Não é o corredor da morte. É o corredor da vida. A vida é confusa, cheia de furos, e nossa missão é tentar entedê-la, por mais que a maioria nunca chegue a entender.
O essencial é tentar.
Mãos pesadas tocaram os ombros frágeis de Jack, tirando-o de seu devaneio. Eram tantas memórias que Jack recebera de volta que recordá-las era o auge de seu prazer. Porém, ao ver aquele guarda com o rosto oculto por uma capa negra, Jack sentiu um frio na barriga que só significava uma coisa: era agora.
Levantando-se lentamente, Jack desejou que o tempo não passasse. Queria estar em qualquer outro lugar, por mais que não fosse seu tipo cair sem antes lutar. Ele tinha lutado, e agora só queria paz. Paz e Rapunzel.
Engraçado como quando estamos na beira da morte, tudo fica mais bonito e damos importância a simples prazeres da vida. O simples ato de andar fazia com que Jack se sentisse vivo. Respirar era estranho, especial. As cores vivas eram encantadoras e sentir dor, Jack notara, era melhor do que não sentir nada.
O corredor de seu fim era longo. Vestígios de que ouvera uma briga naquele salão que antes ele estava haviam sumido. Era humilhante se render a Breu, mas glorioso por dar sua vida as Legiões (ou melhor, a todos os legionários).
A cada passo, memórias importantes fantasiavam sua imaginação. A primeira vez que viu Rapunzel, a primeira vez que viu Jamie, quando nasceu sua irmã, quando seu pai saiu e nunca mais voltou. Uma vontade súbita de tocar em seu cabelo branco fez com que a mão de Jack coçasse. Mas elas estavam atadas em sua costa, então seria impossível.
Mas quando seu dia chegar, você estará preparado, porque ninguém vive atoa.
E muito menos morre atoa.
Era o fim do corredor e uma porta grande o esperava. Parecia um daqueles sonhos em que o fim do túnel chega e então você vai no paraíso – por mais que Jack sabia que estava na beira do inferno.
O que parecia levar uma eternidade, a porta se abriu. A luz de fogo ardente atingiu a retina de Jack que ardeu fortemente. Ele ouvia sons, sons agoniados e revoltados, gritos protestantes e tumulto.
Eram demonios a sua espera no inferno? Não, era pior. Eram anjos torturados pelo mal? Bem perto disso, porque quando Jack foi empurrado para dentro, viu que estava em uma sacada tão grande que parecia um palco imenso, do qual seria o espetáculo principal uma tortura.
Breu estava bem no meio, seu tamanho multiplicado, deixando todos os legionários abaixo pequeninos. Ele tinha um show, ele tinha uma plateia e Jack era o artista principal que entraria em cena em poucos minutos.
Era impossível destacar quem era quem entre tantas pessoas, mas o escuro da madrugada acentuava o brilho de cada Soul-Patronus. Vermelho do Fogo, azul da Água, branco do Ar, verde da Terra. Estavam enfim unidos, e isso fez com que as forças de Jack se redobrassem momentaneamente (e o desejo de enxergar Rapunzel entre todos foi maior, porque algo dizia que ela estava lá).
– Ora, ora – Breu começou, tirando Jack de seu devaneio, atado ao lado da porta com o guarda. – Apresento a vocês Jack Frost, o garoto que me ofereceu sua vida em prol da de vocês. – Breu apontou para todos os legionários, que estavam incrédulos e claramente desejavam agir, mas não faziam, o que Jack considerava prudente.
Todos os legionários ficaram em silêncio, toda a atenção ao discurso de Breu.
– Provavelmente a grande maioria não está entendendo nada, porque seus deuses claramente apoiam a ignorância. – Breu levantou de seu trono. – Mas não eu. Há dezesseis anos no mínimo, luto para estar aqui, governando-os em uma nova era, mais justa. Faltava pouco para meus planos darem certo, mas meus irmãos criaram uma profecia que mudou todo o percurso. Eu apenas conseguiria subiria ao trono quando tivesse derrotado pelo menos um dos quatro grandes,e deveria ser o certo. Em todo momento desconfiei do garoto com o Soul-Patronus de dragão, mas então ficou claro: era e sempre foi o garoto sem memória, Jack Frost.
Alguns murmúros foram espalhados pelos legionários, mas ele foi instantaneamente silenciado quando Breu continuou:
– Poderia, por favor, trazer Jack Frost até o centro, para que todos possam contemplar o rosto do escolhido?
O guarda tocou em seu ombro para empurrá-lo, mas Jack o afastou, indo voluntariamente ao centro. Jack estava de costa para os legionários, pois olhava diretamente aos olhos de Breu, desafiando-o, mesmo que fosse seu fim. Ao virar-se lentamente aos que o assistiam, sentiu-se estranho e tonto. Todos o olhavam com total respeito e medo e Jack se sentiu no topo do mundo, por mais que daqui a minutos fosse cair.
E cada passo que dou eu posso contar.
Porque eles são os últimos, e por isso agora eu dou valor.
– Como se sente, Jack Frost?
– Satisfeito por estar impedindo uma guerra.
– Mais alguma coisa? – Breu parecia estar se divertindo.
– Sim. Estou no topo do mundo.
Breu soltou um riso debochado e Jack que estava de costas para o deus, poderia imaginar que sua forma ampliada deveria estar se deliciando do sofrimento de todos.
– Tudo bem então, senhor topo do mundo. – Breu fez um movimento com a mão para que um de seus guardas levasse Jack até a guilhotina ao lado, que esperava sua cabeça.
Jack não desistira, apenas aceitara de bom grado o que viria. Ficando de joelhos, sentiu sem coração pulsar até doer e sua garganta apoiada na madeira polida. Quando o outro pedalo da madeira encostou em seu pescoço, fechando-o, ele sentiu realmente a morte. Seu corpo estava gelado.
Levantando um pouco a cabeça, Jack viu todos os legionários observando com horror. Com os olhos semiserrados para não chorar, ele viu um brilho poderoso atingindo toda sua visão, seus ouvidos surdos para qualquer barulho que poderia vir.
Talvez ele já estivesse morto e nem notara.
Talvez a morte poderia parecer dolorida, mas na verdade ela é apenas uma passagem, e quando você menos nota, já está lá.
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The Big Four - Guerra das Legiões
Hayran Kurgu"Há um lugar. Um lugar longe, mas tão perto. Um lugar pequeno, mas tão imenso.Um lugar cheio de magia..."Uma espécie especial vive nessa terra. Essa espécie com quatro raças: a raça do fogo, água, terra e ar.Mas uma se sentia mais importante que a o...