Três

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13 de Fevereiro, Terça-feira

21h10 - Hoje foi estranho.

Um estranho bom.

Ainda estou sorrindo feito boba.

MEU DEUS! ELE REALMENTE MANDOU UMA MENSAGEM. AAAAHHH!!!

Calma, Priscilla. Respira. Ok, deixa eu explicar.

Na última vez que escrevi (nossa, faz quase duas semanas), comentei sobre o pesadelo e como aquilo me deixou mal. Pois então, achei que os filmes fossem me ajudar, mas só piorei.

Me tranquei no quarto e nos primeiros dias não saí nem para comer. Realmente só queria dormir. Dormir de verdade, sem pesadelos ou coisa do tipo. Fiquei assim por todos esses dias em que não escrevi, até faltei nas consultas com a Dra. Ana Carla.

Então ontem minha mãe finalmente deu um basta. Estava tão mal, que ela praticamente me deu banho, me sinto constrangida só de lembrar. E como desde o final de semana está tendo festa na praça do centro da cidade, por causa do carnaval, ela me falou que hoje iríamos dar uma volta. Claro que bati o pé, dizendo que não ia. Mas mãe é mãe, né? E ela me convenceu. Falei que ficaríamos apenas uns minutos e nada mais e ela concordou.

Logo de manhã, era umas dez horas, ela nos acordou e falou para nos arrumarmos. Meu irmão aproveitou e vestiu uma fantasia de pirata, como ele tem 17 anos, pretendia encontrar com os amigos. Minha mãe estava tão animada que colocou um arquinho de unicórnio na cabeça. Ela tentou me convencer a por pelo menos uma máscara ou algo assim, mas me neguei. Só estava indo por causa dela mesmo.

Quando chegamos na praça, vi aquele amontoado de gente dançando e se esfregando em frente ao palco, que foi montado unicamente para o carnaval, e me senti mal. Sempre detestei lugares cheios. Meu irmão logo achou os amigos dele e se afastou e minha mãe, que parece conhecer a cidade inteira, foi de grupinho em grupinho por a fofoca em dia. Acabei ficando sozinha ali e me sentindo uma alienígena, pois era a única sem fantasia e parada em um canto.

Tentei aguentar o máximo que pude, ouvindo aquela música ensurdecedora. Acho que dez minutos depois, decidi procurar minha mãe para irmos embora. E aí que tudo começou a piorar, ou pelo menos pensei assim na hora. Enquanto tentava atravessar o mar de gente, fui empurrada de um lado para o outro. Acabei esbarrando em alguém com um copo de bebida e fiquei encharcada e fedendo a cerveja.

Estava prestes a xingar a pessoa ou chorar, acho que o segundo seria o mais provável, quando ele gritou para eu ouvir acima da música alta:

- Desculpa. Não te vi.

Ignorei o cara e tentei sair do meio do povo. Finalmente consegui e me sentei em um murinho em frente ao cineteatro (único cinema da cidade). Nesse momento estava quase chorando e o pior é que estava sem celular para ligar para minha mãe, pois tinha esquecido em casa.

Pensei em voltar sozinha para casa, mas antes que pudesse me levantar, o cara do copo de cerveja reapareceu. Dessa vez reparei nele com atenção. Ele tinha uma pele bronzeada linda e era muito alto. Estava usando uma calça preta, apenas um colete da mesma cor, mas com bordados coloridos; uma máscara combinando com o colete; uma capa presa ao pescoço e um sombreiro enorme.

- Tudo bem? - ele perguntou.

- Você é o que? Um super-mariachi? - brinquei para não responder a sua pergunta. Poderia acrescentar sexy ao super-marichi, pois seu abdômen e braços a mostra eram musculosos e definidos.

Ele abriu um sorriso lindo. Quase sorri junto. Quase.

- Até agora você foi a única a acertar minha fantasia. - ele me analisou e não pude evitar corar. - E você tá fantasiada do que?

- De alguém que gostaria de tá no sofá atualizando as séries, mas foi arrastada pela mãe para tentar se distrair. - minha boca foi mais rápida que meu cérebro.

Detesto quando falo sem pensar, porque quase sempre são coisas que me fazem passar vergonha.

Mas para minha surpresa, ele riu. E que risada gostosa.

- E do que você precisa se distrair?

Ao ouvir sua pergunta, voltei a me sentir mal. Por isso estou dizendo que foi um dia estranho. Mas calma que ainda não acabou.

Ele percebeu que eu não iria responder, então se apresentou:

- Me chamo Fernando, e você?

- Priscilla.

Fernando levantou. E por um momento achei que tinha feito ou falado algo errado.

- Como você foi a única a acertar minha fantasia, vou te pagar uma bebida.

-Obrigada, mas pra mim já basta a minha roupa feder a cerveja. -fechei os olhos ao terminar de falar, com vergonha. Tentei corrigir: - Eu não bebo.

- Ótimo. Então vamos comer algo.

Calma, minha mãe está me chamando.

Ainda dia 13 de Fevereiro

21h53 - Onde parei?Ah, sim. Ele estava me convidando para comer algo.

Minha primeira reação, não vou negar, foi inventar uma desculpa, como eu tenho feito desde o começo do ano. Ia dizer que tinha outra coisa para fazer ou algo assim. Mas havia algo em seu sorriso e nos seus olhos castanhos que me incapacitou de mentir. Aceitei o convite e fomos para uma das barracas, com ele ao meu lado foi mais fácil atravessar a multidão.

No começo estava tão envergonhada que não falava nada. Mas enquanto comíamos o pastel que ele comprou, fui me soltando e acabei falando tudo que vinha na minha cabeça. Me senti tão a vontade. Faz muito tempo que não me sentia assim. Na verdade, foi a primeira vez nesse ano que falei mais do que escutei. E foi incrível.

Mas o melhor foi quando disse que deveria ir, pois minha mãe podia estar preocupada. Ficamos nos olhando tão intensamente que tudo a nossa volta desapareceu. E ele me beijou. Sim! Dá para acreditar? Ele se aproximou devagar e primeiro me deu um selinho, quando deixei claro que ele poderia me beijar, foi maravilhoso. Ele foi tão gentil e carinhoso.

Depois ele me ajudou a sair do meio da multidão e antes de eu me afastar, pediu meu número. E eu passei. Então fui até o inicio da rua e encontrei minha mãe, que já estava doida me procurando. Fomos embora após explicar para ela que fiquei andando no meio das pessoas. Claro que não falei nada do Fernando. Ela não entenderia. Na verdade também não entendo.

22h18 - Ai, agora estou me sentindo mal. Não deveria estar tão animada por causa de um cara. Nem deveria ter aceitado o beijo e dado meu número.

Quer saber? Acho que não vou responder. Deixa ele pensar que dei o número errado. É melhor assim. Afinal, foi só um beijo.

Eu não deveria ter saído de casa.

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