13. Rikers

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Dentro do carro, Dominic e eu estávamos de frente um pro outro. Eu com os braços cruzados e ele provavelmente tentando achar a melhor maneira de abordar aquele estranho assunto.

— O que ela queria? — Ele perguntou.
— Eu não lhe dei tempo para revelar. — Rebati extremamente irritada, eu mal havia me recuperado dos acontecimentos do último mês e agora isso.
— Por que só agora? — Ele questionou as mesma pergunta que eu me fazia, ela sabia onde eu estava todos esse anos, ela poderia ter vindo ao meu encontro inúmeras vezes mas só agora quando parecia precisar a desgraçada aparecia. Meus anos antes de ter sido adotada por Gonçalo pareciam míseros fragmentos e minhas únicas memórias vinham quando eu já estava com Dominic. Eu não me lembrava da desnaturada e não seria agora que eu me esforçaria para aquilo. Pelo que me dizia ela só havia me abrigado no útero e me dado a luz, não tínhamos qualquer ligação e eu manteria assim.

— Você tem certeza que era ela? — Dominic questionou sem eu sequer ter respondido a pergunta anterior, ele parecia tão surpreso quanto eu.

— Eu vi a foto no arquivo, endereços em Londres e codinomes... é ela! — Respondi convicta, Dominic suspirou como se o ar dentro da limusine tivesse ficado pesado.

— Isso me assusta! — Ele admitiu — Por que diabos ela, a rainha do mercado ilegal se deixaria ser rastreada tão facilmente por um mísero detetive? Não faz sentindo Vic!

Engoli minha saliva — Ela queria que eu a encontrasse.

— Vou repetir, isso me assusta e essa mulher deve estar tramando algo. — Ele concluiu.
— Mandei vigiarem-a — Falei tentando tranquiliza-lo — Se ela der um passo em falso eu mesma arranco a cabeça dela! — Declarei, eu realmente faria isso. Eu não estava para joguinhos, depois de praticamente ter perdido as rédeas da situação por duas vezes. Ter sobrevivido a um inferno, não seria aquela mulher que me derrubaria ou prejudicaria. Eu acabaria com ela num piscar de olhos e de quem mais ameaçasse qualquer tipo de jogada traiçoeira contra mim.

Passou-se algum tempo até que o carro finalmente chegasse a Rikers, uma das prisões mais temidas de Nova York.
Dominic me encarou um tanto abalado ao reparar na entrada daquele lugar.

— Ele precisa ser transferido o mais rápido possível! — Dominic constatou.
— Se ele não tivesse agredido outro detento todo o processo seria mais rápido! — Revelei frustrada pelo fato de meu irmão ter se submetido a este tipo de punição.
— Sorte a dele que NY não tem pena de morte! — Dominic concluiu, bufei com seu comentário ele percebeu que incomodou, ele pediu desculpas mas eu ignorei quando o chofer abriu a porta do carro para que saíssemos.

Flashback On

Dominic me trouxe uma troca de roupas, fui ao banheiro trocar-me depois que uma enfermeira surgiu e limpou meus ferimentos. Eu mesma estava me dando alta e havia assinado um termo de responsabilidade sobre as consequências que minha escolha me trariam. A gota d'água foi quando o médico entrou no quarto para conversar sobre meu estado. Ele disse que eu teria sequelas dos estilhaços da bala. Manifestariam-se em fortes enxaquecas e eu provavelmente me tornaria dependente dos remédios por algum tempo. Também falou sobre a possibilidade de eu jamais ter uma criança gerada por mim mesma.

— O Blake disse que esta te esperando — Dominic informou.
— Diga a ele que não tem a menor necessidade, ele deve ter coisas mais importantes para fazer! — Ralhei rispidamente, muito me admirava a insistência dele em permanecer ao meu lado quando eu claramente apenas lhe devolvia frieza e distância. Principalmente quando ele não me respondia sobre o paradeiro de Lorenzo. Nem mesmo Dominic me dizia e aquilo estava me irritando para caralho, eu não sabia de nada que estava acontecendo mas lembrava-me vagamente de ter puxado o gatilho. Algum estrago eu deveria ter causado, certo?

Eu usava um moletom cinza simples e uma calça jeans escura colada no corpo, com pantufas. Dominic havia escolhido qualquer peça de roupa e agora ele dirigia o carro. Paramos em frente a um grande hotel, ele entregou as chaves do carro para o valet e me acompanhou para dentro do luxuoso lugar com os medicamentos, bandagens entre outros dentro de algumas sacolas.
Ele retirou a chave do bolso do quarto e juntos formos ate o elevador, fizemos um percurso em silêncio ate que paramos no décimo sétimo andar. Cobertura.
Dominic entregou-me a chave do quarto e as sacolas.

— Tome, descanse um pouco e eu voltarei em algumas horas! — Falou, assenti  com a cabeça porque eu realmente estava exausta e por hora me contentaria em ser mantida no escuro em relação a Lorenzo.
Ao entrar no quarto, reparei num Tristan Blake sentado numa poltrona na parte debaixo do lugar.

Ele me aguardava, com um terno alinhado. Seus olhos verdes me analisavam e ignoravam as escoriações no meu rosto e os leves ferimentos nas minhas mãos expostas.
— O Dominic me disse que você não queria mais ficar no hospital. — Constatou.
— Eu realmente não gosto daquele lugar. — Falei tentando não admira-lo mas meus olhos me traíram, ele levantou-se e o jeito dominador e imponente que andava até mim causou-me arrepios na nuca.
— Você deveria estar descansando Vic! — Ele fala tomando de forma delicada as sacolas, depositando-as numa mesa ali perto e guiando-me cuidadosamente ate as escadas e por fim a cama.
Ele me deitou cuidadosamente e eu fiz algum movimento para tirar o maldito jeans e tentar descansar mais confortável. Abri o ziper e Tristan usando de seu cavalheirismo me auxiliou a tirar a peça, ele puxou o tecido delicadamente ate eu me ver livre e logo em seguida me cobriu.

— Descanse um pouco e quando acordar terá as respostas que tanto busca! — Informou e depositou um beijo na minha cabeça. Sem escolhas e assolada pelo cansaço eu o fiz.

Flashback Off

Eu e Dominic deixamos nossas pistolas no carro, alguns seguranças que nos acompanhavam permanecerem fora da prisão ao nosso aguardo. Fomos revistados e assinamos um formulário, logo nos encaminharam até a sala de visitas. Demorou alguns minutos para que o guarda finalmente liberasse Kaleb para nós encontrar. Observei o macacão laranja com desgosto e logo reparei na sua aparência.
Seu olho direito estava inchado e roxo, debaixo dos olhos também notava-se as bolsas de inchaço que indicavam insônia. Ele estava mais magro, um tanto pálido por provavelmente não pegar sol como deveria.
Ele sentou-se no banco de metal e colocou as mãos em cima da mesa de metal, Dominic e eu fizemos o mesmo. Os guardas não permitiam proximidade e por isso não pudemos abraçá-lo.

— Você está bem? — Questionei mesmo sabendo que ele não estava.
— Olha Vic... é a primeira vez em um bom tempo que vou responder sinceramente. Sim, eu realmente estou bem! — Declarou surpreendendo-me a mim e a Dominic.

— E o cara com quem você brigou? — Questionei preocupada e confusa.
— Três dias na solitária me acalmaram. — Ele respondeu como se fosse a coisa mais comum do mum.
— Não foi ele quem começou a briga? — Dominic questionou e Kaleb abriu um sorriso divertido soltando uma risada nasala.
— Não mas não se preocupem, estou sendo protegido. — Revelou para meu alívio, alguns de nossos novos associados tinham uma gangue de motoqueiros locais que tinham sua própria gente dentro da prisão. Kaleb estariam seguro.
— Eu realmente não entendo essa sua fodida vontade de continuar nesse inferno. — Resmunguei — Você sabe que ao invés de uma mera transferência eu poderia fazê-lo sair daqui livre!

Kaleb riu e Dominic manteve-se em silêncio.

— Não quero que interfira, já fez o suficiente! — Ele respondeu direto.
— Mas Kaleb... — Antes que eu o contestasse e tentasse fazê-lo mudar de ideia sobre essa situação ridícula ele me interrompeu.
— Nos temos pouco tempo e não vamos desperdiça-lo discutindo sobre coisas bobas. Como das ultimas vezes minha vontade não vai mudar Victória. Acostume-se, estou em paz!

Eu havia tentando convence-lo milhares de vezes a sair daquele inferno mas ele parecia gostar. Estava contente com sua situação e além de me surpreender aquilo me incomodava.

III Livro Mafiosa - Imprescindível  (Sem Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora