia nas conchinhas brancas sobre a areia. Os demais, conversavam em tom baixo para não acordar Asti, acho que estavam bolando algum plano.
 -O quê você acha que vai ser? -Lena perguntou com os olhinhos brilhando, começamos a encarar Briseis.
 -Ah, não sei dizer -ela pôs a mão na "barriga" (Ps.: Que ela nem tinha!).
 -Eu acho que vai ser menino -chutei.
 -Eu também! -Lena se exaltou um pouco, rimos.- O que você acha que é, Briseis?
 Briseis ainda mirava o chão, ela abraçou os joelhos e encostou a cabeça neles. Uma profunda tristeza invadiu o ambiente. 
 -Ele é O MEU FILHO -ela disse meio zangada.
 Helena e eu nos entreolhamos, na mesma hora, entendemos o que ela queria dizer:
 -Mas ele é filho de Aquiles também e você não pode mudar isso -ao ouvir as palavras de Lena, Bri deu de ombros e nada disse.
 -Ah Bri, ele te ama e você ama ele! -falei e ela me olhou brava.- Não me olhe assim mocinha, você sabe os motivos dele…
 -Agora você os defende? -ela me olhou e ergueu uma das sobrancelhas. 
 -Não estou defendendo eles, só estou querendo dizer que: Aquiles é o pai do seu filho e você deve relevar algumas falhas dele -me levantei e a olhei.- Ele já perdeu a infância de um filho, não o faça perder a infância do outro. 
 Sai a deixando com Lena e fui para meu cantinho tentar dormir, eu sabia que os dias seriam muito longos.

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