24. Maneki Neko (parte 3)

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Continuação

Mesmo estando sentado na minha frente e com um maior foco de iluminação em si, Cronos ainda me era um maldito enigma. Eu não tinha uma visão mais precisa de seu rosto, o que de fato, deveria ser seu objetivo.

Provavelmente, um hacker obcecado em manter o anonimato.

Ele deu a ordem para que seus subordinados nos dessem privacidade e eu fiz o mesmo, em nenhum momento nossos funcionários deixaram a área vip, apenas mantiveram distância mas permaneceram com os olhares alertas em nós.
Poderia parecer estupidez da minha parte ignorar o perigo de ficar numa distância tão próxima daquele homem. Eu não confiava nele e ele tão pouco em mim, ambos estávamos ali por conveniência e era claro, eu tinha uma semiautomática na minha mão direita. Estava destravada e a postos por debaixo do meu sobretudo na ansia de um movimento brusco da parte do hacker.

— Então Azula... — Ele resolveu quebrar o silêncio e eu segui sua deixa.
— O que deseja saber? — Perguntei disposta a saciar todas as suas dúvidas.
— Por que deseja derrubar sua própria mãe? — Ele foi direto num tom curioso, eu abri um sorriso falso.
— Vejo que pesquisou sobre mim — Conclui.
— Eu seria um imprudente se não tivesse! — Ele rebateu curto.
— Não posso dizer o mesmo de mim, você é um fantasma! — Comentei num tom irônico e ele gargalhou.
— Essa era a intenção.

Soltei um longo suspiro e então segurei meu copo de absinto que estava pela metade.

— O fato de compartilharmos o mesmo sangue não significa que eu dê a mínima para o que aconteça com ela — Eu resolvi deixar claro qual era a minha relação com Azula — Ela era irrelevante mas agora se tornou um obstáculo. — Continuei — Não passa de uma cadela amedrontada que somente ladra mas não morde. Ela teme sua expansão na Europa, mais precisamente em Londres e como sua influência limita-se aquela área, ela resolveu me chantagear. — Admiti cerrando meu punho que estava sobre a mesa e me controlando para não explodir.

Cronos posou os dois cotovelos em cima da mesa e uniu as mãos em uma expressão reflexiva.

— E ela te chantagea exatamente com o que? — Ele questionou interessado e eu gargalhei da sua assunção.

— Eu não vou lhe fornecer material para me extorquir, Cronos — Garanti segura.
— Na verdade, eu ia oferecer minha ajuda — Ele rebateu achando que eu era ingênua para cair nesse truque, gargalhei novamente.

— Sabe, você tem um excelente senso de humor — O elogiei irônica desprezando sua falha tentativa.
— Talvez devêssemos confiar um no outro — Ele sugeriu e ficamos em alguns segundos em silêncio, ate o quebrarmos com risos.

— Eu tenho uma semiautomática apontada pra você — Revelei e ele gargalhou retirando um telefone celular do bolso do moletom — E eu tenho C4 escondido em locais estratégicos desse clube, prestes a explodir em apenas um toque — Ele confessou.

— Nós temos que chegar a um acordo. — Insinuei e ele balançou a cabeça afirmativamente.

Antes que eu prosseguisse com aquela conversa, me permiti ressentir um pouco sobre a decisão de Kaleb. Minha vida seria tão mais fácil se a mula empacada me permitisse pagar a maldita fiança, entretanto, eu havia me forçado a tomar a decisão mais difícil porque sabia que ele me odiaria pelo resto da vida caso eu fosse contra sua vontade. Toda vida que eu o visitava, ele podia ate tentar transparecer a faceta tranquila e bem resolvida mas eu sabia que ele sentia-se mal pela morte de Lorenzo, afinal, era seu sangue.

Cronos e eu debatemos por mais alguns minutos como acabaríamos com a vadia da minha mãe, tínhamos entrado num acordo que nos saciaria pelo tempo necessário. Entretanto, ambos sabíamos que no final disso um tentaria acabar com o outro e por hora, eu relevaria algumas de suas práticas ilegais pelo simples fato de ter a certeza que em breve, estariam com os dias contados.

Ele tinha razão, sua exposição ia lhe custar caro.

...

•Agora•

Fox of Denial, minha primeira parada em um clube noturno depois de bastante tempo. O acordo com o hacker havia sido um sucesso e eu expressava a falsa sensação de necessidade de comemoração. Ele já havia deixado o ambiente junto com seus capangas depois de mostrar a um de meus empregados onde estavam todos as C4's, por mais que fosse arriscado, confiei no simples fato de que ele não queria chamar atenção. E era claro, se ele resolvesse levar aquele lugar pros ares, suas atividades criminosas iam sofrer consequências pesadas. Eu havia me garantido disso.

Eu buscava no álcool a saída para aplacar a minha dor, dor essa que nunca sessaria e estaria presente comigo 24 horas por dia. Tomei mais alguns copos de absinto, deixei meu sobretudo na mesa e resolvi ir para a pista de dança da área vip. Meus olhos fixaram-se na mesa do maldito detetive quando passei próximo indo em direção a pista.

Uma música com batidas fortes de eletrônica e um tanto melancólica preenchia o lugar, encontrei um espaço e lá permaneci dançando harmonicamente ao som da batida. Fechei meus olhos e resolvi expressar todos os meus sentimentos em passos agressivos e sensuais, nesse momento eu senti uma mão máscula agarrar minha cintura e tão pouco me importei. Acompanhada ou não, eu só queria extravasar um pouco tudo que eu estava sentindo e eu havia dado ordens diretas ao meu pessoal para que não interferissem, somente se expressamente necessário. Minhas ordens haviam sido contra todas as sugestões preocupantes de Hanna. Como eu mesma havia dito, eu só queria me perder por um instante.

Conforme o beat subia, meus movimentos tornavam-se mais intensos fazendo com que meu corpo colasse ao do indivíduo que dançava comigo. Eu sequer havia notado homem pois eu havia prometido a mim mesma que ate o final da musica, meus olhos permaneceriam fechados e somente minhas emoções intimas e como eu as expressavas importariam.
E eu fiquei naquele jogo de atiçar o desconhecido sem me dar o trabalho de averiguar quem era.

Erro fatal.

A música cessou, as luzes diminuíram e quando eu finalmente abri os olhos tudo que eu pude sentir foram o choque dos lábios contra o meu.
Suas mãos desceram até minha bunda colando meu corpo ao seu.

Seu beijo foi agressivo e intenso, seu toque esbanjava luxúria e infelizmente eu havia correspondido, muito mais do que aquilo, eu havia cortado seu lábio inferior com uma mordida. Ao se dar conta do meu choque ele esbanjou em sua faceta um sorriso cruel e provocativo, me distanciei imediatamente dele tentando assimilar aquela situação e meu olhar se voltou pro fundo daquela área vip onde um outro conhecido havia aparecido sem mais nem menos.

Fucked Time

Os olhos verdes me encararam de longe, surpresos demonstrando fúria e decepção ao mesmo tempo, eu fiquei estática esperando que ele gritasse ou me arrastasse para algum lugar longe dali mas tudo o que ele fez foi desistir de seus passos ate mim e deixar aquele maldito inferno como se fosse um tornado.

III Livro Mafiosa - Imprescindível  (Sem Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora