Ironia do Destino [Ranu]

Déjà-vu

Julho/2020
Rafa Kalimann

3 dias depois...

-- E esse é o banheiro da suíte! Quase um spa particular! - assenti tentando disfarçar o desânimo que eu estava, não pelo apartamento, até que ele era lindo.

Um dia li uma frase na internet que dizia que deveríamos trocar as âncoras de nossas vidas por balões, mas nenhuma frase dessas bonitas pra colocar no status ensina que balões estouram.

-- Então...essa foi a suíte principal! O espaço não é muito grande, mas tem uma bela vista, ótimo closet e o quase spa elevam muito a experiência da suíte!

-- Não tem muito espaço mesmo, né? Na foto parecia bem maior! Se ela coloca uma king size aqui ocuparia quase toda a parede, ficaria até meio apertado entre a cama e a janela, por exemplo! - Flá respondeu e eu olhei imaginando. Ela tinha razão.

-- Realmente tem menos "espaço de chão" entre a janela e a cama, mas é muito raro alguém de fato aproveitar a vista da janela do quarto sem estar na cama! Com uma bela king size quem vai querer aproveitar essa vista de outro lugar?

-- Manu! - disse mentalmente e sorri de verdade pela primeira vez nas últimas horas ao lembrar dessa mania dela.

Flashback

-- Essa comida tava simplesmente di-vi-na!

-- Queria tanto provar! - ela fez biquinho deitando no chão e suspirando feliz. -- Juro que se a Flá tivesse um restaurante eu mesma iria fazer todas as publis pra ela...queria receber o cachê em comida! - eu ri. -- Foi o melhor jantar virtual da minha vida, amor!

-- Sua comida tava tão boa assim também? - ela riu como se eu tivesse feito uma piada.

-- Rafa?...O jantar não foi perfeito pela comida, foi porque compartilhei com você, princesa! - sorri.

Manu ser sempre tão fofa, carinhosa e gentil é uma das coisas que eu mais amo na vida.

-- Nunca imaginei que cê fosse assim, sabia?!

-- Assim como? - ela disse colocando as mãos embaixo da cabeça. -- Comilona? - eu ri.

-- Romântica...- e ela levantou uma sobrancelha de forma convencida.

-- Quer dizer que boa de cama você sempre soube que eu era? Agora entendi porque resolveu investir em mim! - revirei os olhos rindo.

-- Amor? Falando em cama...porque cê gosta tanto de deitar no chão? - ela sorriu e suspirou lentamente.

-- Quando eu perdi a fé que iria conseguir sair da merda onde eu tava na minha carreira, minha cabeça deu uma pirada e eu quase abandonei tudo...

-- Não sabia disso! - ela encolheu os ombros.

-- Pois é! E sabe o que me fez raciocinar melhor? - neguei. -- Antes de eu ir pra agência e comunicar essa decisão vi um bichinho no chão da minha sala e fui ver o que era...- ela sorriu parecendo emocionada ao relembrar. -- Óbvio que não achei nada e fiquei cansada de tanto procurar... daí acabei deitando no chão pra descansar porque estava morta! - Sorri. Isso era muito Manoela. -- Acontece que comecei a pensar que tava tão no chão na minha carreira como estava ali...literalmente jogada no chão, sem perspectiva de nada! - ela suspirou. -- Então eu pensei: como isso pode piorar? Porque desistir se do chão eu não passo? Tudo que pode acontecer se eu continuar tentando é levantar um pouco, correto? - ela encolheu os ombros. -- Acho que de alguma forma entendi que estar na terra ensina mais do que estar no ar...flutuar é maravilhoso, mas saber cair é mais importante que saber voar! Às vezes a vida te faz sentir nas nuvens, mas é o fundo do poço que constrói caráter, que forja pessoas vencedoras...não por conta das vitórias, mas pelo aprendizado sobre a vida! É diferente olhar pros nossos sonhos e objetivos quando estamos no chão...eles têm mais sabor, parecem exatamente do jeitinho que pareciam quando a gente sonhou pela primeira vez, sabe? - concordei. -- Não estar no fundo do poço faz a gente querer sempre mais e além, faz a gente esquecer da beleza do que a gente já tem! Por isso eu gosto daqui, deitar assim e olhar pra cima, de preferência pro céu...me conecta com a parte de mim que já esteve muitas vezes no fundo do poço, mas que sabe encarar melhor a vida, os problemas, as vitórias e derrotas...me lembra como é olhar pros meus sonhos estando no limite do fracasso!