Dois

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31 de Janeiro, Quarta-feira

11h15 - Tem acontecido umas coisas estranhas aqui em casa.

Ontem estava lendo um livro, quando minha mãe me chamou para que a ajudasse com as compras. Após guardar tudo que ela trouxe, voltei para o quarto. Juro para você que havia deixado o livro em cima da minha cama, mas não o achei. Revirei todo o meu quarto e nada.

Já ia brigar com meu irmão, pois ele sempre mexe nas minhas coisas. Mas lembrei que ele estava na casa de um amigo. E só nós três moramos em casa. E a não ser que um dos meus gatos ou o cachorro da minha mãe tenha sumido com o livro, não tinha como ter desaparecido. O mais estranho é que ainda não achei. Será que deixei em outro lugar? Isso realmente está me incomodando.

Reparei agora que escrevi "você" ali em cima. Como se estivesse mesmo falando com alguém.

Priscilla, acho que você precisa dormir, menina.

Essas noites mal dormidas com certeza estão afetando meu raciocínio. E não é sobre o livro ou sobre como escrevo aqui. Minhas coisas andam sumindo e reaparecendo em lugares estranhos.

22h13 - Você não vai acreditar. Meu livro, aquele que eu estava procurando, apareceu em cima da estante. E sei que não foi eu que colocou ali, porque com meu 1,65 m não alcanço. Perguntei para minha mãe e para meu irmão se eles sabem como foi parar lá, mas eles nem sabiam do que eu estava falando.

Definitivamente preciso dormir. Talvez um mês inteiro para recuperar todas as horas em claro.

Ah, e sim, usei a palavra "você" outra vez. Pois por mais que ache ridículo, é mais fácil assim. Então vou usar os dois jeitos que a Dra. Ana Carla sugeriu. Vou fingir que escrevo para alguém ao mesmo tempo em que faço de conta que isso é um livro. Afinal, só assim para eu conseguir continuar com isso. No fim das contas só eu irei ler mesmo.

01 de fevereiro, Quinta-feira

03h44 - Está de madrugada e acabei de acordar de outro pesadelo. Outro não. O mesmo. Nunca muda. São sempre as mesmas cenas se repetindo na minha cabeça. É doloroso.

Ainda estou chorando feito uma criança. Por sorte minha mãe não acordou, não gosto de ver a preocupação em seu rosto.

Gostaria de poder apagar minhas lembranças, de verdade. Estou farta de ser assombrada por elas. Estou farta desse peso no peito. Estou farta de tudo. Deveria ter sido eu naquela noite, pois foi tudo culpa minha.

Isso é uma droga! Se sentir tão culpada e não poder pedir perdão. Não ter mais como se redimir do seu erro. É tão injusto.

12h05 - Dormi enquanto escrevia e esqueci de por meu celular para carregar. Por causa disso estou aqui, com ele pendurado na tomada. Minha mãe já passou umas duas vezes no meu quarto, só para falar para parar de mexer no celular e sair um pouco.

Ela não entende que não quero sair. Na verdade, se dependesse de mim nunca mais sairia do meu quarto. Não tenho motivos para isso mesmo, não há ninguém lá fora me esperando.

Se ele estivesse aqui, diria que estou fazendo drama. E talvez até teria razão. Porém não está e é por isso que estou assim.

Estou decidida, vou passar o dia todo deitada na cama e vendo filmes. Pelo menos assim esqueço um pouco de tudo.

Diário de uma Virgem [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora