Lembranças V.4

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***Luna

O cenário ao nosso redor, mais uma vez, mudou instantâneamente.

Sim... Eu me lembrava.

Eu sentia que conhecia aquele lugar, de certo modo... Eu já havia estado ali antes?

Aquele teto alto e decorado. Aqueles enfeites sombrios e com toques fúnebres naquele ambiente... Um certo cheiro de mofo misturado com maldade no ar... Tudo aquilo, fez com que memórias que eu preferia esquecer, permanentemente, me fossem reavivadas.

"Rafael", estava agachado ao meu lado, onde eu, totalmente sem forças, me rendia ao chão. O medo estava me devorando quase que por completo. Eu sentia como se um manto de escuridão estivesse me cobrindo por inteira.

Com sua mão segurando a minha direita, minha consciência em forma de Rafael, sussurrou de forma quase inaudível para mim:

— Eu sinto muito... Sei o quanto isso te doeu e o quanto reviver esse momento te matará, mais uma vez por dentro, mas é preciso que você se lembre. Então, só assim, poderá se libertar de toda sua agonia e dúvida... Só assim, poderá saber que rumo tomar na sua vida quando acordar.

— Eu não sei se estou preparada. — Choraminguei. Meu rosto estava totalmente molhado.

De certo modo, eu sentia que já havia tido muito daquelas revelações em um curto período de tempo. Meu maior medo, era ser quebrada por completo e não conseguir mais me recuperar.

— Eu sei o que está pensando, afinal, eu sou você... — O rapaz ao meu lado, continuou a usar o mesmo tom de voz inicial. — Mas acredite em mim. Você é mais forte do que pode imaginar. Se não suportasse toda a verdade, não teria chegado onde chegou. Nós vamos conseguir passar por isso, e não estamos sozinhas nessa... Temos o Rafael, a Beatriz... E também os outros amigos que você conquistou com seu jeito confiável e sincero. Nós podemos, Luna! Não vamos nos render tão facilmente a essa escuridão que quer nos devorar.

Eu continuei em silêncio. Apenas engoli em seco e assenti. Poucos momentos depois, o local, antes silencioso, foi invadido por um ranger de portas e gritos exaltados:

— Pare de se debater! Você perdeu! — A voz de Pavel, foi a primeira que reconheci.

Quando olhei para trás, avistei o homem entrando no local empurrando a outra Luna, com bastante truculência. Era evidente que sua paciência havia se esgotado com a garota... Tudo que a mesma colheria daquele momento em diante, seriam lembranças amargas.

— Tire suas mãos imundas de mim, seu monstro! — Ela gritou.

— Calada!

Ao se exaltar mais uma vez, Pavel empurrou a moça com força em direção ao chão. Onde ela se rendeu totalmente sem forças, abatida, suja e desencorajada.

Aquele carpete marrom e empoeirado, amorteceu a queda. Lentamente, o mago deu a volta em uma poltrona próxima e sentou-se, arqueando o corpo para frente e apoiando os cotovelos sobre os joelhos.

Antes de voltar a falar, ele deu um profundo suspiro e relaxou os músculos do rosto. Uma expressão serena tomou conta de seu semblante, o tornando irreconhecível. Quem não o conhecesse, se enganaria facilmente achando que ele poderia ser a mais doce das criaturas vivas:

— Eu não queria que terminasse desse jeito, Luna, mas você não me deu outra escolha.

— Você tem outra escolha. — A moça retrucou. Seu rosto estava afundado no carpete fofo e empoeirado. O som da sua voz era abafado. Ela não se preocupava com seu estado de dar pena. — Todos podemos escolher entre fazer o bem ou o mal... E você, claramente, optou pela segunda opção.

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Onde histórias criam vida. Descubra agora