Assombro I

192 40 2
                                    

***Rafael

Haviam se passado, exatamente, dois dias.

Dois dias em que, Luna, havia adormecido e entrado naquele sono profundo. Eu estava com medo, questionava Beatriz sobre a estranheza daquela situação, mas a mesma tentava me tranquilizar... Tentava me manter concentrado em não ter pensamentos negativos.

Sinceramente... Não estava funcionando muito. Eu estava com medo... Muito medo.

Eu estava sentado em uma cadeira de madeira, próxima ao local onde minha amiga permanecia totalmente imóvel, sem qualquer reação. Sua respiração era lenta... Ela parecia estar em um coma profundo.

O dia, do lado de fora da cabana, parecia estar bastante frio. Uma névoa tímida, podia ser avistada através dos embaçados vidros daquelas janelas modestas.

Beatriz, estava do lado de fora, na pequena varanda, para ser mais exato. Félix, havia saído para buscar lenha para a lareira, pois o pequeno estoque já estava no fim. Íris, ainda dormia naquela manhã gélida.

Bastante angustiado, levantei-me de onde estava, passei as mãos pelo rosto com força, na tentativa de afastar um pouco do cansaço acumulado... Porém, não tive muito sucesso.

Cruzei a pequena sala e, logo em seguida, cheguei à porta de saída, que estava entreaberta. Antes de sair, dei uma última olhada em Luna, que permanecia estática. Fiz um discreto sinal de negação com a cabeça, combinado com um retorcer de lábios, e retirei-me, voltando a encostar a porta.

Assim que cheguei à varanda, avistei Beatriz de costas para a entrada. Ela usava uma camisola longa de cor preta. Sobre os ombros, havia um chale xadrez, parcialmente coberto por seus longos cabelos longos, ondulados, soltos e desalinhados. Em mãos, ela segurava uma xícara, da qual uma fumaça subia, indicando que o líquido em seu interior estava quente.

Caminhei lentamente até o lado esquerdo da mulher, suspirei profundamente e mirei o horizonte. Apesar da névoa tímida obstruir um pouco da visão daquele amanhecer, não significava que o mesmo estava menos belo.

— Como ela está? — Perguntou a Mor. Ela sabia o por quê de eu estar ali. — Apresentou alguma reação?

— Não. — Fui direto, e até um pouco frio, ao respondê-la.

— Eu entendo que esteja com medo, Rafael. Sei que está inseguro quanto a tudo isto... Mas, não podemos fazer mais nada. Precisamos confiar na força de Luna... Confiar que ela é forte o suficiente para passar pelas armadilhas de suas memórias escondidas e voltar para nós. — A mulher falava calmamente. Em seguida, ela deu uma bebericada no líquido quente de sua xícara.

— Não acha que isso tudo já durou tempo demais?! Acha normal ela estar dormindo há dois dias seguidos?! — Sem olhá-la diretamente, comecei a questioná-la. — Ela está esse tempo todo sem comer, sem beber...

— Você não confia em mim? — Replicou ela.

Bastante descrente, olhei-a de lado e arqueei minha sobrancelha direita. Em seguida, franzi a testa e trepliquei:

— É só isso que tem a me dizer?!

— Você precisa se acalmar e manter seu pensamento firme, Rafael. — Pediu, encarecidamente, me fitando com olhar terno. — Você precisa colocar na sua cabeça que, você é muito importante nessa jornada dela. Talvez, você seja o único caminho de volta.

— Espera lá! — Exclamei, erguendo o tom da voz. Meus olhos cresceram automaticamente. — Não me lembro de você ter me dito algo do tipo antes! Você disse que eu seria uma espécie de âncora ou sei lá...!!!

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Onde histórias criam vida. Descubra agora