Ritual

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***Travis

Ao longe, bem do fundo do meu subconsciente, eu conseguia ouvir um ecoar... Um som semelhante a um cantarolar.

Tudo estava escuro. Não conseguia enxergar sequer um palmo à frente do meu próprio nariz. Falando em nariz, um cheiro muito marcante de vela queimada marcava forte presença em minha memória olfativa.

Eu estava morto? Sonhando?...

Eu não fazia idéia. A única certeza que eu tinha em mente, era de que eu queria muito sair dali. Eu não sabia onde, exatamente, era ali... Mas eu sentia medo. Muito medo!

***

O cantarolar parecia estar ficando mais presente, mais claro... O cheiro de vela queimada, também parecia mais marcante. Aos poucos, eu comecei a sentir um leve calor entrar em contato com a minha pele em alguns pontos específicos... Próximo aos pulsos e tornozelos, para ser mais exato.

Consegui recuperar os movimentos de meu rosto, que antes parecia paralisado. Apertei as pálpebras com força, em seguida, comecei a abrí-las, mas elas pareciam pesar toneladas.

Quando, enfim, consegui abrir os meus olhos, deparei-me com um teto, que mais parecia um assoalho de madeira. Eu estava deitado sobre o que me parecia uma mesa de madeira. Não conseguia movimentar o meu corpo, estava rígido e dolorido. Seria por causa de ter sido lançado a metros de distância mais cedo?

Eu, ainda não conseguia assimilar muito bem as coisas. Estava meio confuso.

O choque de realidade, só veio mesmo quando eu consegui mover minha cabeça para o lado direito... Foi quando avistei meu punho direito imobilizado pelo que parecia uma luz roxa, como uma corda parcialmente invisível.

— Não... — Sussurrei. Estava praticamente sem voz, não tinha forças para falar.

Comecei a observar melhor as coisas ao meu redor. Pude notar várias velas grossas nas cores preta e roxa dispostas por vários lugares naquele ambiente estranho. O cheiro, pareceu ficar mais forte.

Notei também, que meu outro punho e meus tornozelos, estavam imobilizados por aquela mesma luz roxa estranha, que parecia uma corda mágica.

Comecei a questionar o que estava acontecendo ali. Onde era ali? Como eu havia parado ali?... E... Por quê?!

Lembrei-me da discussão que havia tido com tia Sandara, antes de apagar. Lembrei-me da conversa estranha e ameaçadora que havíamos tido antes de ela me trancar dentro da nossa própria casa... Então, a ficha caiu:

— Não! — Arregalei os olhos, fitando o assoalho bem acima.

Sim. Aquele só poderia ser o misterioso porão, o qual, eu, nunca antes, havia tido permissão para entrar. O lugar em que minha tia guardava tantos segredos. Que segredos eram esses?

Ouvi passos. Como se alguém estivesse descendo degraus. Porém, eu não conseguia olhar melhor ao redor para ter uma noção completa de como era aquele ambiente.

— Acordou, foi? Ingrato! — Ouvi a voz meio rouca de minha tia.

Poucos instantes depois, vi seu rosto surgir ao meu lado esquerdo, me encarando de cima.

— Tia?... — Com a voz bastante fraca, tentei iniciar um diálogo. — O que está acontecendo? Por que eu estou preso aqui?!

— Bom, querido, como não tive outra alternativa, tive que recorrer à carta mais ousada que tinha na manga. Terei que executar o plano B, que era um recurso que seu pai havia guardado apenas para situações desesperadoras.

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Onde histórias criam vida. Descubra agora