56. Lembranças de Londres part. VI

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Observei o escritório vazio, ainda em pé. Eu sequer sabia quais eram as pretensões de Sean com aquilo e confesso que me assustavam um pouco. Eu estava em sua sala, sozinha e desarmada.
Suspirei pesadamente e então me mantive de pé próxima a cadeira afim de aguarda-lo e descobrir o que ele queria comigo.

Alguns minutos em um silêncio extremo. Eu não havia trazido meu celular, eu pretendia ser breve, apenas pegar a encomenda e entregá-la para Matthew.
Foi quando ouvi a porta abrindo-se, não olhei para trás. Esperei que o homem chegasse ate sua própria mesa e sentasse em sua devida cadeira.
Ele me encarou por alguns segundos em silêncio e então um sorriso sombrio apareceu em seus lábios.

— Olá senhorita Santori! — cumprimentou.
— Eu vim buscar a encomenda! — Esclareci.
— Claro, porque não se senta um pouco?

Soltei um longo suspiro.
— Que tipo de jogo você esta pretendo aqui Sean? — questionei honestamente um tanto exausta daquela tentativa de rodeio.
— Te conhecer melhor. — ele respondeu objetivo.
— Com qual intenção? — continuei ainda de pé, mas me aproximando um pouco mais da porta agora.
— Ter um Santori no ciclo de amizades é sempre vantajoso.

Eu bufei em sarcasmo.
— Eu não sou mais uma Santori. — declarei convicta.
— Acha mesmo que o seu pai gostaria de ouvi-la falando assim? — Sean questionou com uma sobrancelha arqueada.
— Quem você pensa que é pra saber do que ele gostaria ou não? — retruquei um tanto irritada.

— Me desculpe, eu não pretendia ofendê-la! — ele pediu com uma expressão menos provocativa.
— Não ofendeu — me acalmei — Eu só detesto rodeios.

— Então serei objetivo, eu quero a sua amizade Victória! — eu sabia exatamente o que ele queria, não era uma amizade e sim uma aliança quando lhe fosse necessária.
— Então eu também serei. Eu não tenho amigos e a cabeça da mafia italiana em NY chama-se Kaleb Santori! — o informei.
— E mesmo assim, você não deixa de ser uma Santori! — seus olhos brilharam por alguns segundos de uma forma sinistra.
— O que quer que esteja tentando almejar aqui Sean, eu não lhe serei útil. Eu não faço mais parte da mafia.
— Mas você ainda tem as suas conexões Victória!

Suspirei novamente passando a mão na testa e tentando ter paciência, foi quando ouvimos uma batida na porta e ele permitiu a entrada. Um homem aproximou-se com um pequeno cooler de plástico em tom vermelho, de uns 6 litros.
— É a encomenda? — questionei mudando de assunto, logo o subordinado saiu nos deixando a sós.
— Sim! — Sean conformou.
— O que você quer de mim para que Matthew finalmente tenha isso? — questionei.
— Eu já disse, sua amizade.
— E eu ja te informei que eu não tenho amigos e se deseja uma aliança, eu não tenho qualquer utilidade.

O homem soltou uma risada nasalada.
— Não se menospreze tanto querida, eu consigo enxergar uma linda oportunidade através de você.
— Eu não sei que oportunidade. Eu não tenho mais contatos, nem qualquer outra ligação com a mafia. Só estou tentando viver a minha vida distante de tudo isso.
— Com o Matthew? — Sean questionou em um tom irônico.
— Você sabe que isso é basicamente impossível já que ele lava dinheiro pra diversas organizações criminosas. — completou.
— Isso não é relevante. — rebati.

Sean soltou uma risada forçada.
— Ah por favor Victória — ele debochou — A quem você esta querendo enganar? Essa sua busca patética por uma vida civil só vai te trazer ruína. Você esta exposta e vulnerável.

Respirei fundo.
— Exposta? — repeti — Elabore! — induzi curiosa, não que ele estivesse errado ou que eu não tivesse conhecimento sobre a insinuação dele. Eu só não esperava que fosse acontecer tão cedo.
— Você fez muitos inimigos, o que acha que vai acontecer? E bem fácil de presumir, além disso, não é como se as pessoas não comentassem.
— Comentassem o que? — questionei me controlando.
— Faça as contas minha querida, você está vulnerável e longe da asa do seu irmão. — insinuou.

Olhei para o copo que continha um dedo de uísque.

— Novamente Sean, seja objetivo se pretende me ameaçar!
— Não é nenhuma ameaça, é apenas uma constatação. Sua confiança é entretenimento puro.

Foi a minha vez de soltar uma risada nasalada.
— Confiança? — repeti — Eu posso não ter minha beretta ou meus subordinados, mas consigo ser tão letal quanto antes, rasgar a sua garganta com esse copo não seria nada difícil. Só mais sangrento e eu prefiro não me sujar.

Ele soltou uma gargalhada.
— Esta vendo? É disso que eu estou falando, é claro que você é útil Victória!
— Seu ponto? — insisti novamente.
— O Matthew sabe que você esta aqui? — ele questionou com curiosidade, fiquei em silêncio é novamente um sorriso provocante se abriu nos lábios dele.
— Que merda — resmungou — Eu adoraria ver a reação dele.
— Bom, você queria conversar e nós conversamos. Posso pegar o que vim buscar? — questionei sem qualquer ânimo para prosseguir com aquilo.
Meu objetivo era sair dali o mais rápido possível, Matthew tinha razão, Sean tinha uma aura sinistra e agora ele acreditava que de alguma forma eu pudesse ser útil para ele.
Sabe o que eu também ouvi? — ele questionou desviando do assunto — Tem gente atrás de você. — ele sanou em um tom sarcástico.

— Que venham! — declarei firme sem expressar qualquer partícula de receio, embora por dentro, essa possibilidade me causasse ansiedade, não por mim e sim por Matthew.

Eu não tinha Kaleb ou Dominic para me proteger, eu não tinha homens ou acesso a um maldito arsenal. Em anos vivendo nesse mundo, eu havia me tornado forte e habilidosa. Mas eu não era imortal, decisões estupidas já haviam me colocado a beira do precipício mais de uma vez. Não era como se eu realmente me importasse muito com a minha integridade física, acho que nesse ponto, eu já havia superado isso. Meu único receio sempre foi minha família, sempre foi qualquer pessoa que me fizesse alguma bondade, e nesse hora, Matthew era essa pessoa.

Ele não era um gangster ou um mafioso.
Ele também tinha suas habilidades. Mas as pessoas que eram minhas inimigas, elas também não era iniciantes. Elas eram sujas e fariam qualquer coisa para conseguir seu objetivo.

— Mas nós seremos amigos Victória, você não precisa se preocupar com isso. — o homem disse convicto.
— A que preço? — eu questionei e ele soltou uma gargalhada.

— Não se preocupe com isso agora — ele repetiu em um tom provocante — E pelo seu bem e o de Matthew, eu acho bom você "aceitar" essa amizade. — ele finalmente foi objetivo dando uma maior ênfase na palavra aceitar.

Soltei uma risada nasalada.
— Só espero que não se decepcione — aleguei e ele manteve um sorriso. — Mande lembranças para Matthew, sim?! — ele disse me passando o maldito cooler vermelho, indicando que nossa conversa havia acabado ali.

III Livro Mafiosa - Imprescindível  (Sem Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora