Noite Dos Loucos IV

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***Rafael

Alguns minutos já haviam se passado desde que chegamos ao quarto. A única diferença, até então, era que eu já tinha secado três copos de licor.

Limitei-me ao silêncio. Estava temeroso em acabar dizendo o que não devia, por já ter me alcoolizado demais. Eu queria muito sair daquele quarto, fugir mais uma vez daquela conversa, mas quanto mais o tempo passava, mais eu sentia que eu estava sem saída. Seria aquela noite, o momento de eu ser forçado a revelar toda a minha verdade?!

— Thales... — Miguel, que permanecia sentado ao meu lado, olhou para o parceiro com curiosidade. — Tem mesmo necessidade de fazer isso? Está mais do que na cara que o covarde do Rafael não está disposto a ter essa conversa.

O Mor, contorceu os lábios, suspirou fundo, e falou calmamente:

— Como eu já disse, temos a noite e madrugada inteirinhas para ficarmos aqui. Enquanto Rafael não abrir o bico, continuaremos aqui.

— E o que te faz pensar que pode me obrigar a alguma coisa?! — Usei de sarcasmo ao questioná-lo. — Isso que está fazendo é cárcere privado, sabia?

— Para de drama, Rafael!... — O rapaz ergueu a sobrancelha direita. — Só quero que nos entendamos de uma vez por todas. Essa história toda já nos machucou demais.

— Se machucou a vocês, imagine a mim. — Deixei escapar.

Miguel tomou um gole de seu licor, e olhando diretamente para um ponto fixo na parede, onde havia um quadro pendurado com a imagem de uma paisagem litorânea pintada, falou calmamente:

— O que tanto te fez sofrer ao ponto de fazer com que abandonasse a todos nós, Rafa? É só isso que eu quero entender... Preciso ouvir de você! Não ficarei satisfeito, até que me conte toda a verdade... Afinal, somos ou não amigos, poxa!?

— Você sabe o quanto eu te amo, Miguel! E é exatamente por isso, que eu fui embora. — Respondi sem olhá-lo.

— Se me amasse de verdade, não teria partido. — Ele abaixou a cabeça.

— Aí é que você se engana completamente, Miguel! — Thales interveio. — Se o que Rafael fez, foi na intenção que eu venho imaginando durante todo esse tempo, eu nunca testemunhei prova de amor e lealdade maiores!

O rapaz ao meu lado, enfim voltou a erguer sua cabeça, para encarar melhor Thales. Com o semblante um pouco atordoado, por conta do álcool, ele perguntou:

— Então você sabe de alguma coisa, né?

— Tenho minhas desconfianças, mas quero que o próprio Rafael as confirme com palavras claras. — Respondeu o outro.

— Você não pode me forçar. — Minha voz ficou trêmula.

— Não quero te forçar a nada... Só te encorajar. — O Mor deu um meio sorriso.

***

Após tantos drinks durante a festa, e outros mais no decorrer de toda aquela nossa conversa, que só estendia-se cada vez mais, eu estava certo de que nenhum dos três ali estava sóbrio o suficiente. Aos poucos, eu pude perceber nossos escrúpulos entrando no modo avião.

— Vai, Rafa! Fala logo e para de enrolar, cara! — Eu já não ouvia Miguel me tratar de forma tão descontraída, fazia algum tempo. Ele, claramente, estava mais amigável.

— Por favor... Abre todo o jogo logo de uma vez... Não aguento mais isso! Minha cabeça vai explodir com tantos pensamentos incertos! — Thales virou o restante do licor de seu copo na boca, e voltou a encher o mesmo. — Só quero ter certeza de todas as minhas teorias. Você precisa confirmá-las, Rafael!

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Onde histórias criam vida. Descubra agora