Esse é um diário particular. E com particular quero dizer que ninguém além de mim, Priscilla Viviane Santi, pode ler o que está escrito aqui.
NINGUÉM!!!!
Isso Inclui você, Leo. Se ler uma só frase, juro que queimo todos os seus jogos. Aliás pode largar isso agora.
Estou de olho, hein.
22 de Janeiro, Segunda-feira
15h34 - Já faz mais de meia hora que estou olhando para a tela do meu celular. Esse tracinho fica piscando, esperando eu digitar alguma coisa. Mas o que? Não sei sobre o que escrever. Exceto, talvez, sobre não saber o que escrever.
Em pensar que meu sonho sempre foi me tornar escritora e até passava horas mergulhada em mundos criados pela minha imaginação. Mas tudo isso se perdeu. Essa parte minha morreu naquela noite.
Esse é o ponto central. Aquela noite. Ela ainda me atormenta sempre que fecho meus olhos. Posso ver tudo com clareza, como se estivesse revivendo cada segundo. Sempre que consigo dormir, acordo suando e gritando. E foi por isso que há duas semanas minha mãe me levou a uma psicóloga, para os pesadelos irem embora. Mas é difícil esquecer quando não consigo nem falar sobre isso. Nas consultas com a Dra. Ana Carla mal abro a boca e quando chego em casa minto sobre como foi tudo, só para não preocupar minha mãe. Pois sei como ela se importa comigo.
Por isso a Dra. Ana Carla teve a brilhante ideia de me sugerir que eu começasse um diário. Segundo ela, isso me ajudaria a entender meus sentimentos e a lidar com eles. Mas me sinto ridícula escrevendo para mim mesma. Será que escrevo "Querido Diário"? Acho melhor não.
Enfim, depois que saí do consultório baixei esse aplicativo no meu celular. Um daqueles aplicativos rosinhas com a descrição "Guarde seus segredos". Como se escrever seus segredos em algum lugar fosse a melhor forma de mantê-los secretos. Eu te digo a melhor forma, guarde tudo para você. Mas como tenho que fazer isso... Preferiria mil vezes um caderno e caneta, mas a probabilidade de alguém (leia-se minha mãe ou meu irmão caçula, Leo) pegar e ler, seria maior.
Chega! Isso definitivamente é a coisa mais ridícula do mundo. Não vou fazer isso!!! Estou bem assim.
29 de Janeiro, Segunda-feira
20h00 - Consegui ficar uma semana sem me lembrar da existência dessa coisa. Porém hoje na consulta com a Dra. Ana Carla, após os cumprimentos costumeiros, ela me perguntou como andava meu diário. Juro que queria mentir. Na verdade, até tentei. O problema é que sou uma péssima mentirosa, por isso me calo quando quero esconder algo.
Assim que me acomodei confortavelmente a sua frente, ela me perguntou:
- E então Priscilla, como está indo o seu diário?
Dei de ombros, olhando meu tênis surrado (aliás, preciso de um par novo logo) como se ele fosse a coisa mais importante do mundo. Esperando que ela mudasse de assunto, mas a Dra. Ana Carla consegue ser persistente quando quer.
- Você começou, não é?
Concordei com a cabeça. Ainda na esperança de ela deixar isso para lá.
- E o que está achando?
Dei de ombros outra vez. Essa é praticamente minha forma de me comunicar dentro do consultório dela. E então ela ficou em completo silêncio. Não havia nem o ruído da caneta dela escrevendo sobre o papel. Tudo o que preenchia o ar era os sons dos ponteiros do relógio atrás de mim.
Aquele som foi invadindo minha cabeça e estava me irritando. Acho que a Dra. Ana Carla só tem esse relógio como instrumento de tortura. Assim quando um paciente não colabora, ela fica em silêncio e deixa seu instrumento diabólico fazer o trabalho sujo. A necessidade de tirar aquele som ritmado da minha cabeça foi tanta que me ouvi dizendo:
- Eu até comecei quando saí daqui semana passada. Baixei um aplicativo especialmente pra isso. Mas só escrevi um dia.
-Por quê?
Levantei os olhos em sua direção. Desde a primeira vez que a vi, soube que seria difícil manter algo escondido dela enquanto a encarava. Por causa disso eu passava todo o tempo da sessão com a cabeça abaixada. A Dra. Ana Carla é o tipo de mulher que é tão linda que você poderia odiá-la só de olhar, mas seu sorriso e olhos são tão meigos, que é incapaz de sentir algo tão ruim por ela. Tudo nela é impecável, desde o cabelo castanho preso em um coque até as unhas sempre bem feitas com esmaltes que sempre combinam com sua pele clara.
- Porque me sinto ridícula escrevendo pra mim mesma. - confessei.
- E se você imaginasse alguém do outro lado? Alguém para quem você poderia contar tudo, sem medo. Poderia ajudar, não acha?
Com certeza seria bem mais simples. Porém esse é o problema aqui. Eu tinha uma pessoa com quem sempre pude contar. Uma pessoa que sabia de todos os meus segredos. Mas não tenho mais. E dói. Dói muito. Mas claro que não falei nada disso para ela. Voltei a ficar quieta e a contemplar meus tênis.
- Lembro que você disse que gostaria de ser escritora. - falou.
Encarei ela mais uma vez, tentando entender onde queria chegar.
- Você poderia imaginar que está escrevendo um livro. E todos a sua volta são personagens. Isso tornaria as coisas mais fáceis, concorda?
Dei de ombros outra vez. Passamos o resto da consulta com ela tentando me incentivar a falar alguma outra coisa. Quando deu o horário de ir embora e eu estava quase saindo, ela disse:
- Fiquei feliz por você estar tentando.
Agora estou aqui, tentando fazer isso dar certo. Tentando escrever o que se passa na minha vida sem graça e transformar em uma espécie de livro. É claro que quando escrever um livro mesmo - se um dia isso acontecer -, espero que seja muito melhor do que isso. E que tenha coisas interessantes. Ah, e que alguém mais além de mim leia.
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Oi, meus amores. Tava com sdds de vcs <3
Vou deixar alguns avisos aqui.
1- Há dois tempos verbais na narração, um é quando a Priscilla narra o seu dia e o outro é quando ela faz comentário. Há abreviações e gírias propositalmente.
2- PostarEI em dias alternados, ou seja, um dia sim e outro não.
3- A história é toda narrada em forma de diário e como são muitos capítulos, irei postar mais de um dia por capítulo, dependendo da quantidade de palavras.
Obg por ler.
Faça uma escritora feliz e deixe um voto e comentários.
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Diário de uma Virgem [Concluído]
RomansaQuando Priscilla inicia seu diário, a pedido de sua psicóloga, tudo que ela pensa é que seria um desperdício de papel registrar seus dias monótonos e seus traumas. Mas sua vida vira do avesso quando seu passado volta para assombrá-la na figura arrep...