83° capítulo

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Henrique.

Faço 200 flexões, já tava no suador.

Tive que rasgar a manga de um dos uniformes por causa do calor que eu sinto.

- aí, tá treinando assim pra que? - por mais que vemos em filmes homens da cadeia que são barra pesada, o grupo com quem divido a sela é super gente boa.

- por treinar. Isso esvazia a mente. - me levanto, pegando a foto da Maria que estava sobre o chão enquanto eu fazia as flexões.

- e essa é a sua filha? - perguntou um deles, Paulo, que está aqui por não pagar pensão.

- não, minha namorada. - digo dando um sorriso.

- ih cara... - disse ele.

- oque?

Um dos caras do nosso grupo, o mais forte, tatuado e barbudo, me olhou de cara feia.

- eu bato em filhos da puta que entram na cadeia por estupro, deixa eu ver essa garota. - pegou a foto das minhas mãos. - tem oque? 13 anos?

- 15. - me olhou.

- tô te zoando Henrique, tu é um cara legal. - bateu nas minhas costas com força. - mais e aí, por que tá aqui então? Fez mal a ela? - mudou a cara e eu sorri imaginando o seu rostinho.

- bati no meu pai. - me sentei na roda.

- matou o velho? - neguei bebendo água.

- semanas antes ele tava vindo pro Brasil pra se separar da minha mãe e tirar tudo dela, aí acabamos no encontrando no meio do trânsito e o carro dele bateu no meu, com meus irmãos dentro. Aí o resto né... Não temos um histórico bom, ele batia na minha mãe e pá. Aí no hospital, deitado na cama e mal mesmo, ele tava bem mal mas eu não deixei que o desaforo dele ficasse como tava, eu soquei. - falar isso agora é bem tranquilo, ainda sinto ódio mas bem pouco.

- tenho uns contatos se precisar. - disse o barbudo, que tortura homens que machucam crianças.

- não, valeu, tô saindo em poucos dias e não quero nenhum envolvimento com isso mais. - ele levou na boa.

- e a tua namorada?

- bem, com a minha mãe.

- nem imagino oque ela deve passar. - disse Paulo. - tô aqui por não pagar pensão mas eu amo os meus filhos e eu gastava o dinheiro que era pra eles com essas vadias da rua. Mas eu amo eles e quando eu fui preso eles ficaram muito mal. - lembrei da Maria chorando. Essa é a última lembrança que eu tenho.

- eles vem te ver? - assentiu óbvio.

- claro, são meus filhos.

- mais isso não... Sei lá, de algum jeito faz eles ficarem mal? - Paulo pensou.

- olha cara, não tenho filhos mas tenho sobrinhos, pequenos, e eles vem todo final de semana. - disse o barbudo, não sei o seu nome mas chamamos ele de mancha.

E também não sei por que.

- tenho medo de fazer ela ficar mal. - negou.

- relaxa cara, pensa comigo, melhor ela vir te ver do que sofrer e ficar sozinha. - eu não tinha pensado assim.

- o recreio acabou! - gritou um guarda e bateu o cassetete na grade.

Todos nós se levantamos, entrando e indo direto pra nossa sela esperar o horário do banho, que geralmente é minutos depois de tomar sol.

Quando passou os minutos seguimos por bloco até o banheiro, tomamos nosso banho de 8 minutos certinhos e fizemos nossas necessidades com os mais 10 minutos. Tínhamos 18 minutos pra usar o banheiro e fazer nossas necessidades e mais 2 minutos para fazer a fila e voltar pro nosso quarto.

• ʙᴀʙʏ ɢɪʀʟ 1Onde histórias criam vida. Descubra agora