Quarenta e cinco

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17 de Junho, Domingo 


23h58 — Minha mãe é estranha. Acredita que ela deixou o Nico dormir aqui? E não foi na sala, não. Ele está aqui no meu quarto, deitado nos colchões que tirei da minha cama e coloquei no chão, já que não caberíamos na minha cama de solteiro e eu uso dois colchões. E por causa disso estou nervosa, sentada na cadeira da minha escrivaninha, escrevendo. Não fizemos e nem vamos fazer nada, mas só tinha dormido ao lado do Ge antes

O Nico veio aqui em casa para vermos um filme e passar um tempo juntos, pois no meio da semana é muito corrido para mim. Contudo, começou a chover. Na verdade, era uma tempestade, tão forte que derrubou os galhos da árvore em frente de casa. Sorte que não acertou nada.

Por causa disso, quando Nico disse que ia embora, minha mãe se opôs. Ela simplesmente não deixou ele ir, porque ele está de moto e a chuva piorava cada vez mais.

Ele se ofereceu para dormir no sofá (como se fosse caber ali, ele parece um gigante perto do sofá). Mas eu, não sei porque, dei a ideia de dormimos no chão do meu quarto. E minha mãe, também não sei porque, aceitou. Achei que ela ia brigar ou colocar Nico para fora, com chuva e tudo, mas não. Ela apenas falou para termos juízo e me ajudou a arrumar o quarto.

Me senti estranha quando deitei ao lado dele e ele me abraçou. Na minha cabeça só ficava se repetindo a pergunta dele se queríamos ser namorados.

Como viu que eu estava nervosa, ele disse que não ia me beijar nem nada assim, porque não queria me deixar mais desconfortável. Agradeci e fomos dormir. Bom, pelo menos ele dormiu, porque não consegui nem fechar os olhos.

Sei que é bobo estar assim, mas é algo novo para mim. E como se isso não bastasse, fico pensando no irmão dele. Porque um pouco antes de eu decidir começar a escrever, dei uma de enxerida e vi o que não queria.

Nico já estava dormindo, todo lindo com o rosto tranquilo. Mas eu estava uma pilha de nervos. Foi quando vi a tela de um celular brilhar, como o meu e o dele estavam juntos, peguei. Mas era o dele. Vi apenas o nome do Jonathan e a curiosidade me deixou mais inquieta do que já estava.

Desbloqueei o celular, pois, acredite se quiser, o Nico não tem senha. Abri as mensagens e vi que um pouco antes o Nico havia avisado que dormiria em casa. A resposta do Jonathan foi:

Jonathan: Espero q não seja louco o suficiente para fazer algo com ela. Se for, esquece q tem um irmão


Essas palavras ficaram gravadas em mim. “Louco o suficiente”?  O que ele quis dizer com isso? Será que para ele só um homem louco sentiria algum desejo por mim?

Quanto mais penso, mais me arrependo do modo como me senti bem em seus braços. E tenho mais certeza que nunca vou gostar dele.

18 de Junho, Segunda-feira


15h46 — Quando fui dormir já passava das duas da manhã, por sorte Nico não percebeu nada. Na verdade ele dorme que nem uma pedra, mas acorda sem despertador, algo que achei incrível. Era sete da manhã e ele estava de pé. Eu, com meu mal humor matinal, mandei ele ir falar com minha mãe que também acorda cedo e voltei a dormir.

Acordei por volta das dez, ainda com sono, mas com o humor melhor. Como Nico falou que me traria para o trabalho, fiquei mais tranquila e sentei com ele para tomar café.

Conversamos um pouco da família dele, um assunto que me fez sentir culpada imaginando que ele descobriu que li as mensagens de seu irmão. Contudo não falamos dele, o foco foi os pais deles. E, pelo que Nico me contou, são muito exigentes. Eles queriam que os filhos seguissem o ramo deles na advocacia, Jonathan se rebelou e virou professor, mas Nico que ficou sozinho com os pais, cedeu a pressão e fez o que eles queriam.

Diário de uma Virgem [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora