28. Ponderações

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Depois daquela situação ridícula com Kaleb, entrei no carro e peguei meu celular, desbloqueei selecionando o contato de Cruz.

— Victória? — Ele atendeu.
— Pague a maldita fiança! — Ordenei irritada.
— Nós já passamos dessa fase.
— Eu não quero saber Cruz, a vida do meu irmão corre perigo! — Falei.
— Do que esta falando? E os motoqueiros?

Fiz uma pausa de cinco segundos buscando o ar.

— Nós tivemos um problema. — Informei tentando me manter tranquila.
— Eu sinto muito mas nós passamos muito mais que 48 horas para pagar essa fiança e o juiz que tinha interesse em prolongar esse "acordo"... bom, houve uma mudança. Eu justamente ia liga-la para informar, o julgamento de Kaleb foi adiado!

Ouvi Cruz, me segurei para não arremessar o celular longe da janela do carro.

— Como assim?
— Um novo juiz foi indicado e este tem o prazo de um mês para ficar a par dos fatos e do caso.

Eu soltei uma gargalhada sem humor.

— Você esta brincando?!
— Receio que não.

Engoli minha saliva. — Quando isso aconteceu?
— Ontem, só fui notificado hoje de manhã.
— Você não pode entrar com algum tipo de recurso, sei la... isso prejudica Kaleb, não?
— Estou trabalhando nisso, não se preocupe.
— Não me preocupar? — Perguntei irônica — Meu irmão foi preso baseado numa testemunha, eles sequer acharam um corpo. Isso é perseguição! — Resmunguei irritada e então levei a mão ate minha testa sentindo o latejar.

Minhas enxaquecas haviam diminuído drasticamente, fazia um tempinho que eu não sentia nenhuma e tinha parado com a medicação.

— Cruz... depois nos falamos! — Falei num tom baixo sem esperar sua reposta, finalizei a ligação e fiz um sinal dando permissão para que meus seguranças entrassem no carro, eu havia lhes pedidos privacidade durante a ligação.

Eles entraram no carro e o motorista deu início ao trajeto, eu tentei parecer o mais normal possível mas pelo espelho do retrovisor de dentro Hanna acabou percebendo o desconforto em minha expressão.

— Você esta bem chefe? — Ela questionou.
— Eu só preciso ir para casa — Respondi num murmúrio tentando suportar a dor, infelizmente, minha visão ficou preta e eu simplesmente apaguei.

...

Despertei no meu quarto e para meu alívio sem nenhuma dor. Observei alguns equipamentos médicos ao meu lado, entretanto, o quarto estava vazio.
Eu estava prestes a me levantar e arrancar aquele soro da minha veia quando Dominic entrou me mandando ficar deitada, o retribui com uma cara de indignação.

— O que é isso? — Questionei tentando manter um tom de voz agradável.
— Faz um dia que você desmaiou de dor e como sei que odeia hospitais, resolvi que o médico atenderia a domicílio! — Explicou — Agora se deite e nem ouse arrancar a medicação e o soro da veia! — Ele ordenou, respirei fundo e resolvi ajeitar minha posição na cama.

— Por que diabos parou de tomar seus remédios? — Ele questionou preocupado.
— Bem, as dores melhoraram e eu realmente não gosto de misturar álcool e medicamento então...
— É simples, pare de beber! — Ele me cortou mais mandando do que sugerindo.

Continuei a olhar Dominic fervendo por dentro mas não me permitir falar um A, eu tinha plena consciência que ele estava coberto de razão. Ele cruzou os braços e me deu mais uma ordem.

— Tome o seu maldito remédio! — Ordenou apontando para o pequeno móvel de cabeceira que ficava ao lado da minha cama. Observei uma bandeja de prata com um copo de vidro com água e o pote laranja com minha medicação. Tornei a olhá-lo e ele continuou com a expressão rígida e persistente, revirei meus olhos e peguei o pote, abri e enfie o remédio goela abaixo. Logo em seguida alcancei o copo e tomei um gole d'água.

— O que diabos eu estou tomando na veia então? — Questionei confusa já que ele me obrigou a tomar o comprimido.
— Não faço a menor ideia, não sou médico. Ele só me pediu que eu garantisse que você tomasse seu maldito remédio quando acordasse.

— Faz quanto tempo que estou apagada? — Questionei preocupada.
— Como eu havia falado, um dia — Ele me relembrou, suspirei.
— Merda... preciso adiantar algumas coisas e meu prazo esta acabando.
— Esta se referindo Azula?
— Confirmei com a cabeça em resposta e continuei — Preciso tirar Kaleb daquela maldita prisão e garantir que ele esteja 100% seguro. Nós criamos um bom plano mas ele pode falhar como qualquer outro e eu não estou disposta a correr esse risco. — Expliquei.

— Ele não quer sair não é? — Dominic questionou aproximando-se e sentando na ponta da cama, eu fiz um sinal com a cabeça em resposta.

— O psicológico dele deve estar uma merda Vic — Dominic comentou — Ele se empenhou tanto pra te salvar, não queria que a historia se repetisse com você.

Passei a mão no rosto, eu sabia muito bem aonde aquela conversa chegaria e como eu havia me tornado uma excelentíssima "esquivadora", resolvi trocar de assunto antes de cutucar novamente a minha ferida.

— Cruz me disse que trocaram o juiz do caso — Eu informei a Dominic — Aposto que tem um dedo daquele miserável daquele detetive — Conclui resmungando.

— Quer que eu cuide dele? — Abri um sorriso.
— Não se preocupe Dominic, depois que eu resolver a maldita questão com a minha "mãe", esse desgraçado será o próximo.

...

Levantei do meu canto de meditação disposta a aproveitar as aberturas que a vida estava me dando, fazia um bom tempo que eu não meditava ou entoava meus mantras para liberar meu chakras. Apesar de eu não ser uma fiel seguidora do budismo, ou a mais correta. Eu admirava os ensinamentos e a filosofia, era uma pena que eu não pudesse aplicar nem míseros 10% disso a minha vida. Eu era uma contradição ambulante.

Na verdade, durante minha meditação eu mais refletia sobre como levaria em frente meu problema com Azula, apesar de estar no prazo eu sabia que precisava me adiantar com o plano. Eu queria derrota-la de maneira eficaz e acabar com Cronos durante o processo. Quanto mais eu pensava sobre isso mais eu acreditava que talvez, cautela, que era a coisa que eu mais precisava ter tratando-se desses dois, não fosse uma resposta tão boa.

Talvez eu precisasse engana-los com minha previsibilidade e no meio do caos eu poderia tornar a ser imprevisível como eu havia pensado desde o início.

III Livro Mafiosa - Imprescindível  (Sem Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora