1. Grey

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Dizem que aos dezoito anos os pais te vêm como um adulto responsável, maduro, e plenamente capaz de cuidar da própria vida. Nessa fase, muitos jovens saem de casa para morar sozinhos, conquistar seus objetivos, e curtir a liberdade ao som de We are the Champions – o que torna a mim e meu irmão partes daquela porcentagem que ninguém quer ser.

Acordei com o grito da minha mãe, vindo do andar de baixo, dizendo que já estava tarde e que era hora de todos os filhos acordarem. Sentei na cama ainda zonzo de sono e olhei em volta, tentando me situar no espaço e tempo. Estava no meu quarto e até aí, okay. Porém o celular indicava que ainda eram 8:30!

Precisava urgentemente ir para a faculdade, ter meu dormitório, e pôr dezoito anos de sono acumulado em dia.

De qualquer forma, decidi obedecer a dona Monica. Me levantei, peguei uma toalha do guarda-roupa e abri a porta do quarto – me deparando com o meu clone, que também saiu de seu quarto naquele instante.

Ambos tínhamos cabelos pretos e ondulados, embora papai dissesse que o meu sempre estava mais pra bagunçado do que ondulado. Nossos olhos eram azuis – herdados da parte libanesa de nossa família –, a pele clara, e o corpo nada fora dos padrões. Poucos detalhes eram capazes de nos diferenciar, pois Garnett e eu éramos gêmeos idênticos.

— Indo tomar banho? – perguntou.

— Sim. Pelo visto, você também.

— Acertou.

Ambos sabíamos o que aquele diálogo significava. Em uma casa com cinco pessoas, o banheiro se tornava um cômodo requisitado e concorrido. Sem pensar meio segundo, saí correndo em direção ao banheiro, com Garnett em meu encalço. E por um momento acreditei que venceria a corrida, até sentir meu braço sendo puxado, o mundo virar de cabeça para baixo, e minhas costas encontrarem o chão com toda a força.

— Você deu um golpe de krav maga em mim?! – questionei perplexo (embora a resposta fosse óbvia).

Garnett parou na porta, exibindo o sorriso confiante que anos de artes marciais lhe proporcionaram.

— Foi mal, Greyson, mas esqueceu das várias outras vezes que me sacaneou só para usar o banheiro primeiro?

— Mas eu nunca te ataquei! – lembrei, ainda caído no chão.

— Ah. Bem, prometo que te compenso depois!

Contudo, sem que meu clone percebesse, uma criatura baixinha passou por de trás de si e fechou a porta do banheiro, ocupando-o. Os olhos de Garnett arregalaram e sua mão bateu na porta.

— Lisa, não é justo! É a minha vez! – reivindicou.

— Bobeou, dançou! – Foi a resposta abafada de nossa irmã, do outro lado da porta.

Eu até tentei rir do sofrimento de Garnett, mas uma dor fina me obrigou a fazer careta.

— Ai, minha costela – gemi.

Meu irmão colocou a mão sobre o rosto, sem acreditar que seu dia começara com uma derrota.

Meu irmão colocou a mão sobre o rosto, sem acreditar que seu dia começara com uma derrota

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