Reencontros V

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***Rafael

Após aquela cena totalmente desconcertante na sala, Miguel pediu que eu o acompanhasse até à varanda da frente da casa... Assim o fiz.

Meu amigo foi o primeiro a cruzar a porta de saída, eu o acompanhei totalmente em silêncio.

Confesso que fiquei bastante temeroso por deixar Luna sozinha na sala, em companhia dos outros. Eu sabia como a moça ficava desconfortável na presença de estranhos, mas não pude recusar ao pedido de Miguel.

Assim que cheguei na varanda, Miguel já estava sentado no velho sofá xadrez localizado no canto mais escuro da mesma... Eu tinha muitas lembranças daquele lugar.

A noite já havia caído. Uma brisa leve balançava as copas das árvores próximas. Meu amigo estava com os cotovelos pousados sobre os joelhos e encarava o jardim... Era difícil tentar imaginar o que ele estava pensando.

Fiquei parado a uma certa distância, apenas o observando. Eu fiz questão de esperar que ele dissesse as primeiras palavras.

— Senta aqui. — Ele deu um tapinha no acento ao seu lado.

Caminhei lentamente até o local, me acomodei, e mirei o belo jardim iluminado por luzes coloridas em vários pontos.

— Vai me dizer por que diabos me abandonou sem ao menos se despedir? Não acha que foi algo frio demais, até mesmo se tratando de você? — Ele não fez qualquer rodeio.

— Poxa, Miguel, você me conhece muito bem... — Comecei a me explicar. Minha intenção era esconder os pontos mais sensíveis daquele assunto. — Sabe que eu seria incapaz de lidar com despedidas e choradeiras... Essas coisas não são pra mim.

— Mas poxa vida, Rafael! Eu sou teu amigo, cara!!! Tu avisou ao Gabriel que ia partir, mas não teve a mesma consideração por mim! — Ele me encarou totalmente contrariado.

— É exatamente por te conhecer tão bem, que eu preferi fazer dessa forma. Eu sabia o quanto seria difícil pra você aceitar a minha decisão. Está vendo só como você está agora, mesmo depois de tanto tempo?!

— Cara!!! Você é um insensível! Doeu demais!!! Tu não faz idéia do quanto eu chorei e enchi a cara por conta da sua partida! Você foi injusto!!! — Apesar da pouca luz, eu consegui enxergar perfeitamente os olhos brilhantes de Miguel, ele estava quase chorando.

— Amigo, me perdoa... Por favor?! Eu não sabia que isso ia te machucar tanto. Você sempre se mostrou tão forte e centrado. Não imaginei que o simples fato de eu ir embora poderia te causar tamanho estrago emocional.

— Mas causou! Está feliz agora em saber?! — Ele levantou-se bruscamente de onde estava, e me olhou de cima para baixo. — Eu não sei se vou conseguir te perdoar por ter feito isso comigo... Eu te amo tanto, cara! Tu não faz idéia! Você foi um tremendo idiota comigo!

Quando terminou de dizer tais palavras, Miguel, me abandonou totalmente sozinho no silêncio daquela varanda escura. A noite silenciosa, só conseguiu fazer com que eu me culpasse ainda mais... Miguel, estava claramente muito decepcionado com o que eu havia feito no passado. Eu teria de me esforçar muito para reconquistar a confiança dele.

***

Passou-se muitos minutos. Eu continuei sentado no mesmo lugar olhando o jardim.

Minha vontade era de sair dali correndo, sem olhar para trás, e não voltar mais... Mas pensei em Luna... Ela ainda estava lá dentro e eu não podia abandoná-la. Era por causa dela que eu estava ali, não dava mais para voltar atrás. Tudo que eu podia fazer daquele momento em diante, era tentar amenizar todos os estragos que eu havia causado... Mesmo que, durante tais reparos, eu me ferisse ainda mais profundamente.

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Onde histórias criam vida. Descubra agora