49. Dores - Briseis

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— Pare! — ouvi Heitor gritar em plenos pulmões pela primeira vez, interrompendo a movimentação do melta — Por que está fazendo isso?! Ela não representa perigo para você. Eu sou o Imperador, eu posso lhe destruir.

— Destruir? — Merrick deteve-se olhando para Heitor, seus olhos brilhavam com divertimento. — Parar? Mas eu estou apenas começando, reizinho de merda. Acredito que vocês mereçam saber o porquê de ainda estarem vivos. Inclusive essa coisinha insignificante por quem nutre tanto apreço.

Merrick me empurrou em direção à beirada do muro de ruínas sobre o qual estávamos. As ondas rebeldes molhavam os fios dos meus cabelos à medida que o mar parecia querer me tragar. Logo, meus joelhos começaram a tremer instantaneamente, ondas de náuseas se deslocavam do meu estômago até os dedos dos pés.

— Tenho aqui a pedra essencial da primeira escolhida, dentro dela, está o poder elemental e essência que a criança portava. Dispensando totalmente a presença de mais um adolescente irritante aqui — Merrick falou, erguendo uma espécie de octaedro de cristal com uma das mãos e segurando-me com a outra.

Havia mais uma escolhida?

— Mas... é uma magia proibida — Daniel falou.

— Digamos que minha presença aqui também seria. Mas onde estou neste momento?

— Como conseguiu? — Heitor perguntou, confuso.

— Um bebê não precisa de muito para ser convencido — continuou o mago. — Mas adolescentes... Ah, adolescentes são odiosos. Nós poderíamos passar a noite inteira aqui. Eu disponho de uma ampla gama de artifícios para receber a essência de vocês. Felizmente, observei que trouxeram um integrante a mais para a missão. Uma humana! Ela não me parece muito normal, já que consegue nos ver. Mas quantos membros precisará ter para gritar? Concorda, Imperador?

Ele balançou o objeto, e a coisa cintilou sob a luz do luar, enviando pontos de luz pelo meu rosto.

— Primeira escolhida? — repetiu Karen. — Mas a primeira escolhida está...

— Morta? — completou o mago. — Ah, sim, eu mesmo me encarreguei disso.

Nos entreolhamos, compartilhando silenciosamente a certeza de que Merrick estava enganado.

Ou pior: talvez nós estivéssemos.

E se a criança morta pelo mago no dia do fechamento das dimensões fosse a real escolhida? Isso explicaria a ausência da abertura do portal e por que eu ainda não possuía um terço do poder dos outros. Mas então, se eu não era uma hanariana, a última integrante da missão, quem ou o quê eu era?

Aparentemente a mesma pergunta viajou pela mente de todos os outros, a julgar pela maneira assustada com que olhavam para mim sob suas amarras.

— Supondo que o que diga é verdade — Daniel observou, encarando o octaedro de cristal que possuía em seu interior uma pálida luz cinzenta. — Qual era o poder elemental da última integrante? Fumaça?

Merrick ignorou Daniel como se ele fosse um mero inseto fazendo barulho em seus ouvidos, enquanto vislumbrava animado o objeto em sua mão, como se ali estivesse a resposta para todos os seus anseios.

— Onde essa coisa entra na história? — questionou Karen.

— Até o final da noite a essência e magia elemental de cada um de vocês estará aqui, acompanhando a escolhida morta — informou Merrick, como se falasse sobre o que comeria no jantar.

— Você não vai me fazer ceder minha magia elemental, seu monstro vil — a Imperatriz olhava para o mago tentando ocultar qualquer indício de medo, mas ele estava ali, claramente perceptível, até mesmo para mim que não possuía poder algum para identificá-lo.

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