Bônus Kaleb

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"Mas insistir na ostentação de mágoa/ É teimosia sacrílega; lamento pouco viril,/ Mostra uma vontade desrespeitosa ao céu."

Aquela citação de Hamlet reverbera na minha cabeça, eu ja tinha lido uma outra vez durante minha vida, mas agora que eu estava na prisão, eu tinha tempo suficiente para reler algumas coisas e tentar absorver mesmo que fosse o mínimo. Eu não pretendia ir a lugar algum, porém, agradecia o esforço da minha irmã em tentar me salvar.
Nossas vidas eram cercadas por tragédia. Nada de bom jamais saiu de toda essa situação e agora só nos restava a dor.
Victória se afunda na própria dor, enquanto eu escancaro a minha. Sem medo de parecer vulnerável ou insano. Eu estou apenas cansado de tudo isso e se tivesse coragem suficiente ja teria encerrado tudo a muito tempo atrás.
Bom, estar preso não me parece injustiça, esta mais para algo oportuno. Eu derramei meu próprio sangue. Eu perdi meu filho, minha mulher, meus pais e meu sobrinho. O que me espera la fora? A mafia?! Estou cansado desse jogo de poder, estou exausto desse derramamento de sangue sem sentido... não tem mais porque sustentar qualquer coisa, todos para os quais nós juramos fidelidade e a própria vida já haviam ido.

Nada faz sentido.

Sou interrompido de minhas reflexões ao ouvir o guardar bater com o cassetete nas barras da cela para me chamar atenção.

— Santori — Ele pronunciou, larguei o livro de lado e me levantei indo até ele.
— Pois não? — Questionei curioso para saber o que ele desejava.
— Afaste-se da cela e vire-se de costas com as mãos para trás — Repetiu aquele procedimento, eu já havia feito aquilo mais de mil vezes, porém tínhamos que esperar um outro guarda chegar para que ele pudesse me algemar.

Quando o outro chegou, ele abriu a cela e veio ate mim, me revistou e
algemou as minhas mãos, logo em seguida senti um peso nos pés. Ele estava acorrentando meus tornozelos.

— Vire-se! — Ele ordenou, estranhei pois eu nunca havia usado essas correntes presas aos tornozelos em todo o meu tempo aqui.

Ele me conduzia enquanto o outro guarda o acompanhava a distância. As correntes eram pesadas, mas não impediam a minha movimentação. Não pude deixar de recordar de Lorenzo, ele basicamente morreu assim. Pesos nas pernas e algemado. A vida era uma grande ironia.

Os dois homens me conduziam para o que parecia ser os fundos da prisão, onde geralmente recebiam as entrega dos fornecedores de alimentos e produtos de higiene.
Senti um leve frio na barriga, aquilo não era boa coisa.

— Para onde estão me levando? — Finalmente resolvi questionar.
— Transferência! — Um deles respondeu curto e direto.

Quando percebi, um terceiro guarda com identificação "Billy" em seu uniforme fazia a baliza da vam.

— Transferência? — Repeti com receio — Meu advogado não me informou nada sobre isso! — Argumentei.
— Ordens de cima — O guarda com identificação de "Smith" falou sem maiores detalhes e eu fui obrigado a entrar naquela van. O outro guarda permaneceu onde estava e eu fui com os outros dois dentro daquela van. Ela tinha identificação da penitenciária, mas mesmo assim, todo aquele cenário me parecia suspeito.
Estávamos em uma estrada afastada e remota, indo para onde? Só Deus sabia, já estava entardecendo.
— Para onde eu vou? — Resolvo insistir, eu não tinha muita perspectiva de vida mas também não queria morrer no meio do nada.

Ele não me respondeu, já estávamos a meia hora naquela maldita estrada. Eu contava o tempo mentalmente enquanto esperava pelo pior.

— Rice, pare o carro há algo de errado! — O guarda Smith pediu ao que estava dirigindo, olhei em volta, pela janela e retrovisor e tudo parecia estar normal.

Assim que o homem reduziu a velocidade e o carro foi parando, o guarda retirou a pistola do coldre e de dentro de sua bota um silenciador. Antes que sequer falasse algo, ele encostou o silenciador na almofada do encosto do banco e disparou. O tiro saiu silenciado, porém causou um belo estrago. Miolos voaram e destacaram-se entre o painel, pára-brisa e volante.

Ainda sem entender, o homem me desalgemou e desacorrentou me indicando com a pistola para que eu saísse do carro.

— Que droga foi essa? — Questionei enquanto acariciava meus pulsos, então ele me acompanhou ate la fora e descarregou um pente inteiro na van, em seguida ele recarregou a pistola.

— Corra em linha reta para a floresta ate achar uma grande pedra cinza com uma mancha vermelha, quando chegar nela vire a esquerda e continue ate encontrar um helicóptero. — Instruiu andando ate mim e me entregando a arma.
— Preciso que atire na minha perna, então farei o chamado! — Pediu, minha ficha não demorou muito para cair, disparei contra a perna dele e parti, deixando-o sangrando e seguindo suas instruções.

Corri com a arma em punho, me questionando a todo momento o que eu estava fazendo e se eu realmente queria aquilo, eu poderia muito bem ignorar toda aquela situação e simplesmente aguardar o reforço que ele provavelmente chamaria. Demorou mas eu finalmente achei a pedra, virei a esquerda e segui ate encontrar um local aberto e sem mata, onde o helicóptero e um piloto me aguardavam.

Já escurecia quando levantamos voo, o homem não trocou uma palavra comigo. Passamos por perto de onde toda aquela cena tinha acontecido e do alto eu podia enxergar a quantidade de viatura e policia.

III Livro Mafiosa - Imprescindível  (Sem Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora