Visão do Jonathan - Prólogo

31 3 0
                                    

Cheguei da escola e subi direto para o meu quarto. Assim que entrei, joguei minha mochila em cima da cama e fui até o computador na minha escrivaninha perto da janela. Hoje saiu o resultado do vestibular, todo o meu futuro dependia do que estaria escrito na frente do meu nome quando eu conseguisse acessar o site da UEL.
— Fernando, a mãe deixou comida no micro-ondas.
Eduardo, meu irmão dois anos mais novo, entrou no meu quarto sem bater e deitou em minha cama. Ignorei sua presença, ou ao menos tentei, ele sabia ser irritante quando queria.
— Você me ouviu? — perguntou antes de jogar um travesseiro na minha nuca.
Continuei sem respondê-lo, estava ansioso demais para formular uma resposta no mínimo boa o suficiente. A tela do computador à minha frente estava em branco, num carregamento que me parecia infinito. Com certeza centenas de outras pessoas, a maioria jovens sonhadores como eu, estavam nesse instante tentando acessar o site também, causando uma lentidão absurda no sistema.
Finalmente o site carregou. Selecionei letras vernáculas noturno e fui baixando o cursor até a letra J. Prendi a respiração olhando os nomes até que... ali estava.
Jonathan Fernando Amorin.
Uma mistura de sentimentos tomou conta de mim e eu comecei a sorrir devagar.
— A mãe e o pai vão te matar.
E foi só nesse momento que percebi Eduardo em pé atrás de mim, espiando por cima do meu ombro.
— Sim. — falei, pois não tinha razão para negar.
Meus pais, Jaqueline e Otávio, eram advogados respeitados aqui em São Paulo, ambos criaram pra si carreiras admiráveis. E tudo o que eles mais queriam era que os dois filhos seguissem seus passos. Porém isso nunca fizera parte dos meus sonhos. Desde que me reconheço por gente queria ser professor e era o que eu seria, mesmo que isso fosse contra tudo o que meus pais já planejaram para mim.
Eu os enfrentaria se fosse preciso e, com certeza, seria. Só esperava que as consequências de tudo que eu faria a partir desse momento não recaísse sobre meu irmão. Sabia que, apesar das implicâncias, sempre fomos unidos e ele me via como exemplo. Me partiria o coração saber que eu puderia decepcioná-lo.
Girei a cadeira e encarei Eduardo. Sua testa estava franzida e seu olhar perdido.
— O que foi? — perguntei.
Seus olhos castanhos focaram meu rosto, analisando algo, buscando algo.
— Nada.
Só uma palavra bastou para saber que não importava quais seriam minhas próximas ações, havia surgido uma barreira entre nós.
"Desculpe, maninho. Você não entende agora, mas é algo que tenho que fazer por mim. Não estou me afastando de você e dos nossos pais por capricho ou simples rebeldia." Era o que eu queria ter falado diante de seu olhar magoado, contudo não proferi uma palavra.
Mas deveria.

Diário de uma Virgem [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora