Ironia do Destino [Ranu]

Lar

Julho/2020
Manu Gavassi

"Onde amamos, é o nosso lar: lar que nossos pés podem deixar, mas não nossos corações."

Após um bom tempo de conversa, e ao constatar que pelo jeito Rafa não apareceria mais, resolvi procurar por ela. Entrei naquela casa ouvindo as risadas de Marcella ao zoar que não queria sequer ver como seriam os dias em que precisaríamos ficar longe uma da outra. Será que eu estaria sendo muito idiota ao admitir que já sentia saudades? Será que seria idiota admitir que essa brincadeira dela doeu meu coração porque um dia sem Rafa era tudo o que eu já não queria imaginar?

Não. É o que ouço meu coração dizer ao entrar no quarto e vê-la deitada na cama de olhos fechados. Ela parece dormir com um sorriso lindo no rosto. Sinto meu sorriso automaticamente abrir e meu peito acelerar. Ela é linda demais. Uma demonstração clara dos poderes de Deus. Sinto meu peito encher só ao olhar pra ela, e uma vontade de rir se apodera de mim ao lembrar do seu comportamento de hoje. Será que existe alguma outra mulher tão complicada de entender? Num dia está todo envergonhada por aí e no outro simplesmente poderia me comer no meio da cozinha.

-- O que tá fazendo parada aí? - dou um leve salto deixando a risada que prendi sair. Vejo como ela me olha e arqueia a sobrancelha curiosa.

-- Caramba! - digo colocando a mão no peito, mas não consigo parar de rir. Ela sorri e eu percebo algo diferente, um brilho no seu olhar que eu não consigo ler. -- Achei que estivesse dormindo! - ela nega.

-- Tava só pensando! Porque tá rindo? Vem aqui! - sua voz é divertida e eu deixo o violão de lado.

Noto como aquele meu sorriso preferido parece mais leve e aberto no seu rosto, e me pergunto quantas vezes ela poderia fazer eu me apaixonar em um único dia.

-- Você parece diferente hoje!

-- Cê percebeu? - ela questiona feliz e ver esse seu sorriso assim tão grande, tão bonito...torna inevitável fazer qualquer coisa além de só sorrir de volta ainda mais. -- Terra chamando Manoela! - ela brinca estalando os dedos.

-- Como não vou perceber que você tá aí sorrindo pro nada desde que acordou? Nem pra sua família na cozinha você ligou! - ela revira os olhos e ri.

Não sei o que deu nela, mas vê-la feliz assim aquece meu coração, me deixa doida de felicidade também, e eu nem sei o motivo.

-- Me dá um beijo que te conto! - rio do seu jeito animado e deito suavemente no seu corpo.

-- Oi!

Posso ver como seus olhos passeiam pelo meu rosto quase em adoração e sinto algo diferente por todo meu corpo. Ela é diferente de qualquer outra pessoa. Olhar pra ela assim tão de perto é como ver poesia.

-- Que demora, Manoela! Não guento, não! - e segura meu rosto com as duas mãos, me puxando. Sorri esperando ela atacar meus lábios, mas minha expressão muda quando vejo o que parecem lágrimas no seu olhar. Ela deixa meu rosto bem perto do seu e olha bem pra dentro de mim. -- Já disse que te amo hoje? - e sorri.

Sinto meu corpo latejar. Tenho certeza que estou vermelha porque sinto minha pele queimar. Ela sorri da minha reação e morde o próprio lábio inferior.

-- Eeeuu... - me atrapalho. Ela solta uma risada emocionada. O que tá acontecendo? Rafa sempre escondeu essa menina alegre e fofa por debaixo de uma camada bruta, mas ela parece tão na superfície agora. Tento falar, mas ela me beija.

-- Eu te amo! - ela sussurra sorrindo nos meus lábios. Meu mundo gira, sinto meu corpo tremer.

-- Meu Deus, Rafaella! - falo com dificuldade e puxo o ar. -- Quer me matar? - ela solta uma risadinha e envolve seus braços ao redor do meu pescoço, me beijando novamente.