Treze

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11 de Março, Domingo

17h34 — Estou um pouco arrependida por ter falado para o Nando sobre o Geovanne. Sei que era o certo a fazer, mas agora não tenho notícias de nenhum dos dois. Voltei a estaca zero.

Passei o final de semana vendo filmes. De novo. E até desisti de chamar o Geovanne, estou irritada com ele. Não entendo porque ele me beijou se ia desaparecer depois. Por que me dá esperanças então?

E o Nando. Estou me sentindo muito mal. Ele é tão legal comigo. Mas o que eu ganharia mentindo?

Ai, quer saber? Que se danem os dois.

O que está feito, está feito.

E essa é minha última semana de férias. Segunda que vem começa as minhas aulas. Vou tentar fazer algo nessa última semana. Talvez me ajude a me sentir melhor. Ainda mais porque eu sei como ficarei nervosa quando voltar a estudar, pois eu mudei para o período da noite e não vou conhecer ninguém. Antes eu estudava de tarde, mas após o acidente preferi mudar, pois todos os meus colegas ficaram sabendo da morte do Geovanne e eu não aguentaria ter que lidar com a pena deles.

12 de Março, Segunda-feira

17h01 — Cheguei em casa após a consulta com a Dra. Ana Carla e quem eu encontro no meu quarto? Sim, o Geovanne.

Ele estava deitado na minha cama, com as mãos atrás da cabeça, uma perna esticada e a outra dobrada. Ele me olhou e abriu aquele sorriso cafajeste dele. Por um momento até esqueci que estava brava, tudo o que eu queria era correr para os seus braços. Mas aí me lembrei do beijo e que ele sumiu logo depois, sem explicação alguma.

Então comecei a olhar minha estante, procurando um livro para ler, ou pelo menos tentando. Porque mesmo que estivesse decidida a ignorar o Geovanne, meu corpo me traia e a qualquer barulho vindo da cama, meus sentidos ficavam em alerta.

— Pri, precisamos conversar.

Continuei olhando meus livros. Ás vezes pegava um, olhava a capa, lia atrás e guardava de novo.

— Eu entendo que esteja brava, mas me ignorar não vai adiantar nada.

Suspirei.

— Você está certo. Então pode sumir, como você fez depois de ter me beijado.

Não ouvi ele se levantar da cama, mas o senti atrás de mim.

— Tem como conversarmos?

Peguei outro livro e o folheei, parando em uma ou outra página e fingindo ler com muito interesse.

— Priscilla. — falou impaciente.

— Vai embora, Geovanne. Não estou a fim de falar com você.

Ele segurou meu braço e me virou, ficamos frente a frente. Foi difícil ficar tão perto e não me lembrar do beijo ou sentir vontade de beijá-lo outra vez.

— Aquele beijo foi um erro. Não deveria ter acontecido.

Suas palavras perfuraram meu coração e sem que eu pudesse controlar meus olhos se encheram de lágrimas. Como ele era capaz de dizer que aquilo foi um erro? Como ele podia dizer que não deveria ter acontecido, sendo que ele confessou que também queria aquilo tanto quanto eu?

— Então por que me beijou? — minha voz saiu trêmula.

Geovanne me olhou com carinho e me abraçou. Não aguentei e comecei a chorar. Ele passou as mãos delicadamente em meu cabelo.

— Gostei do seu cabelo assim, combina com você. — sussurrou.

Antes meu cabelo era comprido, chegava no quadril. Mas depois do acidente eu o cortei, porque não reconhecia mais a imagem que via no espelho. Nunca achei que ele me veria de cabelo curto. Assim como nunca achei que me beijaria.

— Por que me beijou? — repeti.

— Porque amo você.

Ele se afastou um pouco para me olhar.

— Eu te amo tanto e há tanto tempo.

— Também amo você. — falei as palavras que estavam entaladas na minha garganta durante anos. Porém não senti o alívio que pensei que sentiria.

— Deveríamos ter tido coragem e falado isso antes. Eu deveria ter me declarado quando estava vivo. Agora é tarde demais.

Quando ele disse isso chorei mais ainda.

— Não é tarde demais. Você voltou. Estamos juntos agora.

Geovanne negou com a cabeça.

— Eu sou um fantasma, Pri

— Não ligo.

Ele sorriu e limpou meu rosto um pouco, antes de voltar a acariciar meu cabelo.

— Mas deveria.

Abracei ele.

— Não sabia como te dizer antes, mas não tem outro jeito. Estou aqui por você.

— Como assim?

— Minha missão aqui na Terra é fazer você conseguir seguir em frente sem mim. Só assim poderei descansar em paz.

— Não consigo. Tentei viver sem você e falhei.

— Não. Você não tentou. Na verdade quando começou a fazer isso, apareci e atrapalhei tudo.

Geovanne se soltou do meu abraço. Fiquei parada, com os braços caídos ao lado do corpo, desejando de todo o coração que ele não dissesse o que suspeitava que ia dizer.

— É melhor você se acalmar.

— Você vai embora? — perguntei ainda receosa.

— Não vou a lugar nenhum.

E ao dizer isso, ele sumiu.

Agora estou aqui deitada na cama, tentando entender como vai me ajudar a viver sem ele, sendo que tudo o que eu quero é ele aqui, mesmo que seja como fantasma.

Diário de uma Virgem [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora