Cinquenta e sete

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09 de Agosto, Quinta-feira

21h39 — Pelo menos não tive que aturar as indiretas da Laura, ainda mais nas aulas do professor Jonathan. Como hoje é aniversário dela, ela está toda animada falando sem parar da festa que dará no fim de semana, a qual não fui convidada, óbvio.

Mas confesso que foi engraçado ver ela enchendo o professor até ele lhe dar os parabéns. Realmente essa menina ama atenção. Se ao menos buscasse isso sem prejudicar os outros, seria legal.

Ai, o Nico acabou de me mandar mensagem dizendo que quer me ver. Me pediu para esperá-lo no estacionamento do CCH após a aula.

Respira, Priscilla. Vai dar tudo certo.

23h44 — Espero que ao escrever aqui me sinta melhor.

Fui para o estacionamento como combinado e acabei dando de cara com o Jonathan. Ficamos nos olhando, sem falar nada. Foi tenso.

Quis perguntar porque não contou nada para o Nico ou então se ficaria bravo se eu contasse. Mas antes de eu abrir a boca, a moto do Nico apareceu e parou na minha frente.

Nico tirou o capacete e cumprimentou o irmão com um aceno de cabeça. Depois segurou minha cintura, ainda sem sair da moto, e me deu um beijo de tirar o fôlego.

Claro que fiquei sem reação. Estava entre os dois homens que vinham tirando meu sono há dias e, pode ser paranóia minha, mas parecia que Nico estava a fim de provocar o irmão.

Olhei em direção do Jonathan quando me separei do Nico, ele estava sério, dava até medo.

Peguei o capacete e subi na garupa. Nico acenou, se despedindo do irmão e saímos dali.

Fomos até o lago Igapó. O lugar é bem bonito e costuma ser bem movimentado durante o dia, mas nesse horário estava tranquilo, apenas com alguns corredores noturnos e algumas pessoas passeando com seus animais. Fomos até um ponto na grama e nos sentamos, os minutos se arrastaram enquanto observávamos a água. Nenhum de nós dois parecia querer tomar a iniciativa, até que ele finalmente se pronunciou:

— Já sabe a resposta?

Minha voz sumiu. Era mais difícil do que esperava.

Nico aguardou pacientemente, mas vendo que eu permanecia calada ele segurou meu queixo e virou meu rosto em sua direção. Seus dedos passaram de forma carinhosa sobre meus cabelos e ele me deu um selinho.

— Você gosta de mim? — sua voz era um fio, tive que me esforçar para ouvi-lo.

— Claro que gosto, Nico.

Ele estudou meu rosto. Tentei segurar seu olhar o máximo que podia.

— Mas você não está apaixonada... não por mim ao menos.

— Nico, eu...

Suspirou e voltou a olhar o lago. Trouxe seus joelhos de encontro ao peito e os abraçou. Meu coração se partiu ao ver essa cena. Nunca quis ferí-lo. Talvez não fui feita para amar e quando tentava, apenas machucava as pessoas. Nico e Ge eram provas disso.

Levantei, disposta a deixá-lo sozinho, mesmo sem ter ideia de como voltaria para casa. Por sorte Nico foi gentil e me trouxe.

Não trocamos mais nenhuma palavra e nem tive coragem de contar sobre o Jonathan. Contudo isso ainda está martelando na minha cosciência, pois não é correto esconder isso dele.

O Ge acabou de chegar, estava na mãe dele. Vou contar o que acabei de escrever aqui. Talvez me dê uma luz.

10 de Agosto, Sexta-feira

Diário de uma Virgem [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora