Oitenta e oito

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07 de Dezembro, Sexta-feira

23h29 - Minha vida virou de ponta cabeça desde a última vez em que escrevi aqui.

Meu diário (sim, esse caderno lindo no qual escrevo agora), sumiu alguns dias após o aniversário do Geovanne. A princípio pensei que fora meu amigo, tentando fazer alguma pegadinho ou algo semelhante. Contudo ele me jurou que não tinha nada a ver com isso. E foi nessa hora que o desespero bateu. Onde, diabos, estaria meu diário? E se alguém o lesse?

Fiquei tão focada em achá-lo, que nem me lembrei de escrever em outro lugar.

Mas hoje me devolveram e antes de contar como isso aconteceu, vou tentar te atualizar um pouco.

Mais ou menos dois dias depois que dei falta do meu diário, comecei a receber algumas mensagens estranhas no celular, de gente perguntando quanto eu cobrava para uma sessão para falar com entes queridos. Claro que vi isso como um mal sinal, mas decidi não entrar em pânico até entender o que estava acontecendo.

No mesmo dia, quando estava na universidade, as pessoas passavam por mim fazendo barulhos fantasmagóricos e mexendo os dedos em minha direção. E não apenas isso, quando cheguei no meu centro, comecei ouvir muitos sussurros, a maioria do corpo estudantil feminino. Observava eles me medirem com os olhos e ouvi alguns cochichos:

- Aquele professor gato saindo com essa daí? Nem se ele fosse cego.

- Acho que ela inventou pra chamar atenção.

- Se bem que ela saiu com o irmão dele.

- Ou ele se aproximou com dó e ela espalhou que saiam.

Se antes eu tentava me manter calma, quando comecei a ouvir esses boatos me desesperei. Precisava saber logo o que estava acontecendo.

Vi a Isa e a Duda juntas numa mesa, fui até elas, para tentar me informar de alguma forma. Assim que me viram, seus rostos ficaram pálidos.

- O que faz aqui? - Duda perguntou.

- Como assim? - franzi a testa. - Hoje não tem aula?

- Tem, mas...

- Você não viu? - Isa perguntou.

Neguei com a cabeça, sentindo até minhas pernas falharem. Sentei ao seu lado com receio de cair. Minha amiga pegou o celular e abriu na página "Encontrados da UEL", era uma página onde os alunos, de forma anônima, postavam as coisas, muitas vezes era sobre alguém que eles viram em algum dos centros e queriam saber o nome para ver se rolava algo, outras vezes eram apenas dúvidas sobre os cursos ou sobre o regulamento.

Comecei a ler as últimas postagens e senti o sangue fugir da minha face e até fiquei um pouco tonta. Ali, naquela página onde praticamente qualquer um da universidade tinha acesso, alguém começou a postar desde de manhã páginas inteiras do meu diário. A pessoa postava a cada uma hora e colocou como título "Diário de uma virgem". Havia passagens de quando eu não estava bem, de quando o Ge apareceu, de mim falando do Jonathan, do nosso beijo... Pelo jeito a pessoa não pretendia postar que perdi a virgindade com o Jonathan, ou ela não havia chegado nessa parte ainda.

Ao ler o nome do Jonathan e o que escrevi sobre alguns de nossos beijos, minha mente entrou em alerta. Eu tinha que avisá-lo. Saí correndo, nem ligando se trombava nas pessoas ou se elas me xingavam. Fui até o prédio dos professores, subi as escadas de dois em dois degraus e bati na porta trinta e seis, mas não tinha ninguém ali.

Desci correndo e fui até a secretaria, perguntar onde o professor Jonathan estaria. Mas no meio do caminho, o avistei. Fui até ele e parei na sua frente, tentando recuperar o fôlego.

Diário de uma Virgem [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora