Atritos IV

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***Thales

Beatriz não atendia às minhas ligações. Comecei a me preocupar seriamente. Já havia perdido as contas de quantas tentativas tinha feito em um período tão curto de tempo.

Da minha breve caminhada da biblioteca até à entrada da cozinha, eu, já tinha ligado para a minha amiga inúmeras vezes e nada de ela me atender.

— Por Merlin, Beatriz, atende essa droga de telefone! — Resmunguei após encerrar a chamada, mais uma vez, totalmente frustrado.

Eu estava na passagem da sala de estar para a cozinha. Assim que enfiei o telefone no bolso da calça, avistei Travis, de pé em frente à pia, ele guardava alguns talheres dentro de uma das gavetas, totalmente distraído.

O garoto, sequer percebeu a minha aproximação. Parecia estar pensativo. Só se deu conta que eu estava de volta ao local, quando eu já estava de pé ao seu lado.

Foi inevitável o leve susto que ele tomou. Ele deu um quique no lugar e pôs a mão direita sobre o peito, dando um profundo suspiro em seguida.

— Calma, maninho, sou eu. — Tranquilizei-o, abrindo um largo sorriso.

— Quer me matar do coração, é?! Estava totalmente desligado aqui e você nem avisa que estava chegando? — Ele fez uma careta enquanto revirava os olhos.

— Desculpe.

Em seguida, encostei a lateral do meu quadril na bancada da pia, cruzei os braços e fiquei o observando atentamente. Foi impossível não estampar uma expressão mais séria em minha face curiosa.

Travis, então, voltou a manipular os talheres, que ainda restavam sobre o bancada, parou de me encarar e perguntou:

— O que foi? Por que essa cara séria de repente? Quer perguntar algo?

Antes de prosseguir com a conversa, fiz silêncio por alguns instantes. Por fim, contorci os lábios e soltei:

— Por falar em desligado, Travis... Tenho algo a lhe perguntar sim.

Ele parou de manipular os talheres por um instante. Depois, virou-se para mim e pegou o pano de prato que estava pendurado sobre seu ombro e secou as mãos.

— Pode perguntar. — Ele deu um meio sorriso, que me pareceu bastante tenso a princípio.

Ele começou a secar uma pequena faca que estava bem próxima à lateral da pia. Estava focado em sua tarefa designada pela minha mãe.

— Por que você não me contou sobre as suspeitas de ataque de vampiro? Mamãe disse que vocês estavam juntos quando viram a reportagem no telejornal local.

— Puts, mano! Me desculpa, mesmo... É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, que acabei esquecendo! Não foi minha intenção esconder de você... Eu sabia que era um assunto extremamente sério pra ti.

— Sem problemas... — Tranquilizei-o. — Sei que não fez por mal. É normal a gente acabar esquecendo das coisas de vez em quando... Principalmente quando temos muita coisa na cabeça.

A última coisa que eu queria, era que Travis acabasse se sentindo responsável por algo que, na verdade, não o dizia respeito. Além do mais, ele era só um adolescente. Seria injusto de minha parte, cobrar dele a responsabilidade por algo que eu deveria ter prestado mais atenção.

Se eu não ficasse tão distraído com os afazeres do Conselho, talvez eu tivesse percebido antes o que estava acontecendo na cidade.

A melhor coisa a se fazer a partir daquele momento, era tentar descobrir o responsável pelos ataques e puní-lo... E cabia a mim, dar início a investigação o quanto antes, para evitar mais baixas na população humana de WorldHidden. Se aquilo continuasse, a população mágica teria problemas.

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Onde histórias criam vida. Descubra agora