45. Terra e ferro - Briseis

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Sopesei as consequências de invocar meu poder enquanto esperava para ver se as estátuas-vivas iriam atacar, até que percebi que elas estavam meio... enroladas ao tentar chegar até nós. A Justiça apoiava sua espada no chão usando-a para se locomover como se fosse uma bengala. Hermes utilizava o caduceu com finalidade igual enquanto levava as mãos às costas e se alongava.

— Não invoquem os poderes, corram com toda força que puderem! — ouvi a voz de Karen implorar do outro lado.

Paralisei. Eu tinha consciência que minhas chances de escapar correndo eram praticamente nulas, pois, não possuía a capacidade de regeneração ou a força que a magia dava aos outros.

Daniel fez menção a se virar e correr, mas então pareceu lembrar de mim e da minha inutilidade humana.

— O rio, Briseis! Pule da ponte e eu te pegarei lá embaixo — gritou.

Nenhum músculo meu conseguia mover-se, eu estava perdida.

— Os Grandes do Passado me levem! — exclamou uma das estátuas com voz metálica e estridente, fazendo todos os pelos da minha pele se eriçarem. — Como vocês demoraram.

Meus olhos alcançaram os de Daniel que ainda estava a uma curta distância de mim. Eles expressavam medo e confusão, especialmente quando notou o quão perto das estátuas eu estava e como não estava disposta a pular no rio.

O que eu poderia fazer além de fugir?

— Nem mais um passo! — gritei para as estátuas que batalhavam para conseguir avançar um pouco mais.

Eu não sabia se meu poder de ataque seria suficiente para destruir aquelas coisas, mas achava que conseguiria retardá-las mais do que elas já estavam. Embora uma parte da minha mente continuasse considerando imediatamente as consequências daquela ação.

— Calma, menina — pediu a Hermes. As cobras em seu caduceu se esgueiraram até o muro que margeava a ponte, uma de cada lado. — Você não vai querer usar isso. Ah, não, os meltas estão bem espertos a essa hora.

Olhei para os outros e vi que os meninos ainda estavam perto da ponte, esperando que eu pulasse ou corresse. Eu queria ir atrás deles, queria tentar me salvar. Mas aquele outro medo era maior, ele me petrificava e impedia que eu continuasse.

— Briseis, corra! — gritou Daniel voltando para me buscar, com a mão estendida para mim.

Continuei sem conseguir me mover, cada pequeno grupo muscular tremendo incontrolavelmente.

— Quanto medo vocês exalam — ponderou Hermes. A ponta do caduceu fazendo som ocos no asfalto enquanto ela resfolegava na tentativa de chegar até nós. — Desde 1917 já vi muitos tipos de medo. O medo do pescador que tem a família com fome em casa, o medo da adolescente que vem do Recife Antigo sozinha durante a madrugada.

— Não esqueça do medo dos ladrões que andam com facas e armas, Hermes — lembrou Justiça. — Eles causam medo, mas também o tem acima de tudo. Gosto de os observar...

— Vamos lá — sussurrou Daniel, em pânico. — O que é que você tá esperando?

— Pular no rio não é necessário, escolhidos — Justiça estalou a língua e apoiou as duas mãos na grande espada. — Além de não ser necessário, os seres aquuaninanos são maldosos nessa área. Eles adorariam carne de nixge, em especial como vocês...

— Eles ainda não viram que estamos do lado deles, Justiça — disse Hermes com divertimento, as duas serpentes silvando em concordância.

— Ao nosso lado?

Estreitei os olhos.

— Vocês querem uma prova, não é? — riu a estátua com o caduceu. — Pois bem, se eu e minha irmã desejássemos matar você pequena... — Ela parou por um segundo confusa. — Não sei, Justiça, não consigo identificar o que essa garota é.

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