Quarenta e seis

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19 de Junho, Terça-feira

22h57 — Sabia que a idiota da Laura ia aprontar alguma, só não esperava que ela fosse ser tão cruel.

Hoje fui para a biblioteca assim que cheguei na universidade. Estava olhando os livros, procurando o que precisava, quando vi de relance um rosto familiar. A princípio achei que tinha visto errado, mas quando me virei, flagrei Geovanne olhando os livros ao meu lado.

— O que você faz aqui? — questionei.

— Tava entediado.

— Ge, e o nosso combinado?

— Calma, prometo que serei cuidadoso.

Bufei irritada e saí dali, nem peguei o livro que precisava. Fui direto para a sala, o professor já estava ali, mas não o cumprimentei, porque lembrei da mensagem dele para o Nico.

A aula começou e correu tudo bem. Ge tinha aparecido do meu lado e ficava comentando sobre a aula ser chata e como ele sentia falta da matéria de cálculo. Ignorei ele porque estava brava e porque nem em sonho cálculo é melhor do que literatura.

O professor terminou a aula um pouco antes, o que é um milagre, pois ele é rígido com o horário. Laura se levantou e chamou a atenção de todos, ela estava com um sorriso nada amigável.

— Escutem, pessoal. Quem quiser falar com alguém que já se foi, pode procurar a Priscilla. Ela fala com fantasma.

Todo mundo se virou para mim, até o professor Jonathan. Demorei um pouco para me recompor, xingando mentalmente Laura por estar fazendo isso. Ge segurou meu braço, sabia que estava visível apenas para mim, então não interagi com ele, para não por mais lenha na fogueira.

— Da onde tirou isso garota? — perguntei quando consegui pensar direito. — Quer tanto chamar a atenção que sai inventando esses absurdos?

O clima estava muito tenso. Parecia aquelas cenas de filme de faroeste quando duas pessoas vão duelar e todos esperam para ver quem saca a arma primeiro.

— Já te vi falando sozinha várias vezes, querida, até mesmo hoje na biblioteca. Ou você está louca ou falando com seu amiguinho que morreu. — parece que a Laura foi a mais rápida no duelo.

Não pude evitar e olhei direto para o professor, que me encarava. Ninguém ali sabia sobre o Geovanne ou o acidente. E eu queria que continuasse assim. Como ela descobriu?

— Sabia que já tinha te visto antes. — Laura continuou. — Foi nas reportagens onde você matou seu amigo.

As pessoas começaram a sussurrar, se olhando. Me senti minúscula, um inseto. E Laura sorria.

— Não o matei. — falei.

— Então nos conte o que houve no dia do acidente. Porque seu amigo morreu?

Meu coração estava batendo cada vez mais rápido e me sentia tonta. Queria sair correndo, mas não sabia se conseguiria. Comecei a chorar, o que aumentou o sorriso da Laura. Nesse momento percebi que ela era cruel, não apenas uma garota mimada ou incompreendida. Ela gostava de por as pessoas no lugar.

— Qual era mesmo o nome dele? — ela fingiu pensar. — Geovanne?

— Geovanne? — ouvi o professor repetir.

Isso foi a gota d’ água. Juntei minhas coisas e sai correndo da sala, os zumbidos das vozes surpresas das pessoas enchiam meu ouvido. Corri rápido e nem sabia bem para onde.

Uma mão forte me segurou e me puxou para um abraço.

— Calma. — ouvi a voz do Jonathan suave.

Diário de uma Virgem [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora