Vinte e um

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05 de Abril, Quinta-feira

12h13 — Ontem a noite, ouvi minha mãe falando com a minha tia numa ligação. Ela está preocupada com nossa renda, pois não consegue arrumar emprego e a pensão do meu pai não é muito. Dormi mal pensando nisso.

Hoje cedo o Ge perguntou porque eu tava inquieta e contei a conversa da minha mãe.

— Pri, ontem na praça de alimentação, fui andar um pouco enquanto vocês comiam e vi um lugar com um cartaz para contratar.

— Sério? Que lugar?

— Aquele que vende pastel. Não lembro o nome.

Agora estamos aqui na praça de alimentação do shopping, em frente ao local e esperando o dono poder falar comigo. Estou nervosa, pois só trabalhei uma vez antes e foi cuidando de crianças.

18h30 — Consegui o emprego!

Estou feliz. Vou trabalhar lá todos os dias, com uma folga durante a semana. Ficarei no caixa, pois o Sr. Carneiro não confia em ninguém além da sua família para entrar em sua cozinha. Comecei hoje mesmo. O movimento ali é baixo, pois as pessoas preferem comer no Burguer King ou no Mc Donald’s. Mas eu não ligo de ter pouco movimento, o Ge me ajudou a passar o tempo.

O único problema é que saí muito em cima da hora e vou chegar atrasada na aula do Jonathan, justo na dele. Espero que ele não fique bravo.

Preciso mudar também o horário das consultas com a Dra. Ana Carla.

19h45 — Odeio demais esse professor.

Cheguei meia hora atrasada, correndo e ele me expulsou da sala. Falou que devo respeitar o horário das aulas e que não posso chegar quando quero. Nem me deixou falar.

Ele é um babaca. Nenhum professor liga se chega atrasado. Por que ele tem que ser tão cretino?

Com certeza ele vai me ouvir, pois vou ficar aqui, até acabar a aula.

To indignada.

23h55 — Já estou em casa. Quando contei para minha mãe sobre o emprego, ela não gostou muito. Disse para eu ficar bem e não me preocupar com dinheiro, mas nunca me sentiria bem sabendo que não ajudei de todas as formas possíveis.

A Isa ficou feliz com meu emprego, disse pra eu dar desconto para ela quando for me visitar. E assim como eu, ela ficou brava pelo professor não ter me deixado entrar na sala.

Falando nisso, vou contar o que aconteceu depois do fim da aula dele.

Esperei todos saírem e entrei. O professor Jonathan estava sentado na mesa, arrumando suas coisas para sair.

— Não foi justo o que você fez. — falei séria.

Ele levantou o olhar lentamente, quase como se estivesse entediado. Mesmo sendo um babaca, esse homem ainda é lindo.

— Você sabe o horário. Da próxima vez não se atrase. — falou com a voz calma e voltou a baixar os olhos para mesa.

Bufei, estava irritada. Ele me olhou e ergueu uma sobrancelha.

— Nenhum professor liga pra isso.

— Então fique a vontade para chegar atrasada nas aulas deles e não nas minhas.

Fiquei de boca aberta.

— Ok. Mas só me atrasei porque comecei a trabalhar hoje e acho chato ficar pedindo para sair antes logo no primeiro dia.

— Isso você deve resolver com seus patrões.

Esse cara não tem um pingo de compaixão. O que ele tem no peito? Gelo?

Diário de uma Virgem [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora