9. Culpas - Heitor

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Oh! Grandes do Passado, como chegastes aqui e o que aconteceu convosco?! — ouvi a conhecida voz de Arminda exclamar logo ao meu lado. — Te machucaste! Eu disse que eras para ter cautela.

Eu ainda estava chorando. As queimaduras da minha perna começavam a arder, e meu braço parecia estar torcido.

Olhei ao redor, me sentindo extremamente aliviado ao perceber que estava sentado no interior de um carro, com minha guardiã no banco do motorista olhando atônita para mim. Não tentei imaginar como diabos havia chegado até ali, outras coisas queimavam minha mente.

— Foi horrível, Arminda — balbuciei. — A pior coisa que já vi em toda a minha vida.

— O que houve? — questionou irritada.

— Desculpa, antes precisaremos dar o fora daqui — arfei. — É perigoso ficar.

Agora nós sabemos onde você está. Todos nós.

— Não me moverei até que me contes o que houve contigo.

— Arminda, calma — falei, mas ela continuava me avaliando com os olhos nervosos. — A senhora precisará escutar com atenção, por favor. Mas vamos embora agora, eu imploro.

Vi em seus olhos que ela compreendera a confusão em que estávamos metidos no instante em que as palavras saíram de minha boca. Então mais do que depressa a guardiã arrancou com o carro. Pude jurar que ainda conseguia ouvir ao longe as vozes chamando por mim.

— Como conseguiu tudo isso? És um hanariano, não podes ter te queimado. A menos que... — seus olhos se arregalaram — forças também hanarianas houvessem te machucado.

— Aquelas chamas pareciam bem normais — retruquei, sem querer deixar transparecer o quão nervoso estava.

— Então seus poderes não foram revelados? Como conseguiu sair de lá vivo e aparecer aqui do nada?

O terror estava estampado em seu rosto.

— Olhe a senhora conseguiu falar toda uma frase na linguagem de pessoas normais... — tentei divagar.

— Heitor Meskder! — exclamou Arminda colérica. — Eu preciso saber o que aconteceu. Podes estar correndo grande perigo.

Ela estava certa, todos nós estávamos ferrados. Mas antes que eu pudesse falar algo, comichões em minha pele me chamaram a atenção.

— Arminda, veja só isto...

Sem nenhum motivo minhas feridas estavam sendo curadas. O braço voltou ao normal, não havia mais dor. Eu me sentia pronto para outra briga com esqueletos. Bem, talvez não fosse para tanto.

— Esperas, se tuas feridas estão a ser curadas, isso indica que a força vital está retornando... — Seu rosto adquiriu um tom pálido doentio. — Então ela foi roubada!

— E com força vital roubada...

— Mais Meltas no mundo humano.

Ela começava a falar de modo histérico.

— Hãn... isso é péssimo.

— Heitor, tu irás me dizer agora o que se passou!

O medo contido na voz dela me assustava. Embora o que aconteceu naquele maldito buraco ainda me aterrorizasse, eu precisava deixar Arminda a par de tudo. Então contei-lhe sobre o porão e a descoberta dos meus poderes; falei ainda da cura súbita e fugaz de Carla, a forma como pude controlar o fogo, os esqueletos sugadores de força vital e, por último, o mago deformado e em como ele aparentemente usara Carla para chegar até mim. E, por fim, como o melta queimara a garota como se ela não passasse de um mero pedaço de madeira.

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