Trinta e dois

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30 de Abril, Segunda-feira

21h51 — Nas primeiras aulas, todos ficaram animados. Pois a professora Suzane de Linguística, fez uma aposta com a gente. Se ninguém da turma ficar abaixo da média nos dois primeiros bimestres, ela nos levará na chácara dela, com direito a um fim de semana inteiro para aproveitarmos. Espero que a gente consiga, pois estou animada.

E pela primeira vez, quase quis abraçar a Laura, pois ela e seus três seguidores, se ofereceram para formar um grupo de estudos caso alguém precisasse. Sei que ela faz isso apenas para aparecer, mas pelo menos, dessa vez, sua necessidade de atenção resultou em algo bom. Lógico que ela deixou bem claro que eu não estava incluída em seu convite, mas não me importo. Não iria mesmo se fosse bem vinda.

No intervalo, vi o professor Jonathan no corredor. Por um momento pensei em ir falar com ele, explicar sobre o pedido de amizade. Porém lembrei da cena de sexta e minha vergonha cresceu. Não consegui nem olhar direito para sua figura alta, enquanto ele me cumprimentava.

Não acredito que direi isso mais uma vez, mas fiquei feliz por Laura ter aparecido e ter chamado atenção dele. Assim consegui sair de fininho e ir procurar a Isa.

Como amanhã é feriado e não tem aula e não trabalho, resolvi chamar ela para ir em casa. Sei que o Ge vai ficar emburrado, mas ele fica assim por quase qualquer coisa, então tudo bem.

01 de Maio, Terça-feira

19h18 — A Isa veio aqui em casa hoje, como o combinado. Minha mãe que a recebeu e pediu para ela esperar na sala enquanto vinha me chamar. Me segurei para não rir ao ver o Ge fechando a cara ao saber que a Isa estava aqui, igualzinho como imaginei.

Pedi para minha amiga vir no meu quarto. Ela entrou e sentou na cama. Geovanne ficou fazendo careta, foi difícil não começar a gargalhar vendo ele agir como criança.

Sentei ao lado dela.

— O que quer fazer?

Isa suspirou e deu de ombros. Parecia desanimada.

— Sei lá. Não consigo pensar em nada legal.

— O que aconteceu?

Ela pegou um tigrinho de pelúcia sobre a minha cama. Geovanne cansou de fazer caretas e se sentou atrás de mim, me abraçando. Era estranho ter ele tão perto e saber que ninguém o via além de mim.

— Pedi um tempo pro Gustavo.

— Você o que?

Novamente suspirou e deu de ombros. Começou a jogar meu tigrinho para o alto. Tirei de suas mãos e coloquei de volta na cama, nunca gostei que mexessem nas minhas coisas.

— Tenho que entender os meus sentimentos antes de decidir. E... não briga comigo, ok?

Estreitei os olhos, pois ela fez uma cara de criança arteira.

— Dei meu número pro Gilson e estamos conversando. Ele me liga todo dia e nos falamos por horas. E olha que nem gosto de falar por telefone.

Esperei um pouco para assimilar suas palavras e encontrar uma resposta adequada.

— Isa, mas se tá dando um tempo com o Gus, não seria justo dar um tempo também com essas conversas com o Gilson?

Minha amiga mordeu os lábios e me olhou. Via como estava confusa e o pior é que eu não tinha nenhum conselho para ela.

— Sei que deveria me afastar dos dois e tentar analisar tudo... mas não consigo. Me sinto bem com o Gilson e, aliás, só estamos conversando.

Resolvi não falar mais nada. Ainda não entendia o que minha amiga procurava e muito menos como eu reagiria se estivesse em seu lugar.

Vendo que fiquei quieta, Isa se levantou e começou a andar pelo quarto. Parou em frente a estante de livros e me olhou sorrindo, como se dissesse “você gosta de ler, hein.”. Olhou mais algumas coisas até que parou em frente a minha escrivaninha, onde estava meu notebook e sobre ele, a carta do Ge.

 Meu corpo gelou, tinha deixado a carta ali, porque estava olhando para ela ontem a noite, tentando me convencer a não abrir ainda.

— Pra quem é? — perguntou com um sorrisinho.

— Pra mim.

Ela franziu a testa. Então contei sobre o dia que fui a casa do meu amigo e achei essa carta, sem comentar que ele quem me levou, claro. E inventei que a mãe dele me fez prometer ler apenas no dia do meu aniversário.

Isa virou o envelope nas mãos, lendo o que estava escrito no envelope.

— Que autocontrole, hein. Já teria lido assim que achasse a carta.

Sorri e olhei de relance para Geovanne. Ele beijou meu rosto com carinho. Se não fosse meu amigo me lembrando da minha promessa, já teria lido há tempo.

— Me fala mais dele. — pediu.

Fiquei surpresa. Estava acostumada a todos a minha volta saberem quem era o Ge, pois éramos colados. Mas ela e todo o pessoal que eu convivia na faculdade, não tinham conhecimento disso, pois não nos conheceram no ano anterior.

 Respirei fundo e olhei para o Ge mais uma vez, ele sorria. Convencido do jeito que é, ia amar me ouvir falar dele e dos meus sentimentos.

Isa voltou a se sentar na minha frente e aguardou paciente, então comecei a falar tudo. Como nos conhecemos, desde quando o amava, como era nossos dias juntos. Parei no dia do acidente, não consegui contar o que nos levou aquela estrada numa noite chuvosa em pleno ano novo. A culpa, minha companheira constante, me impediu de dar mais detalhes. Não suportaria ver mais alguém sabendo que se não fosse por mim, estaríamos sãos e salvos.

—Você tem fotos dele?

Levantei e fui até meu guarda-roupa. Assim como o Ge, também tinha um pequeno baú com meus tesouros. Voltei para cama e deixei no colo da minha amiga, ela ergueu a tampa e começou a analisar o que tinha dentro.

Pegou algumas fotos e observou.

— Espera. Esse é o Geovanne Santos? — perguntou.

Concordei com a cabeça.

— Conhecia ele. Minha irmã e as amigas eram apaixonadas por aquele cara.

Senti o Ge se empertigar atrás de mim, se achando o máximo.

— A maioria das meninas eram. Mas isso porque não sabia o quanto ele era chato. — falei e ri.

— Ei. — Ge protestou e me deu um tapa fraco na nuca.

— Mas você também era apaixonada por ele. — Isa falou.

Parei de rir, porque ela estava certa. Fiz uma pequena careta ao ouvir a risada do Ge.

Ela voltou a olhar a carta sobre a escrivaninha.

— Falta muito para seu aniversário?

— Não muito. É dia 16 desse mês.

— Sério? — Isa guardou as fotos e me devolveu meu baú. — Vamos comemorar, né?

Fiz outra careta. Antes gostava muito desse dia, mas ultimamente só pensava em usá-lo como desculpa para ficar sem fazer nada e não ser criticada por isso.

— Por favor, é seu niver. Vamos numa festa, uma balada, algo assim... você quase nunca sai.

— Concordo com ela. — Ge falou. — Lembra do que te disse, Pri. Você tá viva. Aproveita.

Olhei dele para Isa. Ambos esperando ansiosos minha resposta.

— Ok. Mal não vai fazer. — falei.

Isa me abraçou e sorriu.

Depois disso conversamos mais um pouco e demos uma volta no bairro mesmo.

Diário de uma Virgem [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora