Reencontros VIII

301 61 6
                                    

***Rafael

Apesar da alegria de estar diante de uma velha amiga novamente, o medo falava mais alto. Eu sabia o quanto Beatriz era geniosa.

Ela ficou parada por um certo tempo, no mesmo lugar. Suas mãos permaneciam pousadas nos quadris. Era impressionante ver o quanto ela havia se tornando uma mulher ainda mais linda.

Félix, por outro lado, não parecia ter sido afetado pelo tempo. Apesar de dezoito anos terem se passado, sua aparência de jovem que não se preocupava muito em manter-se arrumado era a mesma. Seus cabelos volumosos, negros e encaracolados ainda tinha aquele mesmo ar desgrenhado.

Ao lado dele, estava a garota que deduzi ser a filha do casal. A menina parecia já ser uma pré-adolescente... A semelhança dela com a mãe era assustadora. Mesma magreza, mesmos cabelos, formato de rosto... Tudo. Se ela também tivesse herdado o temperamento da mãe, seria assustador.

Após aquele período parada a certa distância, Beatriz caminhou com muita urgência em nossa direção. Ao se aproximar do sofá, ela agarrou-me pela camisa e fez com que eu me levantasse num impulso.

Ainda estreitando os olhos, ela apontou o dedo na minha cara e soltou:

— Você é uma criatura fria e sem coração! Como pôde fazer isso com seus amigos??? Como pôde fugir sem ao menos se despedir e dar alguma satisfação???!!!

— Bia, calma. — Disse, Félix, logo que se aproximou da esposa.

— Não me peça calma, Félix! Eu vou quebrar todos os ossos desse desgraçado!!!

— Amiga, não vale a pena. — Thales, pôs-se de pé e intercedeu por mim. — Nada que você fizer ou falar vai fazer com que recuperemos o tempo perdido... O importante é que ele finalmente resolveu aparecer.

— Thales!!!??? — Ela encarou-o. Ainda permanecia segurando minha camisa pela parte da frente. — Eu não vou pegar leve só porque ele resolveu voltar depois de tanto tempo com essa cara de pau! Ele fez todo mundo sofrer!!! Principalmente Miguel!!!

Mais uma vez, o sofrimento de Miguel voltava a ser pauta de um assunto... Mais uma vez, outro pedaço meu se quebrava por dentro.

Realmente, ouvir as pessoas falarem sobre o sofrimento que causei a Miguel por conta da minha partida, me fazia sentir-me cada vez mais culpado.

— O que tem a dizer em sua defesa, seu rato sujo!? — Beatriz voltou a me encarar franzindo o cenho.

— Nada. — Respondi quase que sussurrando. — Eu sei que sou totalmente culpado.

— É sério, Platinado, a vontade que eu estou de moer cada osso do seu corpo... — Com a mão que estava livre, ela fez sinal de que ia estalar os dedos. — Que Merlin me ajude a manter o meu equilíbrio, pois você traiu minha confiança!!!... Depois de tudo que fez para ter minha amizade, depois de praticamente se rastejar para que eu confiasse em você... Você abre mão de tudo isso e vai embora sabe-se lá para onde!!!???

A mulher me soltou e recuou alguns passos. A seguir, ela passou a mão sobre o rosto, voltou a me fitar seriamente e perguntou:

— Falando nisso... Onde diabos você se meteu, Rafael?!

— Eu só precisava ficar longe por um tempo... — Tentei me explicar. — Colocar minha cabeça no lugar e reorganizar minha vida. Eu não espero que me entenda, mas por favor, só não julgue minha atitude sem saber da verdade.

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Onde histórias criam vida. Descubra agora