19. Chá

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Segui Azula controlando todas os meus impulsos homicidas e me segurando para não ataca-la cade vez que ela me lançava um olharzinho vitorioso e provocador. Fomos ate uma padaria luxuosa próxima ao Central Park, um de seus homens havia ido cuidar do corpo de West enquanto o outro nos acompanhava.
Ela escolheu a mesa mais afastada e me fez entrar com ela, suspirei pesadamente e então sentamos. Logo o atendente veio até nós, com o cardápio e esbanjando um sorriso educado. Azula fez seu pedido enquanto eu me contentei apenas com água.
Eu não tinha estômago para comer e as chances de eu me descontrolar e mata-la ali mesmo, provavelmente aumentariam, caso eu visse um talher perto de mim.

— Agora que você já deu seu show, fez seu maldito pedido. Que tal ser direta? Eu não tenho o dia todo e desperdiçar meu tempo com você é a ultima coisa que desejo! — Exigi com raiva mas mantendo a cara de paisagem.
— Não deseja que eu responda a pergunta de um milhão de dólares? — Questionou retirando suas luvas e o chapéu que usava.
— Que seria? — Repliquei.
— O motivo de eu ter abandonado-a! — Ela respondeu com cinismo e eu fechei meus olhos contando mentalmente.
— Não — Respondi grossa e curta — Isso não tem a menor relevância, o que eu quero saber, é o que diabos você quer em troca de não expor essa gravação. — Esclareci sem tremer na base, mas era verdade, eu tão pouco me importava com os motivos ou circunstâncias que a levaram fazer aquilo. Eu preferia que ela estivesse morta mas a minha vida parecia ser uma grande piada pro universo. Era um maldito entretenimento.
Ou eu era apenas a pessoa com mais Karma no mundo inteiro.

O rapaz logo trouxe o pedaço de bolo e o chá que a megera havia pedindo junto com minha água, nos deixou a sós novamente e eu observei Azula pegar os talheres cinicamente e cortar um pedaço da fatia delicadamente.

— É uma pena que você não tenha direito de escolha. Terá de ouvir minha história se quiser saber o que eu desejo! — Insistiu e eu bufei irritada dando um gole generoso no meu copo d'água.

— Então se apresse e conte sua maldita história — Exigi impaciente e depois de mastigar o que estava em sua boca a mulher soltou uma risada nasalada.

— Eu nunca quis abandoná-la Victória... — Ela revelou e eu mantive minha cara de bunda, aquilo era um novo tipo de tortura. Não era possível que eu seria obrigada a ouvir as palavras dissimuladas daquela vigarista.
— Eu e Andrea não somos tão diferentes querida, eu trabalhava como acompanhante antes de você nascer e acabei me envolvendo demais com um dos meus clientes, o resultado acabou sendo você. Eu poderia ter seguido um caminho mais fácil e abortado...

Soltei uma risada nasalada — E você quer que eu bata palmas e te agradeça por isso?! — Comentei irônica, quando eu achava que ela não podia se superar... Azula me vem com uma dessas.

— Hoje você tem o que tem não é?

Soltei outra risada nasalada segurando firmemente meu joelho por debaixo da mesa.

— Não graças a você — Respondi — E não me admira em nada você ter sido uma puta.

Ela soltou uma risada — De toda a história você só presta atenção nisso?

— Continue sua maldita história, não quero perder mais tempo do que o necessário! — Resmunguei mandando que ela fosse objetiva, Azula bebericou seu chá sem tirar os olhos de mim.

— Acontece que a gravidez veio com um custo, eu não podia continuar sendo acompanhante e seu pai biológico tão pouco se importou quando eu lhe dei a notícia. Era um homem casado, o que se esperar? — Ela questionou soltando uma risada sem humor, seu olhar parecia distante e ate um pouco abalado mas em nada isso me afetou. Pra mim ela continuava sendo uma megera ridícula e patética.
— Eu não conseguia um emprego, o governo me negava auxílio por eu já ter fixa na policia. Minha gravidez foi bastante complicada assim como os anos seguintes, mesmo eu tornando a fazer programa. Ate que um belo dia eu reencontrei meu antigo "chefe". Promessas de um trabalho mais seguro e valorizado me foram feitas. Mas eu cai no papo daquele homem como uma tola e desesperada.

Apesar das minhas memórias bloqueadas eu ainda sentia a dor, eu queria faze-la calar a boca porque de fato aquele assunto estava me incomodando mais do que eu gostaria. Respirei fundo e permiti que ela continuasse com sua história patética.

— Quando eu a deixei naquele dia Victória, eu pretendia voltar... abandona-la nunca havia me passado pela cabeça. Ele havia me pedido para ir ate seu encontro e eu fui, porque ingenuamente acreditava que conseguiria algo melhor. Nossas condições de vida eram péssimas.
— Não precisa me lembrar, eu consegui me virar muito bem sem você. — A interrompi para informa-la.

— Eu acordei dentro de um contêiner escuro, fedorento e com mais algumas mulheres. Eu viajei durante dias naquela caixa de metal ate chegar na europa e ser exibida num leilão como um objeto. Então um homem me comprou, um homem poderoso e influente.

Respirei fundo — Bem, sinto muito que você tenha passado por isso. — Falei genuinamente — Mas não é com a sua suposta história de vida que vai conseguir ganhar algum tipo de afeto da minha parte, se é que esse é seu objetivo.

—  Shiiiu... é feio ficar interrompendo a história dos outros Victória — Reclamou com sarcasmo — Eu achava que Andrea tinha lhe educado melhor.

Inspirei, suspirei e contei até dez mentalmente. Ignorei mais uma de suas provocações. Era claro que se a situação fosse diferente, minha mão já teria voado na cara de Azula no mínimo umas dez vezes, mas ela tinha a maldita gravação e tudo que eu podia fazer era ficar sentada e escutando essa história de merda, que eu tão pouco me importava se era real ou não.

— Meu marido não era nada carinhoso — Comentou puxando a manga da blusa do braço direito e revelando uma grande marca de queimadura bem no meio do antebraço. Provavelmente não era a única.
— A sua segunda mulher havia suicidado-se e ele precisava de uma substituta. Como um psicopata doente e metódico, ele precisava continuar com sua rotina de tortura. Eu era a substituta e passei anos servindo de entretenimento pessoal... ate que um belo dia, quando eu já não tinha mais o que perder, algum tipo de coragem ou só desejo de uma morte honrosa me arrebatou. Eu matei ele, rasguei sua garganta e tomei seu "império".

Suspirei — Esta me contando tudo isso para que eu tenha pena de você ou a compreenda? — Questionei, durante todo o momento em que contava a  história nenhuma emoção blindou seu rosto, apesar dos olhos entregarem resquícios de abalo, talvez por isso havia grandes chances de tudo o que havia acabado de relatar ser verdade.

— Estou lhe contando porque desejo que saiba.
— Isso não muda nada, não tenho empatia por você e você não significa absolutamente nada pra mim.

Ela abriu um grande sorriso e terminou sua xícara de chá.
— O importante é que agora você sabe, não lhe contei minha história esperando nada em troca. Só quis esclarecer como as coisas aconteceram.

Bufei irritada — Agora que você me contou todo o seu drama — Falei com desprezo — Revele logo seu maldito pedido — Insisti cansada de toda aquela situação.

— É muito simples, quero que acabe com a minha concorrência! — Disse com um sorriso.

III Livro Mafiosa - Imprescindível  (Sem Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora