Ironia do Destino [Ranu]

Nós

Olá,
Bem-vindxs a 3° fase de "Ironia do Destino"!

Junho/2020

Manu Gavassi

"Só promete que não vai desistir de nós, que não vai soltar a minha mão, porque eu não vou soltar a sua, a menos que você queira."

É engraçado como a gente quer ter toda a liberdade do mundo de ir e vir para poder refletir sobre os nossos próximos passos, sobre nossas relações e decisões. Mas aqui, no coração, tem pessoas e situações que a gente insiste em segurar e fazer ficar.

Não é diferente com o nossos hábitos, com nossa arte, com nosso propósito, muito menos com os nossos medos. É difícil desapegar e dar uma virada de chave na nossa vida em todos os aspectos. Se reinventar é algo essencial para um artista, e também para cada um de nós como seres humanos, mas é realmente assustador. E se der tudo errado? Se você pisar na bola? Se for na contramão do sucesso? Bem, no fim o que importa é ser de verdade, certo?

Dificilmente lidamos com uma coisa por vez, e além de tudo o que estou vivendo com a Rafa, ultimamente tenho tido uma guerra mental comigo mesma. Minha vida será atribulada daqui pra frente. Tenho criado conteúdo quase de forma compulsiva, minha mente tem explodido de letras, melodias, ideias e projetos. Quando eu iniciar tudo o que tenho planejado, não vai me sobrar muito tempo, e eu quero a Rafa mais perto de mim.

Sinto que vou precisar dela. Não tem sido fácil estar na minha pele com tanto hate gratuito e essa sensação de que é necessário provar meu ponto de vista profissional para finalmente ser levada a sério. Acho que a maioria das pessoas estaria se sentindo massacrada no meu lugar, talvez um pouco destruídas após uma longa estrada de tantas batalhas com todas as versões de si, e com tantos achismos do público sobre a sua própria personalidade. Vocês acham que é fácil? A pressão é surreal!

Por isso, às vezes, é tão importante pararmos um pouco e refletirmos para tentarmos entender essas situações e focar no que realmente importa. Tenho pensado em dar uma pausa. Uma respirada antes de fazer as engrenagens girarem. Principalmente agora que consegui o que tanto queria, a famosa liberdade artística, tudo tem que ser perfeito.

Tenho medo de não conseguir aproveitar esse momento para alavancar a minha carreira, não conseguir mostrar para as pessoas a minha verdade. Medo de não conseguir dar voz para a minha arte da forma que eu acredito. Eu tenho nesse momento o que sempre quis: credibilidade para que eu possa desenvolver meus projetos e uma mulher que me ama, só preciso buscar harmonia entre os dois. Será que é possível?

-- Cat? - chamei e a vejo entrando no escritório/estúdio improvisado que tenho no meu apartamento.

-- Vai finalmente mostrar a cartinha da minha cunhadinha que te deixou pensativa o dia todo? - sorri revirando os olhos, mas estendi a carta para ela ler.

Vi como se balançou animada e sentou com a carta na mão, lendo com a maior atenção do mundo. Fiquei observando suas expressões mudando conforme ela lia o conteúdo, e foi inevitável o sorriso bobo no meu rosto.

-- Sis? - disse espantada. -- Isso que eu chamo de uma puta declaração de intenções! - ela parecia emocionada. -- Sério! Isso poderia até ser os votos do casamento de vocês!

Gargalhei, mas não tinha como discordar. Rafa realmente mandou bem demais nessa carta.

-- Nem aquele menino compositor que você namorou escrevia tão bem as cartas que vivia te mandando! - ri e ela me acompanhou. -- Já ligou pra ela?