5. A excursão - Heitor

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Na manhã do meu aniversário, enquanto caminhava pelos corredores da escola em direção à sala, não pude deixar de notar os olhares atentos dirigidos a mim, e os cochichos que se elevavam nas rodinhas de alunos, à medida que eu passava.

— Eu sempre o achei lindo, mas hoje ele está sensacional! — ouvi uma garota dizer.

Fixei os olhos nos sapatos e me dirigi à sala o mais rápido que pude. Fui submetido a mais uma onda murmúrios e risadinhas antes de conseguir sentar em minha cadeira.

Após infinitas aulas de matemática, o sinal para o intervalo tocou.

Para meu azar, quando saí da sala a primeira pessoa em meu campo de visão foi Carla. Ela acenou para mim de longe e correu para me parabenizar.

— É impressão minha ou você ganhou de presente um dia no spa? — perguntou me avaliando por baixo dos longos cílios.

— Sobre o que está falando?

Eu realmente esperava que as mudanças fossem tão sutis quanto Arminda fizera parecer, embora soubesse que era improvável.

— Não é nada. Você só parece ainda mais quente hoje — ela disse, segurando com força os meus ombros.

Olhei para os lados esperando que ninguém tenha ouvido aquilo.

— Mas e então, Heitor? Você vai?

Para minha sorte Carla aparentava perceber o quão sem graça eu havia ficado.

— Para onde exatamente? — perguntei um pouco atordoado e tentando parecer frio.

Seria hoje que colocaria um fim a toda àquela história. Eu também havia passado por uma recente sessão infindável de parabéns, abraços, bajulações e falsidade, aquilo contribuíra para meu atual estado de humor.

— Você marcou de ir com a gente para a excursão no porão, lembra?

Sim, eu lembrava. Como esquecer depois que toda a sala passou quatro horas falando apenas sobre o assunto? Eu realmente estava espantado por alguém da direção não descobrir nosso esquema.

— Ah, claro. Vamos lá? — chamei. — Eu não sei onde fica.

Na verdade, eu não estava com a mínima vontade de ir a esta tal "excursão". Tudo me cheirava a encrenca, e encrencas eram as coisas que eu menos precisava naquele instante. Além disso, eu teria que ficar perto dela e aquilo me fazia mal.

— O pessoal está nos esperando lá do lado de fora, perto dos portões — falou aguardando-me pendurar a mochila nas costas, enquanto ela ajustava uma câmera fotográfica que tinha nas mãos.

— Para quê isso? — perguntei.

— Hãn... Os meninos querem uma lembrança da aventura.

Carla enfiou a câmera rapidamente atrás das costas e segurou em meu braço;

Caminhamos pelos corredores silenciosos da escola até nos depararmos com um grande grupo que, com toda certeza, estava ansioso por uma boa aventura.

Fora as pessoas que iriam até a "excursão", havia muitas outras pessoas presentes no prédio do colégio, o que sugeria que seríamos facilmente descobertos se não tomássemos cuidado.

— Não se preocupe, — disse ela como se ouvisse meus pensamentos — encontramos um lugar por onde não seremos vistos. Nós vamos entrar e sair sem sermos surpreendidos por ninguém.

— Ótimo.

Por nenhum motivo aparente, eu havia sido atingido por um súbito mal-estar. Sentia minha pele quente e minha cabeça rodando. Seria muita falta de sorte da minha parte se eu ficasse doente logo naquele dia.

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