Sessenta e quatro

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29 de Agosto, Quarta-feira

02h16 — Ontem quando entrei em casa minha cabeça estava nas nuvens devido a conversa com o Jonathan. Estava tão imersa em pensamentos que só reparei no Geovanne deitado na minha cama quando joguei minha mochila ali e o ouvi reclamar.

— Aconteceu alguma coisa? — meu amigo perguntou, colocando minha bolsa do seu lado.

Mesmo que eu tentasse parar, ainda sorria como boba.

— Anda, desembucha.

Sentei do seu lado e fiz um biquinho.

— Não. Se eu falar a gente vai brigar de novo.

Geovanne abaixou a cabeça, sabia que mais cedo ou mais tarde ele voltaria. E esse era o momento de conversamos e nos entender, e falar do Jonathan e do beijo seria um péssimo começo.

— Desculpa, Pri.

Ele abriu os braços e esperou que me aproximasse, assim que o fiz me envolveu em um abraço acolhedor. Já me acostumei com o frio que sentia ao tocá-lo, mas mesmo assim meu corpo estremeceu.

— Sou seu amigo. Pode me contar o que quiser.

— Você disse o mesmo da última vez. — sussurrei.

Geovanne ficou um tempo em silêncio. Nesse momento percebi o quanto nos machucamos nesse ano. Quanto mais tentávamos nos prender um ao outro, maior eram as brigas e mais feias eram as palavras proferidas. Pensar nisso me fez questionar até que ponto o sentimento resistiria. Parecia sempre haver ciúmes e ressentimentos. E os momentos bons estavam escassos.

— Ge — endireitei o corpo para poder ficarmos cara a cara. — estamos falhando.

— No que? — perguntou ajeitando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

— Lembra que me disse que ta aqui pra me ajudar a viver sem você?

— Uhum. — meu amigo franziu a testa, sem entender muito a onde eu queria chegar.

— Acho que é uma via de mão dupla. — falei.

— Não estou entendendo, marrentinha.

— Nós dois precisamos libertar o outro. Estamos muito apegados a ideia do que poderíamos ter sido, de tudo que perdemos.

Geovanne concordou e me abraçou de novo.

— Quando foi que você ficou mais esperta do que eu?

Ri e o empurrei, peguei meu travesseiro e me preparei para começar uma guerra.

— Sempre fui a mais inteligente. E a mais bonita também. — dei o primeiro golpe.

Ge entrou na brincadeira, deixando o objeto macio acertá-lo. Ele também pegou um travesseiro e começamos a brincar. Cinco minutos depois minha mãe bateu na porta do quarto me mandando ir dormir.

Joguei o colchão no chão e deitei com o Ge. Ficamos brincando de luta de dedão.

— Me conta aquilo que te fez sorrir hoje.

Observei seu rosto, ele estava sereno e com um sorriso sem mostrar os dentes. Já que tínhamos que aprender a nos libertar, resolvi me abrir.

— Beijei o Jonathan. Ele me deu carona.

Geovanne se distraiu e prendi seu dedão, ganhando a brincadeira. Ele ficou quieto alguns minutos antes de recomeçarmos.

— Estão juntos agora?

— Não.

— E por que não?

Sentei, interrompendo nossa pequena disputa. Cruzei as pernas.

Diário de uma Virgem [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora