62° capítulo

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Maria Clara.

Acordo com vozes altas e olho em volta. Eu estava no hospital ainda.

Ontem eu me senti sozinha, tão sozinha que chorei a noite toda e fiquei refletindo no contexto de que: "meu pai foi um idiota, minha mãe morreu e minha vó basicamente se matou com a diabete". Eu lembro dela exagerando no açúcar quando fazia o seu café, dizia que já estava velha mesmo.

- bom dia mocinha. - Cida adentrou o quarto. De ontem pra hoje viramos amigas.

- alguém veio? - ela parou de olhar a prancheta e me encarou triste, logo após respirando fundo.

- Henrique passou a noite aqui. Aquela cesta foi ele quem mandou te entregar. - olho pro lado, Cida apontava pra estante e mesmo eu tendo olhado pra janela quando acordei, não havia percebido a enorme cesta ali. - sente algum desconforto? - ela veio até mim colocando algo nas minhas costas. - respira fundo. - assim fiz, encarando a cesta.

Via de longe um pacote de bolacha salgada....

"- tá com fome? - perguntou ele.

- sim.

- quer que o daddy faça oque pra você comer? - penso.

- hum... - ainda pensando. - bolacha salgada com doce de leite. - daddy riu me dando um beijo na bochecha.

- coisa mais fofa! - me apertou.".

- tudo bem? - pisco várias vezes até olhar pra Cida.

- sim. Tudo. - a transe passou.

- dores no peito? - nego. - desconforto abdominal? - apertou minha barriga de leve e eu neguei.

- Cida.

- sim.

- eu vou lembrar dele? - sua cara foi demorada a fazer uma expressão.

- talvez.

- eu amo ele? - ela sorriu.

- muito. Qualquer um diria que ele tira proveito de você mas eu acho ser o contrário. - riu e eu sorri. - olha meu amor. - se sentou na cama a minha frente. - você é uma mocinha, perdeu a memória mas tem tudo que você precisa. Estuda em uma escola particular, tem amigas, agora tem uma cachorrinha e um gatinho. Henrique me mostrou as fotos do seu parquinho e você tem infantilismo. Acho que com essa perda de memória você esqueceu das coisas que você mais gosta.

- eu gosto do meu infantilismo?

- claro, uma vez você disse que ele te ajuda a esquecer os problemas da vida. Que ele te permite pensar com o coração e criar um mundo mágico. - sorri boba mas logo desfiz o sorriso.

- não quero magoar ele mas eu acho que não vou me lembrar de nada com ele e talvez eu pare de ama-lo. - eu me sentia mal mas só queria sair logo do hospital e talvez ir morar com o meu pai.

- vou te contar uma história. - pensou. - deixa eu ver por onde começar...

Cida começou por uma parte onde dizia que eu havia abortado pra salvar o amor que eu tinha com o Henrique.

Aquela história durou minutos atrás de minutos e Cida contava o quanto Henrique lutou por mim. Me fez crer que aquilo era mais que um namoro bom, era um romance proibido mas que para nós dois era como magia.

Eu tinha vontade de rir em algumas palavras suas mas Cida disse o quanto Henrique se preocupava comigo.

No meio da história ela chorou, um choro breve quando falou que o Henrique havia sofrido um acidente de carro onde o culpado era o meu pai, eu me senti mal, lógico. Isso gerou outra conversa onde Henrique ficou dias em coma e quando acordou não se lembrava de mim também e sabe oque ele fez? Teve paciência como Cida mesmo disse e sabe oque eu fiz? Chorei muito e rezei muito, e no final ela falou que eu estava igual a ele na sala de espera: desesperado, com saudades.

• ʙᴀʙʏ ɢɪʀʟ 1Onde histórias criam vida. Descubra agora