09 de Outubro, Terça-feira
22h49 — Tenho andado ocupada estudando. Quando inicia a semana de provas, mal tenho tempo de respirar. Por isso fiquei sem escrever aqui.
Para passar um tempo com minhas amigas, resolvi fazer um grupo de estudos quando surgisse algum tempo que pudéssemos nos encontrar. O último foi hoje de manhã e a gente estava estudando para a prova do Jonathan (quer dizer, eu e a Duda, pois a Isa estudava para outra matéria do seu curso).
Estávamos testando uma a outra, fazendo perguntas para respondermos sem consultar nada, quando a Isa falou:
— Pri, por que não pede uma ajudinha do seu amor? — ela piscou.
Revirei os olhos ao ver Duda ficar esperançosa.
— Não quero passar porque to namorando o professor, quero saber que usei tudo que aprendi. — falei séria.
— Desculpa, você tem razão. — Isa falou.
— Sim. E como vocês tão? — Duda quem perguntou.
Fiquei um pouco cabisbaixa.
— Ah, ele tem estado ocupado, elaborando e corrigindo provas e trabalhos. Mal nos vimos nesses últimos dias.
— Mas logo tem feriado. Por que não planejam algo? — Isa comentou.
Sorri gostando da ideia. Estou mesmo com saudade do Jonathan e vou gostar de passar um tempo com ele, sem ser na sala de aula.
Falando nisso, hoje quase passei mal de nervoso durante a prova dele. Normalmente tiro boas notas, já que gosto de literatura, mas dessa vez me senti pressionada a ir bem, para o Johnny não pensar que nossa relação estava me atrapalhando de alguma forma. Ele é bem exigente nessa questão de estudo, talvez por tudo que teve que enfrentar para fazer o curso que queria.
11 de Outubro, Quinta-feira
10h02 — Me sinto esgotada. Tive uma noite ruim ontem e o dia também foi um pouco tenso.
Tinha remarcado a consulta com a Dra. Ana Carla, pois segunda não consegui ir. Dessa vez deixei o Ge ir junto, ele já me pedia há dias para ver como era e eu sempre negava, com exceção de ontem. E fico feliz por tê-lo comigo, pois após uma conversa sobre minha vida, a Dra. falou:
— Fico feliz em ver o seu progresso, Priscilla. E pelo jeito o diário tem te ajudado muito.
— Sim. — sorri me sentindo orgulhosa e ao meu lado o Ge tinha o mesmo sorriso.
— Mas ainda precisamos falar sobre o motivo das nossas consultas.
Senti o sangue fugir do meu rosto. Geovanne franziu a testa, parecendo confuso.
— Priscilla, você ao menos escreveu no seu diário sobre aquela noite?
Respirei fundo e comecei a mexer na parte rasgada da minha calça, evitando qualquer contato visual.
A Dra. esperou com paciência, mas nós duas sabíamos que eu não falaria nada. Tem sido assim sempre que ela tenta tocar nesse assunto. Nos últimos meses eu entro nesse consultório e consigo falar sobre tudo e me sinto bem, porém quando temos que voltar para o motivo de tudo isso, me fecho completamente.
Quando o horário acabou, nos despedimos e fiquei um pouco sem jeito, pois sabia que isso não era bom. Saí com o Ge e estava muito pensativa.
— Pri, ela tava falando da noite do acidente? — Ge perguntou enquanto estávamos no ônibus.
Fechei os olhos com força, pois sua voz falando sobre esse assunto reavivou algumas memórias que eu batalho tanto para enterrar. O carro, a chuva, a estrada, o sangue...
Durante todo o dia fiquei mais quieta que o normal, lutando com minha própria mente para não pensar. No entanto tentar não pensar em algo, só faz com que o pensamento indesejado entre com mais força na sua consciência.
Como já tinha feito todas as provas, resolvi ir para casa após o trabalho.
De noite, no meu quarto, Ge e eu ficamos deitados na cama. Primeiro em silêncio, depois ele começou a falar de momentos que passamos juntos. Como quando tocávamos a campainha de alguns vizinhos a caminho da escola e saímos correndo, eu me sentia uma fora da lei.
— Lembra quando você me ensinou a pular corda, porque os garotos riram de mim por eu ter caído na aula de educação física? — ele falou com os olhos brilhantes.
— Sim. Me senti tão incrível sendo boa em uma atividade física e você não. — confessei rindo.
— E aquela vez que nadamos no rio perto da casa da sua prima e você quase se afogou?
— Nadar? Até hoje não sei fazer isso.
— Só porque é teimosa e não me deixou te ensinar.
— Rum, porque quando você ia me ensinar, a meninas do bairro da minha prima ficaram dando em cima de você.
Ge começou a me importunar, lembrando de todas as vezes que as garotas ficaram atrás dele. E acredite em mim, foram muitas vezes. Até que ele falou:
— Aquela noite, a gente nunca pode conversar direito.
Meu coração acelerou, sabendo bem do que ele falava e não querendo ouvir.
— Por favor, Ge, não. — sussurrei.
— Pri, guardar tudo pra você só vai te fazer mal.
Senti as lágrimas inundarem meu rosto e comecei a chorar. A princípio foi um choro contido, porém logo comecei a chorar como uma criança. Geovanne me puxou para seus braços e acariciou meus cabelos.
— To aqui com você. — sussurrou.
E ele estava mesmo. Mas ainda me perguntou, até quando? Qual será o dia que eu terei que ver ele partir novamente? E nesse dia estarei pronta ou voltarei a ficar como estava no começo desse ano?
12 de Outubro, Sexta-feira
17h22 — Finalmente terei um tempo com o Johnny. Ele me chamou para jantar no apartamento dele, pois lá ficamos mais a vontade sem nos preocupar se alguém que não devia vai nos ver.
E tem mais, propus passar o fim de semana na casa dele. Claro que ele adorou. Já avisei minha mãe para ela não se preocupar e, pasme, o Ge me ajudou a arrumar minha bolsa. Ele também vai me ajudar a ficar pronta para o encontro.
Sei que é um grande passo para o Ge, mas acima de tudo somos melhores amigos e sempre nos apoiamos. Fico feliz por tê-lo aqui para me ajudar e me aconselhar.
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Oi, amores.
Parece que a Pri não anda tão bem como imaginava. Espero que ela se recupere logo.
Tenham um bom fim de semana 💙
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Diário de uma Virgem [Concluído]
RomanceQuando Priscilla inicia seu diário, a pedido de sua psicóloga, tudo que ela pensa é que seria um desperdício de papel registrar seus dias monótonos e seus traumas. Mas sua vida vira do avesso quando seu passado volta para assombrá-la na figura arrep...