Quinze

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18 de Março, Domingo

10h55 — O Geovanne só apareceu ontem. Eu estava me preparando para ter minha noite perfeita em frente a TV, já que estava sozinha em casa. Tinha feito a pipoca e estava com meu copo cheio de refrigerante, quando ele apareceu. Nem me disse por onde andou, nem nada parecido, apenas chegou me passando sermão.

— Você perdeu a cabeça. Nunca foi tão irresponsável assim. Onde já se viu, ficar conversando com alguém pela internet sem saber quase nada dessa pessoa.

E não foi só isso. Ele ficou falando e falando por um bom tempo, mas eu parei de prestar atenção após o primeiro minuto. Quando finalmente fez uma pausa, eu disse:

— Achei que os fantasmas possuíssem as pessoas e não o contrário, mamãe.

Ele me olhou com aquela cara brava mais linda desse mundo e claro que eu sorri. Adoro provocar ele.

— Se já acabou com o sermão, pode ficar e assistir comigo.

Geovanne cruzou os braços. Eu sabia que estava irritado, mas também sabia que isso não ia durar por muito tempo.

— Por favor.  — pedi. — Estou com saudade das nossas noites de filmes.

Ele revirou os olhos me dando a certeza que amoleci o seu coraçãozinho. Geovanne sentou no sofá e eu sentei ao seu lado. Ele me abraçou, me deixando bem perto dele e meu corpo inteiro se arrepiou no mesmo instante.

Dei play e o filme começou. Resolvi assistir O Estranho Mundo de Jack, pois era o meu preferido.

— Outra vez esse filme? Você não enjoa?

— Não.

— Por que você gosta dessa coisa?

Pausei o filme e olhei para ele.

— Não insulte meu precioso Jack, pois saiba que é o filme perfeito para mim.

Ele franziu a testa.

— É meio assustador com essas criaturas esquisitas. Tem um romance fofo entre o Jack e a Sally. Tem natal e halloween, as datas que mais gosto. E é uma animação e musical.

— É um stop motion. — falou.

— Fica quieto e assiste.

Depois desse filme, ainda vimos 10 Coisas que Eu Odeio em Você (adoro esse também) e Guardiões da Galáxia.

Foi divertir passar esse tempo com ele. Mesmo ele me irritando quando eu ficava toda boba nas cenas de romance.

20h34 — Droga. Agora minha mãe acha que eu sou louca.

Já pedi tantas vezes para ela não entrar no meu quarto sem bater. Mas nunca me escuta. E graças a isso, ela me pegou falando com sozinha. Quero dizer, não sozinha, porque eu estava falando com o Geovanne. Mas como ele resolveu que não vai aparecer para mais ninguém além de mim, a minha mãe entrou no quarto e me viu falando com o ar.

Demorou um pouco para eu perceber que ela estava na porta, pois se eu tivesse visto assim que ela entrou, poderia ter disfarçado. Na verdade, não sei o que exatamente ela ouviu da conversa, porém a expressão em seu rosto me fez crer que foi o suficiente.

Como ela saiu do meu quarto sem dizer nada, aposto que amanhã será estranho com a Dra. Ana Carla.

O pior foi o Geovanne rindo da minha cara. Ele disse que parecia que eu tinha visto um fantasma (HAHA, hilário). Ás vezes o senso de humor dele me irrita. Mas ele não sabe sobre minhas idas ao psicólogo, então não entendeu a gravidade da situação.

19 de Março, Segunda-feira

15h21 — Como eu disse, a consulta com a Dra. Ana Carla foi estranha. Com certeza minha mãe comentou algo com ela, mas é claro que a Dra. não me disse nada.

Ela perguntou da minha relação com o Geovanne, como era, o que fazíamos, essas coisas. Como sempre, não disse muito. Isso não iria fazer diferença alguma, ainda mais agora que o Geovanne voltou para mim. Na verdade, estou pensando seriamente se preciso continuar indo a essas consultas. Não tenho mais que superar o luto, já que tenho meu amigo comigo outra vez.

Contudo sei que isso preocuparia demais minha mãe. Então é melhor continuar indo. Afinal, mal não vai fazer.

Eu deveria ter comentado com a Dra. Ana Carla sobre a volta às aulas, pois é o que está me deixando nervosa de verdade. Por sorte, tenho o Nando para conversar e ele me tranquilizou um pouco. Quando falei do meu receio causado pela mudança de turno — sem especificar o motivo que me fez mudar, claro. — ele foi bem compreensivo.

 

[19/03 15:12] Nando:  Eu sei como pode ser difícil ser a pessoa nova, mas tenho certeza q vc fará amigos logo. Vc é maravilhosa.

[19/03 15:12] Pri: Não sei se sou tão maravilhosa assim. Lembra qnd nos vimos no carnaval e eu falei praticamente td o q me vinha a cabeça? Acho q preciso trabalhar meu filtro.

[19/03 15:12] Nando: Isso faz parte do seu charme. E eu adoro.

[19/03 15:14] Pri: Agora fiquei sem graça 😳

[19/03 15:12] Nando: Não fique. Só estou sendo sincero 😘

Ele é fofo demais. Tenho vontade de prender ele em um potinho e por na minha estante (espero que isso não seja muito estranho).

23h45 — Cheguei em casa faz um tempinho. Comi a comida que minha mãe deixou separada no microondas para mim (obrigada, mãe) e tomei um banho para dormir, mas antes preciso escrever aqui como foi o primeiro dia de aula e vou aproveitar que o Ge ainda não apareceu.

Antes de tudo, preciso deixar registrado que andar de ônibus é uma porcaria. Ainda mais quando está lotado. Eu não consegui nem sentar, tive que ficar em pé, espremida no meio de várias pessoas. Por sorte, conheci uma menina no ponto, que foi conversando comigo. A Isabelly, ou como ela me pediu para usar, Isa.

Eu tinha acabado de chegar no ponto perto de casa e como nunca peguei esse ônibus antes e só tinha a Isa no ponto, fiquei com medo de ter perdido, o que seria horrível pois só tem um ônibus que sai daqui de Ibiporã e vai direto para a UEL (dá pra acreditar nisso?). Então juntei minha coragem e perguntei para ela e para meu alívio, ela também ia pegar o mesmo.

Não sou muito boa em conversar com quem não conheço, mas com a Isa foi bem natural. Gostei disso. Durante a conversa, descobri que ela tem 21 anos; está no segundo ano de Ciência Sociais, que fica no mesmo centro que o meu (no Centro de Ciências Humanas, ou CCH). Ela desceu comigo e na volta ela me esperou e voltamos juntas, conversando muito também.

Conhecer a Isa foi a única parte boa do meu dia, pois não foi apenas o ônibus que me afligiu. Foi também o professor de Literatura Brasileira, Jonathan Amorim.

Ah, calma. O Ge chegou e quer saber como foi tudo. Vou falar com ele, pois ele resolveu não me seguir hoje. Graças a Deus.

Diário de uma Virgem [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora