48. Medos - Briseis

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Alguns metros à frente, Karen resfolegava enquanto baixava o arco e se certificava de que atingira seu alvo.

— Seeeet! — O grito de horror de Sarabi espalhou-se por todo o Recife Antigo. — Nãooo!

A melta deixou seu posto ao lado de Merrick, que apenas se resignou a observar enquanto éramos apreendidos. Ela agora caminhava seguida por uma imensa fileira de magos em nossa direção, os olhos injetados do mais puro ódio.

— Para o carro, agora! — lembrou Karen, disparando para a rua onde o Gol estava.

O cheiro pungente de sangue chegou às minhas narinas antes que o vermelho tingisse o chão quando Set caiu sem vida ao meu lado. Não me permiti sentir qualquer tipo de emoção em relação a ser salva por Karen. Eu precisava chegar até o carro. Então, mais uma vez corri sem ligar para até onde minhas pernas aguentariam.

— Vamos, Briseis! — ouvi a voz de Daniel implorar em algum ponto atrás de mim quando eu estava a dois passos do veículo.

Bem, olhando-se do ponto de vista técnico, nós estávamos nos saindo bem: o livro estava sob nossa guarda, havíamos matado um dos meltas, o krenger estava há muitos passos de nos alcançar.

Só havia uma coisa com a qual não contávamos: a existência de outro krenger.

Ele era um pouco menor que o krenger que deveria estar perseguindo Heitor naquele momento, mas era igualmente aterrorizador com sua aura de morte aparentando tragar tudo o que estava ao seu alcance. Karen freou os pés antes que eu pudesse alertá-la do monstro à frente.

A adrenalina correndo em minhas veias não me permitiu mensurar o quão fodidos estávamos. Porém, quando o segundo krenger deu mais um passo, amassando o carro por completo e jogando Karen para longe, estava mais do que claro que todo o plano havia ido para o ralo. Daniel correu até a Imperatriz, ajudando-a a levantar enquanto eu permaneci parada. Eu não conseguiria me mover, estava paralisada como se meus pés houvessem sido grudados com piche ao chão.

Os meltas que se encaminhavam em nossa direção começaram a chegar perigosamente perto da área em que estávamos. Aparentemente, tudo o que restava para ser feito era aceitar a derrota e rogar para que a morte viesse de forma rápida. O que, a julgar pelo olhar demoníaco que Sarabi lançava em minha direção, seria a última coisa que aconteceria.

O krenger fez menção a movimentar suas garras até Karen e Daniel, que tremiam de horror a apenas alguns metros de mim.

— Pare! — A voz de Merrick ordenou antes que o segundo monstro pensasse em dar mais algum passo. — Esses não são aperitivos para seu paladar.

Antes que eu pudesse executar qualquer ação, fui atingida no rosto por algo que posteriormente identifiquei como o punho de Sarabi. O mundo oscilou e senti o gosto de sangue invadir minha boca, contudo, eu estava com muito medo para sentir qualquer tipo de dor. Seus dentes brancos cintilaram contra a luz da lua quando Sarabi segurou-me pelo pescoço, me erguendo vários centímetros acima do chão. Tentei agarrá-la com a mão esquerda, mas apenas as pontas dos meus dedos alcançaram sua pele gelada.

— Vocês o mataram — sibilou com todo o ódio destinado apenas a quem perdera alguém por quem tinha muito apreço. Tentei desesperadamente respirar mas parecia que todo o ar presente em meus pulmões havia sumido. Minha visão começava a escurecer na periferia, enquanto eu sentia que iria apagar mais uma vez.

— Largue ela, dentuça. — Aquela voz pertencia a Karen e eu não precisava olhar em sua direção para saber que ela estava com o arco e flecha apontado para Sarabi. — Ou a próxima morte será a sua.

— Sarabi — a voz de Merrick estava tomada por divertimento. — Essa não é uma escolhida, o que você está fazendo?

A melta estreitou seus olhos lilases quando abriu a mão, fazendo com que eu despencasse como uma jaca madura aos seus pés.

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