Primeiras impressões

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Julho/2020

Genilda Fernandes

"Por mais dolorida que a vida seja às vezes, uma hora a esperança pula a janela, invade sua casa e colore sua vida."

Sempre fui daquelas mães que dizia pra Rafa que namorado é igual ônibus, é só esperar um pouquinho que vem outro logo atrás. Acho que talvez por isso ela tenha crescido sendo uma mulher tão independente com relação aos homens que passaram pela sua vida. Ela nunca foi de correr atrás de ônibus, muito menos atrás de homem. Não foram os caras que a deixaram insegura, sempre me pareceu que ela não se importava muito com eles, por isso acabava não ligando para as várias coisas que eles acabavam fazendo que deixaria qualquer mulher magoada. Rafa, não.

Acontece que qualquer ser humano quando exposto a tantas situações vexaminosas acaba deixando um buraco abrir na alma. Foi o que aconteceu com ela. A única pessoa que ela amou por um tempo, ainda jovem, foi a que mais a decepcionou. O amor acabou e ela ficou lá, anos apenas por amizade, sendo sistematicamente exposta e magoada.

Isso de não se achar suficiente, ter problemas com seu corpo, com sua imagem, a insegurança...tudo isso surgiu forte quando ela desistiu do amor por acreditar que não existia alguém capaz de amá-la como ela merecia. Ao invés de colocar a culpa no mundo, nos homens com quem se relacionou, no homem que a magoou, ela colocou a culpa em si mesma.

Para Rafa, o maior obstáculo da sua vida era ser quem era. Ter acompanhado todo esse processo de cura e transformação foi enriquecedor para todos nós, mas o grande efeito colateral é que ela continuava a sentir que não se encaixava bem com ninguém. Ela simplesmente não tinha interesse verdadeiro e emocional por ninguém. Muitos passavam por sua vida, alguns duravam um tempo, mas nenhum mexia com seu coração. Antes mesmo dela entrar no BBB já tínhamos conversado sobre isso, e Rafa deixou claro que durante um tempo foi legal afirmar que estava solteira por escolha própria, mas após algumas tentativas frustradas de permanecer com alguém, ela enxergava ter um problema que causava angústia no fundo do seu ser: não conseguia, por mais que tentasse, se apaixonar verdadeiramente. Não estou falando de encantamento ou paixãozinha passageira, estou falando de alguém que mexa com todas as suas estruturas. Desde o início do casamento com Rodolfo, quando ele a magoou, era como se ela soubesse que aquele sentir não era pra ela.

Foi justamente por entender e ter conhecimentos de todas essas questões que num primeiro momento achei que essa coisa com Manu acabaria logo, que seria apenas uma confusão pelo que elas viveram  juntas. Acho que por isso fiquei tão tocada e emociona ao ser consciente da seriedade dos sentimentos dela. Quando? No momento que a vi chorar e afirmar que Manu era a única, que se existisse alma gêmea, Manu seria a sua. Nunca a vi chorar assim por ninguém, nem mesmo nos piores momentos do seu casamento, nunca. Naquele dia, eu soube que depois de um longo caminho, Rafa finalmente tinha encontrado alguém que arrebatou seu coração, que criou raízes fundas a ponto de não ser descartável e acessório como todos os outros que passaram por sua vida amorosa.

Por isso, ver com meus próprios olhos, ao vivo e à cores as interações das duas e a forma como todo o seu corpo demonstra como ama a Manu, sempre será surpreendente e, como mãe, um conforto, um afago direto no coração.

Foi impagável ver, como menos de 5 minutos depois de eu ter arrastado Manu para cá, Rafa chegou na cozinha nitidamente ofegante, passando o olhar pelo ambiente até encontrar a pequena já sentada na mesa conversando com Dani e Tato. A expressão de medo no seu olhar a denunciou. Não encontrar Manu na sala deve ter a assustado de alguma forma, e para mim, sabendo de toda a sua história, foi quase inacreditável ver como minha filha soltou um suspiro de alívio e sorriu olhando para essa menina como se fosse o bem mais raro e valioso do mundo todo.

Ironia do Destino [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora