Entrega

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Julho/2020
Rafa Kalimann

"Um coração feliz é o resultado inevitável de um coração ardente de amor."


Dani havia batido aqui no quarto para nos avisar que se quisessémos comer algo para forrar o estômago até o almoço, deveríamos ir porque demoraria a ficar pronto. Resolvemos negar, ainda tínhamos algumas sobras do café pra lá de exagerado que Manu preparou. O silêncio na casa e o atraso do almoço eram claramente justificados pela voz dolorida de Dani ao falar conosco. Aparentemente, a noite de ontem rendeu, e minha família passou do ponto, todo mundo exceto Marcella e minha mãe estava de ressaca.

Poderíamos ter aproveitado a casa mais vazia e curtido juntas na área externa, era o que Manu queria: pegar um sol até a hora de almoçar, mas pra ser sincera, eu estava um pouco apreensiva de encontrar minha família depois do jantar de ontem. Sei que era bobagem no final das contas, mas o que eu podia fazer? Não consigo controlar todos os meus sentimentos, e nunca me senti tão desnuda sentimentalmente na frente deles como naquele jantar. Enfrentar meu pai, expor minha mágoa por conta do Rodolfo e ter saído daquela maneira mandando meu pai ir embora, não foram coisas fáceis de fazer, principalmente para alguém como eu. Tudo isso me fazia ficar um tanto nervosa para estar na presença deles novamente. Eu sei que a minha atitude diante de situação tinha significado muito, e que apesar de estar com toda razão, foi duro ter falado aquelas coisas para o meu pai e ainda por cima não ter voltado, agindo como se ele e minha madrasta sequer estivessem aqui. Não me arrependo, mas tudo isso expôs demais a intensidade dos meus sentimentos por ela.

Manu com certeza notou meu estado pensativo, mas diferente de quando eu me estressei com meus amigos, dessa vez ela não perguntou nada. Acho que ela sabia que era algo com minha família porque comecei a ficar assim após Dani falar do almoço. Manu realmente parece saber me ler muito bem, é até assustador. Enquanto ela apenas terminou sua composição, guardou suas coisas e entrou em seu e-mail para responder sua equipe sobre algumas escolhas comerciais, resolvi cobrar novamente um posicionamento dos meus sócios e parceiros quanto ao escritório em São Paulo. Eu queria conversar logo com ela e acertar isso. Não queria de jeito algum que Manu voltasse pra São Paulo sem sabermos como ficaremos com relação a isso.

***

Eu estava nervosa e Manu segurou minha mão enquanto caminhávamos para almoçar com minha família. Eu sabia que ela percebeu que alguma coisa nesse almoço estava me assustando, mas simplesmente calou e me deixou lidar com isso sabendo que ela estava ao meu lado.

-- Finalmente! Estava faminto aqui esperando as bonitas! - Tato brincou quando nos viu entrar na cozinha, senti seu olhar me avaliando, e ele pareceu aliviado ao ver nossas mãos unidas.

Respirei aliviada, meu irmão parecia super normal conosco e a reação dele me preocupava, afinal foi com nosso pai que eu gritei.

-- Não te dei educação não, menino? Isso é jeito de falar com nossa visita?! - minha mãe brigou e ele encolheu os ombros rindo.

-- E desde quando Manu é visita ainda? - sorri e vi todos rirem, concordando com a afirmação dele. Suspirei aliviada, tudo parecia bem.

-- Senta logo aí e vai comer! Não tava tão faminto que não podia esperar? Então tá fazendo o que usando a boca pra me responder? - rimos vendo como minha mãe fingia uma cara brava.

Senti Manu apertar minha mão e passar seu dedão acariciando de leve minha pele. Era como se ela dissesse em silêncio: "Tá vendo? Tá tudo bem!" e eu assenti em resposta.

Ironia do Destino [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora