2. Presentes - Heitor

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O resto da aula foi um saco completo, com professores sempre perguntando o porquê da minha desatenção e, devido a ela, nunca respondia. Quando o sinal para a saída tocou, peguei a mochila e segui em direção à porta. Precisava chegar logo em casa. A julgar pelo tempo que Arminda passara fora e sem mandar notícias, algo realmente importante estava acontecendo.

Andava disperso pela calçada, o skate debaixo do braço, quando tive a impressão de que um homem estranho do outro lado da rua me observava. Ele era alto e forte, usava óculos escuros e uma capa preta. Mesmo estando um pouco frio, aquele visual era bastante bizarro.

Tentei manter a calma e seguir adiante sem parecer um maluco pensando que qualquer pessoa estranha fosse atacar. Porém, a cada esquina que eu dobrava, ele repetia o mesmo movimento; cada encruzilhada, ele ia pelo mesmo caminho. Com toda certeza estava me seguindo. Cogitei tomar um caminho totalmente diferente, porém, o risco seria ainda maior. Coloquei meu skate no chão e não diminuí a velocidade até estar a dois metros de minha casa.

Olhei para trás buscando encontrar o homem de preto, mas ele havia sumido.

— Oi? Tem alguém em casa? — chamei ao passar pela porta.

— Heitor? És tu? — perguntou Arminda enquanto aparecia na sala. — Que bom que chegou.

— Onde a senhora estava dessa vez?

— Buscando informações sobre a imperatriz.

— Ah, que grande novidade! — retruquei.

— E vós?

Ela ergueu uma sobrancelha mostrando uma pedaço de tecido ancorado em seu dedo indicador. Estreitei os olhos ao identificar o maldito casaco azul de Carla.

— Não estava praticando suas habilidade hanarianas, suponho — cutucou. 

— Pelo amor dos Grandes! — bufei. — Eu só quero ter alguns segundos de vida normal antes de morrer, será que tenho esse direito?

— Essa garota, Heitor... Não quero lhe privar de nada, mas...

— Eu sei — interrompi, pegando o casaco de Carla de suas mãos. — Sou o imperador, jurado há dezessete anos a uma garota morta.

A expressão de Arminda fechou-se.

— A imperatriz não está morta, apenas perdida. Tu sabes.

Precisei ignorar a sensação de culpa que me tomou após ver como minhas palavras a atingiram.

— Sendo assim, não existe motivo para tanto medo, ou estou errado? — tentei amenizar.

Idiota.

Obviamente eu estava errado.

— O prazo acabará amanhã e a princesa não foi encontrada. Vós não tereis como lutar sozinho contra os meltas e a unificação de Hanaros nunca poderá ocorrer. Detemos o direito de estar horrorizados.

— Arminda, calma.

Ela tinha a estranha mania de falar extremamente rápido quando estava nervosa.

— Como fui deixar isso acontecer? — Seus olhos se encheram d'água. — Não poderei lhe entregar à morte. O povo de Hanaros não terá esperanças, nem a rainha que morreu para dar a vida a ti e à filha. Isso é um desastre.

— Ainda temos os escolhidos para nos auxiliarem, não é?

— Sim, mas Zínia ainda não entrou em contato comigo. Nem mesmo temos dicas de onde o portal possa ser aberto. Se ao menos eu pudesse consultar o livro, mas isso só pode ser feito pelos imperadores e na idade correta.

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