55. Lembranças de Londres part. V

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Entardecia quando reparei em um Matthew com uma expressão descontente.

— O que houve? — questionei preocupada.
— Sean me ligou, finalmente ele tem a minha maldita encomenda. — sanou.
— E não era pra você estar aliviado? — questionei ainda confusa com sua expressão.
— Só tem um problema.— Matthew disse entre um murmúrio.
— Se eu puder ajudar...
— Ele só quer me entregar se vocês conversarem! — ele confessou com uma expressão triste.
— Então vamos?!

Matthew soltou uma risada nasalada em desdém.
— Não existe a possibilidade de eu permitir isso.
— Por que Matthew? Quão importante essa encomenda é pra você? — questionei disposta.
— Não a esse custo! — ele constatou.
— Qual o problema, me parece algo bem simples de ser resolvido.

Matthew soltou um longo suspiro e desabou no próprio sofá de forma exausta.

— Você não entende Vic, nada que envolva Sean é simples!
— Então porque você não me explica? — questionei me sentando ao lado dele naquele sofá gigantesco e extremamente confortável.

Matthew bufou novamente em frustração levando a mão ate a testa e olhando para o teto da sua sala.
— Sean é um filha da puta extremamente manipulador e degenerado Vic. Tudo que ele faz, ate as coisas mínimas tem um motivo sórdido. Algo pra te ferrar de alguma maneira irreparável.

Deslizei também naquele sofá.
— Tem certeza que a encomenda não é importante? — questionei ainda disposta.
— Eu vou ter que lidar com as consequências — Matthew desabafou — Olha, eu não quero que o que eu vou te pedir te cause mau estar, ou você pense que eu não tenho mais consideração por você. Mas, talvez você tenha que se mudar antes do previsto e provavelmente me evitar durante algum tempo.
— Do que você esta falando? — Levantei um pouco receosa.

Ela estava completamente certo, já havia passado da minha hora, mas eu havia protelado porque gostava da presença dele. Ele fazia eu me sentir bem, afugentava todos os meus pensamentos intrusivos. A dor era meramente suportável por causa dele. Talvez eu tivesse me apegado a ele por causa disso.

— A encomendo do Sean não é pra mim, eu sou um mero facilitador. — ele explicou — Eu não quero te colocar em perigo, você esta se saindo tão bem longe de toda essa merda. Eu me recuso a te arrastar de volta pra isso.

Engoli minha saliva — Perigo sempre foi minha rotina, não é como se desse pra desfazer tudo o que eu já fiz.
— Mas você não é aquela mesma pessoa Vic, você mesma me falou sobre isso. Eu me recuso a te arrastar de volta pra isso. — repetiu explicando e sentando-se, me encarando.

— Eu entendo você querer que eu me mude e tudo bem. — estava longe de ficar bem, pois isso me doía — Mas quanto a outra coisa, deveria ser uma escolha minha e não sua.

— São meus negócios — ele declarou levantando-se — E vou resolve-los sozinho.

Não o segui, ele não parecia irritado, apenas triste.
Cruzei meus braços e fiquei observando-o se afastar, contive minhas emoções. Não existia a possibilidade de eu deixar que ele lidasse com aquilo sozinho, ele havia me ajudado tanto, era mais do que justo que eu retribuísse isso de alguma forma. Infelizmente eu já não era a líder de uma organização criminosa, eu não tinha os privilégios que eu costumava ter. Subordinados a minha disposição para que fizessem o que eu bem mandasse e me protegessem de todo aquele perigo. Nem dinheiro pra isso eu tinha. Obvia que eu tinha um pouco de dinheiro comigo, mas não o suficiente para sustentar uma situação de guerra ou de preservação.
Matthew tão pouco parecia disposto a se abrir comigo sobre aquilo. Ele queria a saída mais fácil, segura e obvia.
Mas quais as consequências que recairiam por cima dele?

Suspirei novamente e fui ate meu quarto trocar de roupa. Escolhi um vestido de couro preto, tomara que caia e justo. Botas de cano longo ate as pernas em mesmo tom e com um salto quinze. Fiz uma maquiagem noturna e um pouco mais pesada, coloquei algumas joias e alinhei meu cabelo. Se era pra eu entrar naquele antro, que pelo menos eu usasse o código de vestimenta apropriado.
Fui ate a garagem de Matthew e peguei uma bmw clássica que ele tinha. Eu não era prisioneira em sua casa, ele nunca havia me cobrado qualquer satisfação pra onde eu ia ou deixava de ir, mas também não era como se eu saísse. Então era certo que ele não notasse a minha ausência.

Dentro daquela belíssima máquina potente, eu me olhei algumas vezes pelo retrovisor e pude notar resquícios do meu eu antigo. Refiz todo o trajeto que Matthew havia feito no outro dia, estacionei próximo a Chaos, mas antes que eu saísse do carro, retirei a pequena beretta 9mm dourada de dentro da minha bolsa, soltei um longo suspiro.

Fazia tanto tempo que eu não encostava em uma dessas.

Posicionei a arma no discreto coldre que eu tinha na perna direita por debaixo do vestido. Eu não tinha intenção de esconder uma arma letal, provavelmente seria barrada na revista, mas eu também não entraria naquele lugar a cegas ou "pelada".
Deixei o carro e fui na direção da entrada do dia anterior, o mesmo homem, com um terno escuro estava diante da entrada. Reparei no sei cartão de identificação.

"Clint"

Ele me olhou de relance.
— O Sean me disse que estava aguardando-a! — falou abrindo um sorriso provocador, como no outro dia, resolvi ficar em silêncio.

Ele abriu passagem para mim, enquanto um outro subordinado também trajado com um terno escuro e um ponto no ouvido vinha a meu encontro.

— Me siga por favor! — o homem pediu educadamente, eu o fiz, ignorando os outros cômodos daquele antro como na ultima vez.

Mesma batida sensual, mesma atmosfera sexual regada a drogas e álcool. Ignorei tudo aquilo e o segui até finalmente chegar a sala que eu tanto recordava. O homem abriu a porta para que eu entrasse, fui revistada e me levaram minha arma, mas resolvi entrar.

A sala estava vazia.

— Ele pediu para que você aguardasse!

Foi tudo o que o homem me disse antes de bater a porta atrás de mim, deixando-me completamente sozinha.

III Livro Mafiosa - Imprescindível  (Sem Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora