Bônus Dominic

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Victória já não era a mesma garota ingênua e revigorante que eu havia conhecido na infância. Obviamente o passar dos anos nos amadurece e nos transforma. Ela tinha se tornado uma mulher forte, obstinada e corajosa. Mesmo sendo impulsiva em diversas vezes e cruel, seu lado frio sempre foi algo que ela revelava somente aos nossos inimigos. Mas os últimos anos não foram nada fáceis. Perda atrás de perda, traição atrás de traição. Já era de se esperar que as paredes que ela havia erguido e que raras pessoas conseguiram penetrar, estivessem lá de volta. Reerguidas mais poderosas e imperfuráveis do que nunca. Como uma das raras pessoas eu ainda podia enxergar além da sua blindagem, me doía vê-la passar pela mesma dor que eu carrego comigo durante esses anos.

Ela não se abria com a psicóloga e se limitava a me contar poucas coisas, as vezes eu sentia como se estivesse falhando com ela. Eu queria ter prevenido que ela não sentisse essa dor. Mas os acontecimentos daquele dia foram completamente terríveis.
Ouvir sua voz naquele dia depois de longas semanas foi sem sombra de dúvidas uma alívio mas eu sequer podia imaginar o que ocorreria em seguida, depois daquela ligação eu realmente achava que as coisas pela primeira vez estavam dando certo. Como se o destino ou universo estivesse a nosso favor pela primeira vez em um longo e árduo período.

Mas é claro que não? A quem eu queria enganar? Excluindo todas as probabilidades em que ela não acabasse morta, perder seu filho era o desfecho mais óbvio. Ela podia ter sobrevivido aquele inferno, mas definitivamente mais e mais partes de Victória simplesmente morriam.
Então ela era fria, era cruel e impiedosa. Resquícios e mais resquícios da menina que eu havia me apegado na infância deixavam de existir.
Eu tentava rebater aquilo, fazer com que ela  se abrisse mas era inútil, talvez eu não devesse. Essa carcaça fria que ela havia se tornado muito provavelmente era a última coisa que segurava sua sanidade.
Nem todo mundo saberia lidar com as coisas que ela faz, as coisas que ela passou.
E a última coisa da qual precisávamos era essa desnaturada dessa mulher que alegava ser mãe dela. Ela não tinha bons planos para Victória e eu definitivamente não ia permitir que mais alguém a machucasse.

Já estava tudo uma merda, não precisamos de mais uma preocupação adicionada a lista interminável de merdas que deveríamos lidar.

Ignorei o insulto dela, eu sabia que ela estava furiosa. Queria aplacar sua dor de alguma forma sangrenta e como ainda não tinha nada que se encaixasse ou criasse uma justificava perfeita, ela só se afastava dos mais próximos como uma bomba relógio prestes a explodir. Mas ela não podia explodir, o mundo do crime tinha os olhos fincados nela e qualquer passo em falso, depois de tudo que aconteceu seria encarando como fraqueza.

Era muita pressão, muita merda rolando e ela ainda precisava manter a reputação.
Deixei o escritório alcançado Mac na saída da casa, o parei.

— Você quer ascender na hierarquia não quer? — Questionei e ele me fitou interessado, seus olhos transbordavam ambição. Era a motivação certa para instiga-lo, muito provavelmente o de eu estar me dirigindo ao um mero soldado como ele já lhe causasse o desejo de subir.
— Preciso que se dedique 24 horas por dia  a vigiar esse maldito endereço. Terei de reduzir a vigilância — Expliquei — Essa mulher é escorregadia e Victória não esta querendo da-la a devida atenção. Já eu, acredito que ela tem planos de nos causar problemas e eu preciso impedi-la antes de qualquer coisa. — Expliquei.

— Então é só isso chefe? — Questionou parecendo aderir ao pedido
Confirmei com a cabeça e Mac acatou minhas ordens sumindo de minha vista rapidamente, por hora eu faria a vontade de Victória, mas se essa mulher fizesse alguma movimentação estranha. Eu mesmo acabaria com ela. Victória não precisava de mais um "trauma" desses na sua mente.

...

A semana passou tranquilamente enquanto ela e Cruz lidavam com o problema de Kaleb. Eu me atentava aos negócios e todos os passos que Azulava dava em Nova York. No escritório de Victória, eu como o único autorizado a entrar e sentar naquela cadeira que havia pertencido a Gonçalo. Eu arrumava algumas papeladas e instruía alguns subordinados, com a prisão de Kaleb eu havia assumido o papel de consigliere entre outras coisas. Eu era uma espécime de subchefe que lidava com os caporegimes. Não fazia tanta diferença, em me sentia mais consigliere do que o próprio Kaleb.

Chefe? — Atendi a ligação de Mac.
— Pode falar Mac!

Ele soltou um longo suspiro.

— Estou seguindo os passos de Azula faz meia hora e você não vai adivinhar com quem ela acabou de se encontrar.
— Quem?
— West Turner! — Avisou e eu senti uma onda de ódio percorrer pelo meu corpo.
— Não vamos ser precipitados, que mais você viu?
— Ele se encontraram no Central Park, pareciam conversar normalmente. Estou enviando uma foto.

Menos de dois segundos a foto chegou pelo aplicativo de mensagens. Os dois caminhavam tranquilamente lado a lado.
West era um dos novos aliados que Victória havia conquistado, ele tinha um clube de motoqueiros e os membros que estavam presos eram encarregados de proteger Kaleb na Rykers.
Mantive a calma, ela não estava em casa e eu precisava tirar aquilo a limpo.
Peguei as chaves do carro e sai dali sem dar mais informações, mas antes de desligar a ligação e entrar no meu carro eu havia pedido a Mac que me aguardasse.

Cheguei com mais de meia hora de atraso, reconheci o carro do ruivo e me aproximei batendo no vidro que ele estava com a cabeça escorada, ele acordou assustado e baixou o vidro.

— Onde eles estão? — Questionei irritado olhando dentro do carro e observando as varias embalagens de comida com os copos de plástico de refrigerantes  e as latas de energético acumularem-se no banco do carona e nas partes de trás dos bancos da frente.
Ele estava um caco, olheiras gigantescas e a exaustão nítida.

— Entraram mais... — Explicou olhando além, bufei de raiva.

— Chame reforços! — Mandei prestes a sair.
— Você precisa esperar! — Alertou.
— Não da tempo, preciso saber quais são os planos deles! — Avisei correndo para dentro do Park, procurei no meio da pequena multidão de pessoas que curtiam o lazer que aquele lugar proporcionava, fiquei assim por uns dois minutos até finalmente avista-los se encaminharem pra uma parte mais deserta, corri já empunhando a arma e adentrando aquele lugar.
Foi quando eu vi Azula sentada num banco de madeira com West ao seu lado, seus olhos estavam arregalados e sua pele parecia ter uma coloração mais pálida.

— O que é isso? — Questionei confuso apontando a pistola para ambos quando senti um cano sendo encostado nas minhas costas, levantei as mãos e observei o sorriso gigantesco de satisfação no rosto de Azula.
Era uma maldita armadilha e eu havia caído como um palhaço.

O homem que me apontava a arma retirou a minha da minha mão, mantive os  braços levantados. Azula levantou-se e eu observei o corpo de West cair sem vida pra esquerda.

— O que diabos você fez? — Perguntei furioso e com receio.
— Um pequeno jogo.

III Livro Mafiosa - Imprescindível  (Sem Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora