O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]

Surpresa

***Rafael

Eu estava sozinho naquele quarto de poucos metros quadrados. Arrumava meus poucos pertences em uma surrada mochila de couro marrom.

O ambiente, embora pequeno, sempre foi muito aconchegante como todo o restante da cabana. Eu me sentia bem ali. Me sentia em casa.

Não tinha qualquer luxo. Dentro do quarto havia uma estreita cama de madeira, um armário pequeno de duas portas e uma mesinha com uma cadeira.

Pela pequena janela situada ao lado da cabeceira da cama, dava para se ter uma bela vista da entrada daquele colorido e encantador bosque.

Eu sempre me senti um sortudo por ter, no final das contas, vindo parar ali. Passei por muita coisa ao longo de três anos, antes do destino me colocar no caminho de Luna.

No começo eu me sentia um grande fardo para aquela gentil moça... Mas com o passar do tempo, ela conseguiu me mostrar que não era bem assim. Fez-me sentir útil, apesar de toda a minha amargura.

Me peguei, novamente, pensando no passado... Nos meus antigos amigos... Principalmente em Miguel e Thales.

Comecei a sentir que, eu estava prestes a cometer um grande erro voltado à WorldHidden após tanto tempo ausente. Porém, minha pequena amiga era irredutível demais. Nada que eu falasse para ela, iria fazer com que mudasse de idéia... Maldita hora que eu fui receber aquela carta.

Depois de terminar de colocar meus poucos pertences na mochila, olhei ao redor do ambiente. Mirei o envelope dourado que eu havia deixado sobre a pequena mesinha, caminhei até a mesma, apanhei-o, e voltei em direção à cama, para encerrar os meus afazeres e fechar o zíper da bolsa.

Tendo feito isso, dei um profundo suspiro, virei-me em direção à janela, e fiquei observando a paisagem lá fora. Já estava começando a entardecer.

Mais uma vez, me vi submergir em meus pensamentos inseguros. Estava muito difícil manter o controle da situação. Eu sentia todo o meu equilíbrio emocional, que demorei anos para atingir, se esvair.

O pior sentimento que alguém pode ter, é de que está prestes a perder o controle de sua "vida"... E era, exatamente, esse sentimento que estava se apoderando de mim.

Ouvi algumas batidas atrás de mim. Lentamente, virei-me para averiguar de que se tratava... Foi quando vi Luna de braços cruzados com um dos ombros encostado no batente da porta. No rosto, ela esboçava um meio sorriso sem jeito.

— Ah!... Oi!... — Cumprimentei-a, já me sentando na cama.

— Posso entrar? — Ela perguntou com certa cautela, dava para perceber no seu tom de voz.

— Mas é claro! Nem precisava perguntar, amiga.

Luna adentrou o quarto caminhando bem devagar... A seguir, sentou-se ao meu lado na cama.

Ficamos os dois em silêncio por alguns instantes. Eu fitava o chão de madeira, mas com minha visão periférica, era possível notar que a moça estava me olhando.

— E então?... Está pronto para partir? — Perguntou por fim.

Eu mordi meu lábio inferior, olhei em sua direção e respondi, quase que revirando os olhos:

— Nem acredito que está me fazendo tal pergunta!... Mas é óbvio que não!

— Eu sei o quanto está inseguro com isso tudo, Rafa... Mas é a coisa certa a se fazer... Você precisa! — Luna tentou me confortar, pousando delicadamente sua mão direita sobre meu joelho esquerdo.