19. Confusões - Heitor

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Lucinda, inicialmente, pareceu perplexa, tentando identificar o que eu carregava nos braços. Ela se aproximou lentamente, lutando contra o tremor que tomava suas mãos, e quando seu olhar finalmente caiu sobre o rosto da garota, escapou-lhe um arquejo, e ela recuou um passo, visivelmente surpresa. Daniel deu um passo à frente e sua atenção foi da garota para mim e de para mim à garota. Eles estavam confusos.

Num primeiro instante, imaginei que Lucinda iria me interrogar com uma série de perguntas sobre a garota: quem ela era, se eu a havia machucado, onde a havia encontrado e por que a havia trazido. No entanto, depois de alguns segundos, ela simplesmente apontou para sua cama, indicando que eu deveria colocá-la lá.

Com cuidado, depositei a garota na cama, e assim que seu corpo tocou o lençol, senti minhas forças esgotarem por completo, desabando no chão.

— Eu poderia censurá-lo por desperdiçar seus poderes numa humana enquanto estávamos sob o perigo iminente. Mas não posso ignorar o fato de que agora estamos seguros. E principalmente... — Sua voz falhou enquanto ela olhava a garota e a cobria com um lençol branco. — O fato de que você me trouxe uma joia há muito tempo perdida.

Daniel, que ainda estava atônito, se aproximou para analisar a garota.

— Então é ela? A garota morta? A que você procurava? — perguntou. Unindo e confirmando os fatos que já se passavam por minha cabeça.

— Não mais morta... — corrigiu Lucinda.

— Sim. Mas até quando? — avaliou Daniel, apontando para grandes manchas rubras que surgiam no lençol branco de linho sobre o corpo da menina.

— Ela estava mais ferida Lucinda... — falei, ciente da minha impotência. — Era uma espécie de veneno... Eu fiz o que pude. Não tenho mais forças.

Lucinda veio até mim e ajoelhou ao meu lado.

— Eu sei, meu querido. Não lhe cobraria mais nada depois do que fez. Por favor, vá para seu quarto — ela passou as mãos em frente ao meu rosto. — Isso irá ajudá-lo a recuperar as forças. Eu e Daniel cuidaremos dela, e supondo que sobreviva, conversaremos mais sobre isto outro dia.

— Mas e Zínia? — perguntei, convicto de que ela não receberia uma humana tão bem.

— Ela está na casa de Daniel com Karen. Tudo ficará bem, Heitor. Agora vá descansar.

Deixei o quarto e, de alguma forma, consegui me livrar das roupas molhadas antes de me enfiar debaixo das cobertas. Só recuperei a consciência algumas horas mais tarde, quando ouvi batidas na porta do meu quarto.

Antes de abrir a porta, me dei conta de que estava apenas de cuecas e vesti minha bermuda que estava no chão. Estranhamente ela estava seca.

Quando abri a porta, Daniel entrou inquieto quarto. Ele trazia no rosto uma expressão ainda mais confusa do que quando eu encontrara a garota.

— O que foi? — perguntei.

— Ah, me desculpe se perturbei o sono da bela donzela. Mas enquanto você passou três dias dormindo como um anjinho, a Terceira Guerra Mundial explodiu lá fora cara! — exclamou claramente frustrado.

— Como é que é? — perguntei.

Eu estava dormindo por três dias! Até que amava dormir, mas isso era um recorde, mesmo para mim.

— Não tenho como te explicar agora. Mas você trouxe uma humana que Lucinda havia dado para a adoção uns dezessete anos atrás. Zínia não quer nem cogitar que ela saiba da existência de hanarianos. E... — ele pareceu lembrar-se de algo terrivelmente assustador — Ela grita todas as noites como se estivesse sendo possuída. É assombroso... Ainda não acordou e parece não ter como tirá-la deste sono, mas todas as noites grita tão alto que foi capaz de acordar os moradores na parte baixa da cidade. Se não fosse o isolamento acústico...

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