15. Arrenpendimento?

606 46 2
                                    

Dizem que uma das piores mortes que alguém possa ter é ocasionada por afogamento. Não é como tortura onde há caos, sangue e gritos.
Mas é dolorosa a sua própria maneira. Impotência e aceitação é o que restam a pessoa.

Primeiro a asfixia que impede que o ar chegue até os pulmões, inundando-os. Logo em seguida, o sangue também é atingindo sendo este um dos principais responsáveis pelo ar que percorre o corpo.

É uma morte terrível mesmo quando sem intenção. Me peguei reflexiva, Kaleb havia mandando prender  dois alteres pesados as correntes no corpo de Lorenzo. Imagina-lo vividamente afundando como uma âncora e debatendo-se em desespero e impotência me alegrava devo admitir. Podia parecer sádico mas aquela imagem me trazia conforto, minha única objeção era porque eu não tinha estado presente nesse momento. Eu queria estar la, queria presenciar com meus próprios olhos o seu fim mas infelizmente Kaleb não permitiu isso.
Queria ver sua expressão de terror. Queria comparar com a minha a cada vez que ele ameaçava meu filho, as agressões que ele me causou e os bastardos que trabalhavam para ele antes mesmo de saberem que eu estava grávida causaram.

Resolvi guardar pra mim mesma que fui surrada por dias porque ele queria saber uma coisa que eu não sabia e não contaria a ele se soubesse. A localização de Kaleb.

Eu nunca entendi realmente o que aconteceu na noite em que invadimos a casa do meu tio. Kaleb sumiu e nunca ousou explicar-se pra mim. Ele tinha tantas coisas para explicar. Agora minha genitora havia ressurgido das cinzas e lhe acusava de ocultar algo. Isso não me incomodava, ele ter a ameaçado de alguma forma... o que me incomodava era ter a sensação de que havia mentindo de alguma forma.

— Preciso te perguntar algo! — Falei cortando o assunto, foi então a hora que Dominic levantou-se e despediu-se dizendo que me aguardaria fora da prisão.

Suspirei esperando que ele saísse.

— Uma mulher veio me abordar hoje alegando ser minha mãe. — Revelei, observei a linguagem corporal e facial do meu irmão. Ele não expressou surpresa nem desprezo. Mantinha-se indiferente em nenhuma ação involuntária do seu rosto me indicou algum tipo de desconforto.
— O que ela queria? — Ele indagou agora expressando curiosidade.
— Eu realmente não sei, não houve tempo para que ela me dissesse. — Ele então me encarou mais confuso e eu resolvi logo ser direta — Ela veio com uma conversa estranha dizendo que você e Gonçalo haviam ameaçado-a para que não aproximasse-se de mim. — Os olhos dele foram em outra direção como se buscasse lembranças.

— Você pode ser mais específica porque eu claramente não me lembro dessa mulher e me lembraria com toda certeza se ela fosse sua mãe. — Pediu.

— Azula! — Falei o apelido e ele me encarou sério.
— Eu me lembro dela, a líder do mercado ilegal europeu! — Concluiu e eu assenti com a cabeça — Eu me lembraria se ela fosse sua mãe Vic! — Kaleb falou — O que aconteceu?

Kaleb encarou as mãos em cima da mesa e então inclinou-se juntando as mesmas. Observei meu irmão.

— Bem, uma vez quando fui deixa-la no colégio reparei em um homem atrás de uma árvore. O observei te olhando e quando você finalmente sumiu dentro da escola. Resolvi estacionar o carro e tirar satisfação. Eu me admirava por ele ter passado despercebido pelos seguranças que te vigiavam de longe. — Ele parou um momento recobrando-se da memória — Bem, alguma coisa me chamou atenção nele. Ele não parecia o típico e asqueroso pervertido observando uma adolescente. Antes de qualquer coisa resolvi leva-lo ate nosso pai. Não cheguei a escutar a conversa que os dois tiveram mas o velho saiu do escritório furioso ao celular, tentei alcança-lo mas não pude e provavelmente ele também desejava privacidade. Algumas horas depois esta mulher chegou a nossa casa, a chefe do mercado ilegal europeu.
— Ele contou — Nosso pai e ela tiveram uma discussão acirrada, eu não estava presente mas os gritos podiam ser escutados do lado de fora do escritório. Resolvi interferir pois além de curioso eu estava preocupado. Ela gritava coisas do tipo "Não pode me afastar dela" e nosso pai estava irredutível. Nunca me passou pela cabeça que aquela mulher fosse sua mãe e quando você uma vez me confidenciou o desprezo que sentia por ela e qualquer vontade que eu tinha de buscar por informações cessou. Nosso pai nunca me esclareceu o que ela queria e sim eu a ameacei. Falei que se ela chegasse perto de algum membro da nossa família ela ia ter uma morte dolorosa. — Me explicou.

Soltei um longo suspiro.

— Você realmente não desconfiou?
— Não e que diferença faz? — Ele questionou — Não era como se você ansiasse um encontro com sua mãe biológica.

Suspirei pesadamente e ele estava certo. Eu havia me desapegado de qualquer memória que tinha sobre essa mulher e gostaria que permanecesse assim.

— Por que não me deixa pagar sua fiança? — Questionei — Por que o matou em Nova York?

Ele abriu um sorriso mas não expressava humor.

— Talvez eu mereça estar aqui — Murmurou num sussurro.
— Você se arrepende?
— Eu não sei — Respondeu confuso — É complicado. E matei-o em nossa cidade porque senti necessidade.

Me despedi de Kaleb e então segui o rumo para o carro onde Dominic me aguardava pacientemente. Não havia mais o que falar por agora, eu gostaria de convence-lo aos poucos a me deixar pagar a maldita fiança. Ao chegar em casa junto de Dominic fui informada por uma das minhas subordinadas que um homem me aguardava no escritório, cerrei meus punhos ao ficar ciente de quem se tratava.

III Livro Mafiosa - Imprescindível  (Sem Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora