Dezoito

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25 de Março, Domingo

10h33 — Acordei com carícias no cabelo. Tem jeito melhor de acordar?

Quando olhei para o lado, vi o Ge sorrindo. Meu coração acelerou e eu não aguentei, o beijei. Para minha surpresa ele retribui com tanta doçura. Só de lembrar arrepio.

— Bom dia. — sussurrou.

— O que você tá tramando?

A risada dele ecoou pelo quarto. Fiquei tensa esperando alguém entrar e nos ver.

— Não seja escandaloso. — reclamei.

Geovanne riu mais. Segurou meu rosto e me deu um beijo apaixonante.

— Fui muito bobo por não ter feito isso antes. — sussurrou e me deu um selinho.

— Vai ficar me beijado?

Seus olhos ficaram um pouco triste, apesar de seu sorriso ainda estar em seus lábios.

— Queria. Mas não posso, desculpe.

Permaneci em silêncio, admirando ele. Realmente perdemos muito, apenas porque fomos bobos.

Geovanne se levantou e foi para o meio do quarto, mantive minha atenção nele. Seus braços se esticaram, apontando para o meu notebook sobre a escrivaninha. Sorri ao ver a imagem de abertura do filme The Rocky Horror Picture Show.

— Quero me desculpar por ontem. Então preparei uma lista dos filmes que você ama.

— E quando fez isso?

— Esqueceu que sou um fantasma, Pri? Não durmo.

Agora vou voltar para o quarto e assistir com ele. Estava tomando café da manhã e resolvi escrever, porque estou muito feliz com a surpresa.

26 de Março, Segunda-feira

04h56 — Não consigo dormir. Fico repetindo sem parar a conversa que tive com o Geovanne.

A gente já tinha assistido uns dois filmes, quando entramos no assunto sobre sonhos e planos futuros. Geovanne, como sempre, me incentivou a voltar a escrever e seguir a carreira de escritora, como sempre quis. Desconversei um pouco, pois sabia que ele tinha razão. Após um tempo falou:

— É difícil estar aqui e não querer voltar a ser quem eu era, ou tentar continuar de onde parei.

Olhei para ele e me surpreendi ao descobrir que fantasmas choram. Havia um rastro brilhante em seu rosto e seus olhos estavam quase transparentes.

— Eu seria um bom professor. Ia mostrar como a matemática pode ser divertida.

Ver ele desse jeito... Droga, estou chorando mais ainda.

05h30 — Você quer saber como me sinto? Me sinto zangada com tudo e todos. Irada com o universo. É assim que me sinto Dra. Ana Carla!!!

Por que ele? Por que ele se foi naquele maldito acidente e não eu? Ele tinha sonhos, planos. Ia ser professor. Ajudaria o mundo a ser um pouco melhor, porque ele seria o tipo de professor que escuta e que se esforça para dar atenção. Agora eu... eu não sei o que pretendo fazer com minha vida.  Entrei nesse curso idiota por que queria ser uma grande escritora. Sou tão egoísta, só penso em mim e, no entanto, ainda estou aqui.

Viva.

 Isso é tão injusto.

31 de Março. Sábado

22h21 — Tive uma recaída essa semana. Me isolei do mundo, como fiz nos primeiros dias após o acidente. Não fui para a faculdade, nem na consulta com a Dra. Ana Carla. Desliguei meu celular e só sai do quarto quando minha mãe não estava em casa e o Leo estava trancado no quarto. Não quis conversar com o Geovanne também. Pelo menos ele foi compreensivo e apenas ficou do meu lado, sem fazer perguntas, sem dar conselhos ou sermões... ele apenas deitou comigo e me abraçou. E isso me fez o amar mais.

Diário de uma Virgem [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora